Estádios de futebol deveriam ter entre as placas de publicidade um aviso como aqueles obrigatórios para as bebidas alcoólicas: se politizar, não torça. Ou vice-versa. No Brasil, toda vez que uma coisa se mistura com a outra há um pandemônio.
Ficou visível na distribuição dos jogos para a Copa do Mundo de 2014. Coube a Curitiba o papel de mascote da competição – a cidade é a que vai abrigar o torneio por menos tempo (só 11 dias). Melhor dizendo, os curitibanos ficaram na lanterna em uma espécie de quinta divisão, junto com Cuiabá, Manaus e Natal.
E é uma posição de quinta mesmo, já que todas essas cidades vão receber apenas quatro jogos da primeira fase. As demais oito sedes vão abrigar entre cinco e sete confrontos – pelo menos algum deles, decisivo.
É sabido que os paranaenses estão longe de ser uma potência política da federação. Perdem toda dividida que disputam nessa seara. No ranking socioeconômico entre os 27 estados, entretanto, o Paraná tem a quinta maior participação no Produto Interno Bruto nacional, a sexta maior população (quase idêntica à do Rio Grande do Sul) e a sexta maior bancada no Congresso Nacional.
Tirando a supremacia do eixo Rio-São Paulo e a tradição de mineiros e gaúchos (tanto no futebol, como na cultura e na política), há coisas bem estranhas nas escolhas da Fifa. Por que Brasília desponta como oásis do Mundial, com direito a sediar sete partidas e quase com o mesmo peso dos cariocas? Está aí mais uma prova de como a junção entre política e esporte pode ser explosiva.
Com capacidade para 71 mil pessoas, o estádio da capital federal está entre os mais pomposos da competição e vai custar R$ 745,3 milhões. O detalhe é que os dois principais clubes do Distrito Federal, Brasiliense e Gama, estão na terceira divisão do Campeonato Brasileiro. Além disso, ambos têm seus próprios estádios, que ficam longe de Brasília – respectivamente nas cidades-satélite de Taguatinga e Gama.
Embora o assunto seja tabu nas rodas de conversa do Plano Piloto, há poucas dúvidas de que o espaço será um dos mais imponentes elefantes brancos deixados como “legado” do Mundial. E o esforço para dar brilho à capital merece um pouco mais de aprofundamento.
Vale lembrar que o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), foi ministro do Esporte antes de Orlando Silva. Aliás, nessa época ele era filiado ao PC do B. Outra curiosidade é que Agnelo seguiu à risca o planejamento deixado pelo antecessor no governo, José Roberto Arruda – sim, aquele mesmo do mensalão do DEM.
Assim como Orlando, Agnelo também é citado em denúncias que envolvem desvios no ministério. O caso dele, por sinal, é alvo de inquérito no Superior Tribunal de Justiça. Sem contar que Orlando foi secretário-executivo de Agnelo no Esporte.
Pensando bem, entre tantos acordos e politicagem, é até mais interessante para Curitiba ficar como ficou.
O que vale mesmo é aproveitar direito os
investimentos públicos de R$ 780 milhões, a maior parte em melhoria do trânsito (o que é urgente e necessário), e relaxar. Na pior das hipóteses, vai ser melhor curtir um clássico entre Zimbábue e Argélia do que encarar sobrepreço (político e financeiro mesmo) para assistir à seleção brasileira.
Sem contar que, ultimamente, ver o time de Mano Menezes jogar mais preocupado com o penteado do que a bola está longe de ser algo prazeroso.
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