
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Passada a posse, o 3 de janeiro começa com um ponto de interrogação na cabeça dos brasileiros. Como será a gestão Dilma Rousseff? Há um misto de ansiedade e curiosidade, fomentado pelo vácuo do pós-Lula e pela falta de experiência da nova presidente em cargos eletivos.
Há poucas certezas, mas uma ficou evidente após o sábado chuvoso em Brasília: Dilma não é (nem será) Lula. Tampouco é a pedra de gelo estigmatizada pelos adversários. A “presidenta”, como ela própria prefere, também se derrete.
Foi curioso vê-la embargar a voz justamente depois de falar, no Congresso Nacional, em estender a “mão aos partidos de oposição e às parcelas da sociedade” que não a apoiaram na disputa eleitoral.
Ao prometer ser a “presidenta de todos os brasileiros”, lacrimejou e arrancou aplausos de todos os presentes no plenário da Câmara dos Deputados. Inclusive dos poucos oposicionistas, como o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), que estava na mesa em que Dilma discursou.
Pelo menos nas palavras há um distanciamento do radicalismo recente de Lula, que em 2010 falou até em extirpar o DEM da política. E, embora a esperada exaltação ao governo anterior tenha se confirmado nos dois pronunciamentos da posse, ela também baixou o tom ufanista.
Acertou principalmente ao admitir que a tarefa de erradicar a miséria no Brasil está longe de ser cumprida.
“Uma expressiva mobilidade social ocorreu nos dois mandatos do presidente Lula. Mas, ainda existe pobreza a envergonhar nosso país e a impedir nossa afirmação plena como povo desenvolvido”, disse. Longe de ser uma crítica, é a constatação de um fato que não pode ser mascarado.
Alguns outros detalhes da cerimônia de posse também ajudam a estabelecer diferenças entre os dois presidentes. Houve muito mais emoção relacionada à despedida de Lula do que à chegada de Dilma. Quando ele vai para os braços do povo, é algo natural, sem ensaio.
Engraçado que o público na Praça dos Três Poderes – bem mais da metade formado por petistas de carteirinha – sabia perfeitamente como atuar com Lula. Tinha músicas na ponta da língua, conhecia de antemão o momento para riso e choro. Com
Dilma, tudo acontece como se fosse um aprendizado de torcer para outro time.
Sem cair no óbvio, é correto dizer que Lula é a emoção e Dilma é a razão. Mas há algo mais profundo – digamos que Lula sabe usar a própria racionalidade para cativar emocionalmente as pessoas. É algo nato, mas que foi sendo aperfeiçoado ao longo dos oito anos no Palácio do Planalto, mais os 13 anos anteriores em tentativas frustradas de se eleger.
Dilma só disputou a eleição do ano passado, é natural que não tenha desenvolvido o traquejo popular. Poucos se dão conta, mas há algo bem positivo nisso: ela não parece inebriada pelo poder de conduzir as massas. A nova presidente gosta mais da parte chata do cargo – ou seja, do governo propriamente dito.
Alimentada pelas dúvidas sobre a gestão, existe também a incógnita sobre como os brasileiros vão digerir o Brasil sob nova direção. Lula aprendeu a conduzir a opinião pública no “gogó”, para o bem e para o mal, mas apenas porque a maioria das pessoas aceitou entrar no jogo. Sem ele, como ficam as regras?
Depende do grau de maturidade de ambos os lados. O Brasil não precisa de um pai para os pobres, mas de um presidente competente. Tanto quanto a erradicação da miséria, é esse o desafio mais árduo que Dilma tem pela frente.
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