Há mais meandros de poder e hierarquia em uma casa legislativa do que em uma organização militar. Alguém que não seja do ramo sabe dizer o que diferencia tanto um líder do governo dos demais deputados e senadores de partidos também governistas? Pois os tais líderes são como popstars no universo das excelências.
Tanto que a presidente Dilma Rousseff causou furor ao decidir trocar suas lideranças no Congresso, segunda-feira. No Senado, saiu Romero Jucá (PMDB-RR), herança dos tempos de FHC que estava há incríveis dez anos seguidos na função, para a entrada de Eduardo Braga (PMDB-AM).
Na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), herança “apenas” da era Lula, foi substituído por Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Para compreender os efeitos das mudanças é importante entender a simbologia desses cargos.
Na prática, os líderes têm vantagens regimentais (como o direito de falar quase livremente nas sessões e de orientar o voto da bancada) que fazem bastante sentido. Também dispõem de uma estrutura melhor, com mais funcionários e gabinetes maiores.
Mas esses diferenciais não são o que mais seduz os parlamentares. É a proximidade com o Poder Executivo, ou melhor, com os cofres públicos. Ser íntimo do governante de plantão é como uma chave para a liberação de recursos para currais eleitorais e para acesso a cargos mais graúdos no governo.
No mesmo dia em que Dilma acertava as trocas na capital federal, João Cláudio Derosso (PSDB) renunciava à presidência da Câmara de Vereadores de Curitiba após 15 anos consecutivos no cargo. Imediatamente, sete colegas se lançaram candidatos à vaga. O curioso é que, nos últimos anos, Derosso vinha sendo mantido por unanimidade.
O presidente da Câmara é o chefe do legislativo municipal e é evidente que esse é um posto relevante (e de liderança). Um vereador de oposição nessa cadeira, por exemplo, teria armas para fiscalizar as ações do prefeito de cabo a rabo. Já um governista poderia montar a pauta de votações de acordo os projetos prioritários da prefeitura.
Assim como a turma do Congresso Nacional, entretanto, o que os postulantes ao espaço de Derosso realmente querem é sentir um gostinho do Executivo. Aparecer como padrinhos de grandes obras, como gente que faz alguma coisa. E, obviamente, garantir a fidelidade do eleitorado.
O triste é que essa estratégia funciona.
Vereadores, deputados e senadores não estão nem aí de posar como capachos de prefeitos, governadores e presidente porque, afinal de contas, o que conta é agradar as “bases”, levar recursos para o seu bairro ou cidade.
Se poucos eleitores sabem exatamente o que faz um vereador, menos ainda estão interessados na definição de como deveria agir um líder. O que vale é o asfalto na frente de casa, mesmo que esse seja um direito de todos. Se a rua do vizinho não tem, ele que procure alguém melhor para
votar.
De preferência, uma daquelas lideranças.
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