A chave que abre as portas para a definição do próximo presidente é a data de julgamento do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Uma análise de comportamento da 8ª Turma, que julga em segunda instância os recursos da Lava Jato, mostra que o tempo médio entre o término dos votos do desembargador João Pedro Gebran Neto e o julgamento em si é de 73 dias. E como Gebran Neto concluiu o voto sobre o caso tríplex na última sexta-feira, a contagem regressiva está em pleno andamento, o que permite prever (contando o recesso judiciário) que a decisão sai entre março e abril do ano que vem.
Mas por que isso é tão relevante? 1 – Se o colegiado de Porto Alegre confirmar a condenação com a manutenção da pena de 9 anos e 6 meses de prisão imposta por Sergio Moro, Lula ele tem chances de ir para a cadeia imediatamente após a decisão; 2 – Pela Lei da Ficha Limpa, a condenação em segunda instância o tornará inelegível; 3 – A possível condenação vai causar um furacão no calendário oficial das eleições.
As partes 1 e 2 da resposta são bem manjadas. A 3, no entanto, é a mais nebulosa (e mais interessante). Nas palavras do diretor do instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, a saída de Lula da disputa, em 2018, será similar à queda do avião de Eduardo Campos, em 2014. Na última eleição, a tragédia revirou a disputa imediatamente: Marina Silva, que assumiu o lugar de Campos, saltou para o primeiro lugar nas pesquisas (é verdade que não se sustentou, mas a ascensão-relâmpago mudou completamente o tom da disputa).
Fique de olho no prazo das filiações partidárias
Voltando ao calendário, 7 de abril é o último prazo para filiações partidárias e desincompatibilização de cargos públicos (como o de ministro de Estado, juiz e procurador). Ou seja, a última janela de oportunidade para termos um outsider, como o apresentador Luciano Huck e Sergio Moro (frise-se que ambos já garantiram que estão fora dessa). Trabalhar com essa data é importante inclusive para o PT – se Lula dançar, seria uma alternativa lançar um nome completamente novo, apadrinhado por ele, para se camuflar e, ao mesmo tempo, captar o espírito do “chega dos mesmos” pós-Lava Jato.
Entre março e abril, há outro marco temporal relevante: a janela para troca de partidos para deputados e senadores. Será um período crucial para definir a musculatura das coligações que vão apoiar os principais candidatos. O Patriota de Jair Bolsonaro, por exemplo, espera saltar da lanterna no ranking de bancadas no Congresso (tem apenas um deputado atualmente) para o G10, com pelo menos 25 parlamentares.
Cálculos como esse podem variar estratosfericamente num cenário sem Lula. Congressistas (ainda mais os atuais) podem parecer inúteis eleitoralmente, mas são fundamentais para o que os políticos gostam de chamar de “capilaridade”. Ou seja, tornam candidatos mais competitivos em rincões onde ele não teria pernas para chegar sozinho.
E o limite para Lula se tornar inelegível?
Por último, há o prazo para registro de candidatura: 15 de agosto. Em tese (a lei eleitoral é um terreno para lá de caudaloso), se Lula não tiver sido condenado por um colegiado até essa data, estará elegível. Depois disso, uma saída da campanha teria contornos ainda mais dramáticos e imprevisíveis.
E, afinal de contas, quem seria o principal beneficiado com a saída de Lula? Essa é uma resposta impossível de ser respondida. É bom voltar a atenção, contudo, à hipótese do “novo de Lula”. Quem já elegeu Dilma como poste pode tirar da cartola qualquer jogada capaz de pegar o Brasil no contrapé.
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