No auge das denúncias que o afastaram da Presidência da República, Fernando Collor de Mello fazia suas corridas matinais em torno da Casa da Dinda com a mensagem “O tempo é o senhor da razão” estampada na camiseta. O recado mais parecia uma profecia: independentemente da gravidade das maracutaias em que estivesse envolvido, um dia ele retornaria ao cenário político nacional.
Pode não ter sido uma volta triunfal, mas Collor é hoje senador e um prestimoso aliado do presidente Lula. Nada ruim para quem saiu escorraçado do Palácio do Planalto há menos de duas décadas.
Mais do que isso, o legado do alagoano entrou para sempre na cartilha dos políticos brasileiros. Entra ano, sai ano, os escândalos avolumam-se, mas as excelências que comandam o país continuam as mesmas.
Desde as últimas eleições nacionais, em 2006, há uma série de casos para comprovar o sucesso da tese. Em 2007, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi o pivô de um furacão de denúncias que envolviam uma filha fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso.
Renan não conseguiu comprovar de onde vinham os recursos para pagar a pensão da menina, mas escapou duas vezes da cassação em plenário. Renunciou ao cargo para encerrar a polêmica e desde o ano passado assumiu a liderança do PMDB na Casa, um dos cargos mais poderosos do Congresso Nacional.
Graças ao esforço pessoal de Renan, o também peemedebista José Sarney venceu as eleições para a presidência do Senado no ano passado. Apesar de ser o protagonista de pelo menos 11 escândalos divulgados pela imprensa nacional ao longo de 2009, Sarney manteve-se impassível no cargo e hoje pouco se fala em Brasília sobre os casos.
Agora é a vez do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), usar e abusar da velha máxima collorida. Filmado recebendo dinheiro vivo de caixa dois durante a campanha de 2006, ele nega até o último suspiro qualquer participação no mensalão de Brasília – mesmo depois de a polícia achar dinheiro de propina marcado em sua residência.
Arruda apelou na semana passada para o discurso de que, após as denúncias, ele tem sido culpado de tudo o que acontece na capital – até de ter recebido o prêmio de R$ 75 milhões da Mega Sena. Foi mais além e disse que perdoaria aqueles que o acusam, até porque quer ser perdoado dos seus pecados.
O fato é que o auge do escândalo Arruda realmente já passou e que em Brasília é mais fácil ver gente falando sobre os reforços do Flamengo do que da crise no governo. Por incrível que pareça, não bastaram as imagens nem outras dezenas de provas para o próprio governador tomar a iniciativa de largar o osso.
Com todo esse histórico (há dezenas de casos similares pelo Brasil afora), fica difícil dizer que Arruda, Sarney e companhia estão errados. Os vilões dessa história são os eleitores em geral, que não estão nem aí para quem colocam no poder.
No dia 29, a Gazeta do Povo publicou um levantamento do Paraná Pesquisas que apontou que 88% dos paranaenses não sabem em quem vão votar para deputado em outubro. Além disso, quem lidera a disputa para a Presidência da República em pesquisas espontâneas feitas em todo país é o presidente Lula.
Ora, se o povo não sabe que o atual presidente não pode se candidatar nem se preocupa em saber em quem votará para deputado a dez meses da eleição é porque merece conviver com o mar de escândalos da política brasileira. Ou talvez porque tenha a memória seletiva.
Na verdade, impera o pensamento de que a política é uma grande perda de tempo. Enquanto for assim, o mesmo tempo continua correndo a favor dos políticos de sempre.
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