Apoiadores de uma intervenção militar apareceram em raros momentos dos protestos de junho de 2013, em alguns atos pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, até que agora formaram um contingente nada desprezível na greve dos caminhoneiros. Há cinco anos, quando uma faixa pró-golpe aparecia na rua, fazia sentido entendê-la como um movimento paranoico de minoria. Hoje, é um erro menosprezar essas manifestações.
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Mas por que tantas pessoas defendem a volta da ditadura? É como um acidente de avião, nunca o motivo é um só. Em resumo: a percepção de insegurança só cresce, a avaliação das instituições públicas e dos políticos é um desastre, enfrentamos um escândalo de corrupção que não tem fim e a sensação de impotência diante de tudo isso faz com que as pessoas depositem a fé no milagre de que uma solução externa é possível.
O tempero desse caldo, contudo, tem um ingrediente que muda completamente o sabor do prato. Os três últimos presidentes civis, Lula, Dilma e, especialmente, Michel Temer, trouxeram os militares para um baile que eles não queriam dançar – mas os obrigou a tirar a farda de gala do armário.
Só no Rio de Janeiro, o Exército foi chamado para combater a violência 13 vezes desde 2007, primeiro ano do segundo mandato de Lula.
Quatro desses pedidos de socorro se concentraram entre agosto de 2016 e julho de 2017, justamente o começo da gestão Temer, o presidente mais impopular da história. Sem contar a intervenção federal das Forças Armadas, vigente desde fevereiro de 2018 e que, de brinde, paralisou a tramitação de emendas constitucionais como a da reforma da Previdência.
Além disso, nunca antes na história democrática deste país, um general participou de tantas entrevistas coletivas no Palácio do Planalto. Ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Temer, Sérgio Etchegoyen está na linha de frente de qualquer problema do governo. E na “jogada” de criação do Ministério da Segurança Pública, Temer nomeou pela primeira vez em 19 anos um militar para o comando Ministério da Defesa: o general Joaquim Silva e Luna.
Outro general, Antonio Hamilton de Mourão, se sentiu livre para, na ativa, falar sobre intervenção militar. Foi para a reserva e, na cerimônia da aposentadoria, elogiou um torturador da ditadura, criticou a intervenção no Rio, a classe política e declarou voto em Jair Bolsonaro (PSL).
Agora, no desespero da greve dos caminhoneiros, Temer apelou mais uma vez para os militares, que, por sua vez, são idolatrados pelos manifestantes.
A dependência é tanta que, dentro do governo, recorrer às Forças Armadas ganhou o apelido de solução “Posto Ipiranga”. É uma piada em relação à propaganda na qual um sujeito responde “Posto Ipiranga” para qualquer pergunta.
Se você fosse o presidente da República, dificilmente acharia graça, correto? Temer não parece ter o melhor senso de humor do mundo, assim como parece não desistir do flerte com os militares. A cada dia que passa, falar em intervenção deixa o presidente com um sorriso mais amarelo.
Certamente, ele não será o último a rir da brincadeira.
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