O presidente do Partido Progressista, legenda que abrigou Jair Bolsonaro por 11 anos (2005-2016), foi o primeiro jogador relevante do xadrez político de Brasília a “mandar a real” sobre a tramitação da reforma da Previdência no Congresso Nacional.
“A respeito da chegada da PEC da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, tenho a convicção de que, sem uma reforma que alcance também os militares, o texto apresentado não deveria sequer tramitar”, escreveu no Twitter o senador Ciro Nogueira (PP-PI).
O texto foi ao ar às 13h21 de quarta-feira (20), quando o pelotão de técnicos do Ministério da Economia ainda rebolava para explicar a jornalistas a proposta do governo federal. No momento mais tenso da inédita coletiva com cinco horas de duração, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, não escondeu o descontentamento com a insistência da imprensa em saber: “mas e os militares?”
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Ciro Nogueira não é repórter, mas como todo político velho-de-guerra tem faro para notícia (e afinidade com a Lava Jato, operação da qual foi alvo novamente nesta sexta-feira, 22). No caso, sobre como usar uma informação, que é claramente uma mancada do governo, em benefício da velha política.
O PP é uma das cabeças do Centrão, o agrupamento de partidos médios idealizado por Eduardo Cunha que toma conta das decisões da Câmara há cinco anos. Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Casa, é fruto dessa sociedade. O Centrão, para quem não lembra, apoiou Geraldo Alckmin (PSDB) para presidente.
O Centrão gosta de ser reconhecido e bajulado. Muito mais do que isso, o Centrão gosta de cargos. E o Centrão está furioso com Bolsonaro porque não teve reconhecimento, bajulação e, principalmente, cargos.
Até que nasceu a PEC da Previdência.
Maia, que é do mesmo partido do articulador político do governo, o gaúcho Onyx Lorenzoni, deu sinais de a prioridade pelas próximas três semanas é a agenda de projetos do Legislativo – e não do Executivo. Enxerga-se aí o princípio de uma “operação-tartaruga”.
Ao mirar os militares, o Centrão atinge duplamente o governo. Na primeira, com o punhal da emoção: do ponto de vista moral, os militares deveriam estar no escopo das mudanças desde o começo. Na segunda, com o da razão: afinal, oito dos atuais 22 ministros são generais, o que facilita a compreensão de que separar os militares da PEC é atuar em causa própria.
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Claro que, por trás disso tudo, está o fato de que esses lugares ocupados atualmente por militares antes eram cativos de políticos (especialmente do Centrão). Mas não demorou para o governo acusar os golpes – e reagir da forma mais estabanada possível.
A resposta será colocar no ar, na próxima semana, um programa de “banco de talentos”. Por meio dele, deputados e senadores vão indicar “técnicos” para ocupar cargos de indicação política no segundo escalão. Vai dar certo?
A maior chance é ficar no meio do caminho. Não “qualificar” as escolhas, nem agradar os políticos. Enquanto isso, o bode da reforma da Previdência continua na sala. O Centrão vestiu o bicho de uniforme verde-oliva.
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