Texto publicado hoje na coluna Conexão Brasília, na edição impressa da Gazeta do Povo:
Beto Richa (PSDB) venceu a eleição para governador porque os paranaenses acreditaram na proposta de renovação. Faz sentido. Ele é jovem, com um discurso moderno de gestão pública e carrega o respaldo da aprovação popular como prefeito de Curitiba.
E se as pessoas votaram na mudança, é óbvio, desejam inovações. Portanto, deram crédito para o futuro governador agir diferente do anterior. A princípio, não é bem por aí que a situação caminha.
Alguns dos primeiros passos de Beto após a vitória deixaram pegadas idênticas às de Roberto Requião (PMDB). A começar pelo nepotismo. O peemedebista chegou a nomear oito parentes no governo, três deles no primeiro escalão, enquanto Beto já anunciou o irmão e a mulher como secretários.
No mesmo caso, há outras semelhanças sutis. De acordo com a súmula antinepotismo editada pelo Supremo Tribunal Federal, em 2008, é permitido nomear parentes apenas para “cargos políticos” – no caso das administrações estaduais, somente as secretarias. Para acomodar o irmão Eduardo Requião no governo após a decisão, Roberto transformou o Escritório de Representação do Paraná em Brasília em Secretaria Especial. Já Beto acaba de criar a Secretaria da Família para a esposa Fernanda Richa.
A notícia correu o Brasil rapidamente. Os grandes jornais nacionais, que se fartaram de noticiar as excentricidades de Requião (como o episódio da degustação de mamona no gabinete presidencial), não se omitiram em relação a Richa. Em chamada de capa, o carioca O Globo ironizou a escolha de Fernanda com o título: Secretaria da… Minha Família.
Já o Jornal Luzilândia, de Teresina, fez a comparação: Piauí e Paraná serão os estados campeões de nepotismo em 2011. O texto cita que Beto e o governador eleito Wilson Martins (PSB) são os que mais nomearam parentes para o primeiro escalão entre todos os 27 estados. Martins também escolheu a mulher e um irmão como secretários.
A “renovação” paranaense não para por aí. Em 2006, o PSDB, inclusive Beto, apoiou formalmente o senador Osmar Dias (PDT) no segundo turno contra Requião. Boa parte do partido, contudo, não respeitou a decisão.
Os tucanos do “bico vermelho”, como
apelidou Requião, foram logo recompensados. O deputado estadual Nelson Garcia (PSDB) foi escolhido para a Secretaria Estadual do Trabalho. Na prática, a legenda nunca fez oposição na Assembleia Legislativa.
Em 2010, foi o PMDB quem ficou com Osmar contra Beto. Mas uma ala significativa do partido apoiou o ex-prefeito. Terminada a eleição, o governador eleito está prestes a selar uma aliança com os peemedebistas – e curiosamente o que está em jogo é mais uma vez a Secretaria do Trabalho.
Sim, parecem filmes repetidos. O problema é que todos esperam do novo governo algo bem diferente. E não só no Paraná – Beto é uma das apostas mais pesadas de oxigenação do PSDB no plano nacional.
Em Brasília, ele é visto como uma
liderança promissora, um dos poucos com capacidade de ajudar o mineiro Aécio Neves a contrapor a hegemonia petista. Que fique registrado: toda a expectativa é justificada, o futuro governador tem o que mostrar. Mas os eleitores, aqueles que escolheram a renovação, ainda esperam que ele seja mais Beto que Roberto.
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