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Privatizar ou não, eis a eleição
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Marcelo Elias-arquivo/ Agência Gazeta do Povo
O governo paranaense refinanciou uma dívida de R$ 5,2 bilhões do Banestado com a União, pelo prazo de 30 anos. Após 12 anos, o estado deve R$ 9 bilhões

Um amigo que trabalhava na saudosa Telepar teve uma difícil missão em 1991. Coube a ele fazer um estudo de viabilidade sobre a implantação da telefonia celular no Paraná. Até hoje se orgulha da tarefa, não fosse por uma previsão errada – o estado teria 300 mil celulares em 2010.

De acordo com um estudo divulgado pela Agência Nacional de Telefonia na sexta-feira, os paranaenses possuem hoje 10.446.504 aparelhos. Ou seja, uma quantidade 35 vezes maior do que a estimativa feita pelo colega. Mas, naquela época, a análise não era necessariamente errada.

Os números servem para ilustrar um pouco da história das privatizações no Brasil e no Paraná, tema recorrente das atuais disputas eleitorais. Afinal de contas, essas negociações foram boas ou ruins para a população? Quem responde simplesmente sim ou não está tentando enganar o eleitor.

Ao caso da Telepar. Há 13 anos, quando a empresa foi negociada, a “posse” de uma linha fixa no estado custava US$ 3 mil e a habilitação de uma móvel, US$ 400. Hoje, graças à livre competição do mercado, o consumidor só paga pelo serviço.

Se tudo continuasse como nos anos 1990, isso seria inimaginável. Não que a Telepar fosse uma bomba, mas não tinha capacidade de investimento compatível com a demanda. Teríamos de nos contentar com o teto de 300 mil celulares.

Isso quer dizer que toda privatização é uma dádiva? Devagar com o andor porque cada caso é um caso. Livrar-se de empresas em setores nos quais há monopólio não é lá muito inteligente.

É o que aconteceria com a Copel. Digamos que ela realmente tivesse sido privatizada, em 2000. Nada leva a crer que o grupo que ficasse com a empresa investiria nela. Como não há concorrência, seria uma moleza conseguir lucro sem ampliá-la.

Há vários exemplos de empresas estatais que são geridas com finalidade social, como a Copel. A Petrobras é uma das poucas fontes de investimento real do governo. Já as economias do orçamento próprio da União são canalizadas para equilibrar as contas e fazer superávit.

E a venda da Vale? Segue a mesma regra. Privatizada em 1997, teve de se virar com a concorrência e só se transformou na segunda maior mineradora do mundo porque investiu. Na época, tinha 10,9 mil funcionários, número que subiu para 62.490 uma década depois.

Sempre há o argumento de que o Estado pode sim implantar uma gestão profissional e garantir suas empresas. É verdade, mas não é a prática. Se por um lado Lula acertou com a Petrobras, errou feio com os Correios.

No Paraná, Osmar Dias (PDT) elegeu o Banestado como bandeira para colocar a pecha de privatista em Beto Richa (PSDB). O tucano não tem se constrangido em afirmar que, sim, votou favoravelmente à venda do banco quando era deputado estadual. Na verdade, o banco era mesmo um buraco negro.

Ao falar sobre o tema, o último presidente do Banestado, Reinhold Stephanes, garante que essa discussão une o nada ao lugar nenhum. E lembra que, segundo investigações do Banco Central, a má gestão começou em 1985, o que significa que atingiu os governos de José Richa (pai de Beto Richa), Alvaro Dias (irmão de Osmar), Roberto Requião (apoiador de Osmar em 2010) e Jaime Lerner (padrinho de Beto na campanha para governador de 2002).

Por essas e outras é tão estranho que o debate político sobre privatizações continue tão pueril. Seria bem mais interessante ouvir propostas de como preparar as estatais para o futuro. O único exemplo a seguir é que a verdade não é uma só.

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