Quem diria: Renan Calheiros virou o Dom Pedro da República

A impopularidade extrema de Dilma Rousseff e a cruzada de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) contra o PT na Câmara dos Deputados produziram seu maior efeito prático. Desde ontem, presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), transformou-se no homem mais importante da República. A primeira medida ao “tomar o poder” foi empurrar goela abaixo do governo uma agenda de 27 itens para “mudar o Brasil”, a começar pela cobrança de procedimentos do SUS. Não vai parar por aí.

Em jantar à noite no Palácio do Alvorada, Dilma deu o tom do tamanho do socorro que precisa de Renan. Pediu para o Senado exercer o papel de “poder moderador” diante das pautas-bomba. Para quem faltou às aulas de história, o Poder Moderador era exercido pelos imperadores brasileiros para garantir a harmonia entre os demais poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Trocando em miúdos, Renan, como presidente do Congresso, se transformaria em um Super Dom Pedro, com soberania sobre dois poderes.

Mas o alagoano tem mesmo essa bola toda? Sim. Além de servir como antagonista de Cunha, Renan tem o trânsito que falta ao governo no Tribunal de Contas da União para evitar a rejeição das contas de 2014, alvo de polêmica sobre as “pedaladas fiscais” (maquiagem contábil para fechar o balanço anual do governo dentro da lei orçamentária). Além disso, no caso de abertura de processo de impeachment pela Câmara, será o Senado quem vai julgar Dilma.

Não à toa, Renan também deu ontem uma declaração que simboliza o que vem pela frente em Brasília. Para ele, impeachment não é prioridade.

“As pessoas perguntam sobre impedimento, perguntam sobre apreciação de contas dos governos anteriores e deste governo. E tenho dito que isso não é prioridade. Na medida em que o Congresso tornar isso prioritário, nós estaremos pondo fogo no Brasil. Não é isso que a sociedade quer de nós.”

Moral da história: Dilma continua no poder. Mas o poder continua com ela?

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