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Após monopolizar o noticiário político do começo de 2014, a rebelião do PMDB contra o governo tende a enfraquecer por falta de munição. Se desertar da aliança com Dilma Rousseff, o que o partido vai fazer nas eleições de outubro? As três opções disponíveis não são lá as mais tentadoras – e indicam que a reconciliação com os petistas é só questão de tempo.

A primeira é encampar as candidaturas de Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB). Nunca antes na história desse país, contudo, os peemedebistas se arriscaram como auxiliares de outras legendas em uma chapa de oposição. Aliás, desde a redemocratização, o partido só foi coadjuvante de coligações presidenciais na vice do tucano José Serra, em 2002, e em 2010, com a dobradinha Dilma-Temer.

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O segundo caminho é lançar candidato. O incrível é que o mais tradicional partido do país, símbolo da resistência contra a ditadura militar, responsável pela gestão de seis estados, dono da maior bancada do Senado e da segunda maior da Câmara dos Deputados, simplesmente não tem qualquer nome competitivo. De uma hora para outra, a cúpula nacional do partido engoliu o orgulho e ressuscitou até a hipótese de lançar o senador Roberto Requião.

A cena remete a duas décadas atrás, quando começou a aventura presidencial do paranaense. Após o primeiro mandato como governador do Paraná (1991-1994), ele perdeu as prévias para o governador de São Paulo, Orestes Quércia – fez 17,7% dos votos da convenção, contra 77,6% do paulista. Em 2010, voltou à carga e recebeu 14,4% dos votos convencionais em uma disputa na qual se colocou como candidato próprio contra a indicação de Michel Temer para vice-presidente.

Nas duas situações, Requião era o outsider, alguém que nunca chegou a ser considerado como uma alternativa plausível para a cúpula nacional do PMDB. Em 2014, porém, foi justamente o presidente da sigla, senador Valdir Raupp (RO), quem citou o colega como uma possibilidade. Há algo que não se encaixa.

A citação de Raupp é, na verdade, a tentativa de mostrar que o partido não está num mato sem cachorro. Requião, segundo ele, sairia nas pesquisas com pelo menos 10% dos votos. Será?

As duas experiências anteriores do partido com candidatos próprios foram risíveis. Em 1989, Ulysses Guimarães era o “Dr. Constituinte” e fez apenas 4,43% dos votos. Em 1994, Quércia deixava a gestão do estado mais rico e populoso do país para somar 4,38% dos votos e chegar atrás de Enéas Carneiro (Prona).

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Estatisticamente, a terceira opção parece a menos traumática – não se coligar com qualquer partido. Depois de perder na chapa de Serra, em 2002, o partido decidiu ficar de fora da eleição presidencial seguinte. Resultado: aumentou o número de governadores (de quatro para sete) e de deputados federais (de 75 para 89). Em 2010, quando aderiu à chapa petista, o partido perdeu um governador e 11 deputados.

Definido (com razão) como uma federação de oligarquias estaduais, o PMDB nunca se pautou por decisões centralizadas. Do seu jeito, aplica com maestria a máxima de Maquiavel de que é preciso dividir para governar – ou seja, fragmenta-se para vender a imagem de partido da governabilidade. Na hora da decisão, o que vai pesar é o instinto de sobrevivência dos caciques estaduais, jamais o interesse nacional.

Dentro dessa lógica, apesar de todo esperneio, o panorama ainda parece melhor com Dilma do que sem ela. Mesmo que seja para acompanhá-la muito mais à distância do que em 2010.