O inverno das convenções partidárias acabou e a primavera da eleição presidencial chega com um cenário praticamente inalterado. Coloque as paixões de lado e encare a realidade: até o momento, apenas dois exércitos cruzaram o rubicão. Jair Bolsonaro (PSL) e o poste de Lula (PT), que atende pelo nome de Fernando Haddad, iniciam a hora da verdade como favoritos.
Ao contrário do que sugeriu Ciro Gomes (PDT), o plano petista está distante de uma alucinação. Assim como Bolsonaro deixou de ser um reles aventureiro falastrão, como vinha sendo tratado até aqui. Por mais amalucadas que possam parecer, as principais jogadas que ambos os lados fizeram até agora foram milimetricamente calculadas.
A começar por Bolsonaro, que namorou o PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto, mas não tão intensamente que possa ser acusado de amor pela velha política do Centrão, que acabou no altar com Geraldo Alckmin. O capitão da reserva ficou sem tempo de tevê, mas preservou o discurso de candidato outsider. Ao final das convenções, fica claro que ele sempre soube que chega ao segundo turno se se dedicar ao que realmente importa: manter os eleitores que conquistou até o momento.
A estratégia fica evidente em suas primeiras aparições relevantes como candidato, nas entrevistas no Roda Viva e na Globonews. Engana-se redondamente quem acha que ele foi “desmoralizado” por defender torturadores, ditadores e afrontar homossexuais. Bolsonaro foi lá justamente para falar isso – e jogar para a própria torcida.
Fechou esse ciclo com uma chapa pura verde-oliva. A escolha pelo general Hamilton Mourão como vice é uma reafirmação da essência dos valores bolsonaristas (além de um casório com o modestíssimo PRTB de Levy Fidélix). É um discurso muito bem fechado, que tem sérias dificuldades para convencer a maioria do eleitorado, mas que parece ter uma parcela de apoiadores capaz de mantê-lo na dianteira da disputa.
De acordo com a mais recente pesquisa presidencial, da XP/Ipespe (divulgada no dia 3 de agosto), Bolsonaro lidera nos três cenários em que Lula não aparece como candidato, com 20% a 22% das intenções de voto. Quando Lula é listado, o petista chega a 31%, e Bolsonaro fica em segundo com 19% (a margem de erro é de 3,2 pontos porcentuais para mais ou menos).
Sem o ex-presidente, o cenário mais difícil para Bolsonaro é justamente quando Fernando Haddad é apresentado como “apoiado por Lula”. Nesse caso, Haddad salta de 2% para 13% das intenções de voto, numericamente em segundo lugar, atrás de Bolsonaro, com 20%.
Haddad não é e nunca foi uma viagem dissociada da realidade – candidatos que jogarem com essa interpretação têm chances enormes de entrarem pelo cano. Sob as ordens de Lula, o plano B do PT está saindo do forno com pitadas de PCdoB, PSB e até da extrema-esquerda do PCO. É um lance calculadíssimo, sem blefe: criar comoção a partir da impugnação da candidatura de Lula e, a partir disso, transferir o máximo de votos possível para Haddad.
Enquanto esse teatro é ensaiado arduamente pelo lado esquerdo do campo de batalha, que ainda conta com a fragilização de Ciro, a poderosa coligação de Alckmin é forçada a gastar todos os seus cartuchos para superar Bolsonaro. Será uma briga dura.
Os tucanos têm chance de romper a aura que ronda o “mito” de Bolsonaro? Essa é a grande batalha que veremos ao longo das próximas semanas. Palpite: se suportar até 7 de Setembro, Bolsonaro resiste até o fim do primeiro turno.
Se resistir, teremos uma mudança de quadro: Alckmin mudará o canhão de lado para tentar desconstruir Haddad. Em qualquer dos dois cenários, será a ultracoligação do PSDB que precisará mostrar a que veio contra forças que, surpreendentemente, ainda não deram sinais de que vão ruir.
Metodologia
A pesquisa XP/Ipespe foi feita por telefone, entre os dias 30 de julho e 1º de agosto, e ouviu 1 mil pessoas em todas as regiões do país. O intervalo de confiança é de 95,45%, o que significa que, se o questionário fosse aplicado mais de uma vez no mesmo período e sob mesmas condições, esta seria a chance de o resultado se repetir dentro da margem de erro estabelecida. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo. O levantamento está registrado no TSE pelo código BR-06820/2018. A pesquisa foi encomendada pela XP e realizada pelo Ipespe.