O aluno mais brilhante da minha turma de jornalismo na UFPR virou auditor da Receita Federal. O engenheiro eletricista mais promissor que estudou com o meu irmão no antigo Cefet-PR é hoje auditor-fiscal do trabalho. Aposto que você também tem um conhecido que gastou anos de aprendizado em determinada área e foi parar em outra completamente diferente no serviço público.
Na semana passada, o jornal Correio Braziliense divulgou uma pesquisa do Instituto FSB que mostrou as maiores “ambições” dos trabalhadores da capital federal. 70% deles disseram que a melhor alternativa para mudar de vida é passar em um concurso público. Trabalhar na iniciativa privada só é solução para 2%.
Quais os principais motivos detectados pelo estudo para que tanta gente queira ter o Estado como patrão? Trabalhar menos e ganhar mais, como saiu na manchete do jornal. Simples assim.
Obviamente, há uma certa distorção provocada pela amostragem – tudo no Distrito Federal gira em torno do serviço público. Mas Brasília é um mosaico do Brasil. O que torna emblemático o desprezo pela iniciativa privada, bem definido pelo colunista da Folha de S. Paulo Fernando Rodrigues como “privatofobia”.
A princípio, não dá para jogar a culpa naqueles que se enveredam pelo funcionalismo. Afinal, quem não quer estabilidade no emprego, um salário acima da média e a aposentadoria encaminhada? Além disso, para conquistar uma das “vagonas”, como as dos sujeitos dos primeiro parágrafo, são necessários anos de estudo – e a concorrência cada vez mais não está fácil para ninguém, companheiro.
Por um lado, ganhamos servidores qualificados, por outro, essa mesma mão-de-obra faz falta para o crescimento do país. No final do ano passado, a Confederação Nacional da Indústria calculou que o déficit de engenheiros no Brasil é de 150 mil. Atualmente, temos seis engenheiros para cada mil pessoas economicamente ativas, enquanto nos Estados Unidos essa proporção é de 25 por mil.
Uma das soluções em debate no governo federal é “importar” engenheiros, mais ou menos nos moldes do programa Mais Médicos. Ou seja, vai ser necessário que estrangeiros façam o país não desperdiçar a janela de oportunidade de crescimento. Há algo de muito estranho nessa lógica.
O primeiro instinto é colocar a culpa no governo petista, que em dez anos não criou um ambiente favorável à livre iniciativa. Ele tem a sua parcela de culpa, mas a mentalidade média do brasileiro também não colabora. Esses dois ingredientes se complementam em uma engrenagem em que tudo depende do Estado.
Nessa linha, vale refletir sobre o leilão da exploração do pré-sal no campo de Libra, há sete dias. No pronunciamento que fez em cadeia nacional, a presidente Dilma Rousseff parecia mais interessada em comprovar que o modelo de partilha não significa privatização do que com a atração de investidores. E os tucanos, ao mesmo tempo, gastaram o dia mais preocupados em passar a mensagem: “viu, eles também privatizam!”
Enquanto a discussão econômica continuar nesse nível, o obeso Estado brasileiro vai continuar entalado na tal janela de oportunidade. Já passou do momento de se buscar um debate mais franco e útil para a sociedade: se o Estado não tem condições de sozinho gerar a infraestrutura que o setor produtivo precisa, como atrair gente de fora? Se não superarmos a balela do entreguismo, nunca seremos um país de empreendedorismo.
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF