Repercutiu o dia todo a patada que o presidenciável José Serra deu na jornalista Miriam Leitão hoje pela manhã. O tucano ficou irritado com uma pergunta banal sobre a autonomia do Banco Central.
Mostrou uma “finesse” que muito se comenta nos bastidores de Brasília. Bem parecido com a de Dilma Rousseff, que ficou nervosa ao comentar o apagão que atingiu o país no ano passado e soltou o famoso “não é apagão, minha filha!” para uma jornalista (y otras cositas más).
Em matéria de decidir quem é mais estourado, será uma disputa realmente polarizada. Pena que Ciro Gomes (PSB) não será candidato. Ah, e Roberto Requião (PMDB), hours concours nesse ramo.
Segue abaixo a transcrição do trecho da entrevista, ao vivo, na CBN:
Miriam Leitão – O senhor respeitará a autonomia do BC?
José Serra – A questão dos juros, a questão do câmbio… Ninguém, em sã consciência, pode defender a posição de que, quando há condições para baixar a taxa de juros, o BC não baixa, está certo. Isso não significa infalibilidade. A questão do tripé famoso que veio do governo passado que, se não me engano, fui eu até que apelidei de tripé (câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e meta de inflação) veio para ficar. Não baixar os juros num contexto que não tinha inflação simplesmente foi um erro. As pessoas que conhecem melhor, mesmo dentro do mercado financeiro, sabem disso. Agora, se alguém se assusta porque eu acho que a taxa de juros deve cair quando a inflação está caindo, quando tem quase deflação, é porque tem uma posição muito surpreendente do ponto de vista dos interesses do Brasil. Por outro lado, a mesa da economia brasileira, que estava no chão, eu ajudei a erguer. Todo mundo que me conhece sabe que eu não vou virar a mesa coisa nenhuma.
ML – Mas a dúvida é exatamente esta. Quando o senhor fala que foi um erro do BC, se por acaso o senhor for presidente …
JS- Espera um pouquinho.
ML – Deixa eu completar a minha pergunta.
JS – Espera um pouquinho. O Banco Central não é a Santa Sé. Você acha isso, sinceramente, que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência.
ML – Governador, deixa eu fazer a minha pergunta.
JS – Agora, quem acha que o Banco Central erra é contra dar condições de autonomia e trabalho ao Banco Central? Claro que não. Agora, de repente, monta-se um grupo que é acima do bem e do mal, que é o dono da verdade e que qualquer criticazinha já vem algum jornalista, já vem o outro e ficam nervosinhos por causa disso. Não é assim. Eu conheço economia, sou responsável, fundamento todas as coisas que penso a esse respeito. E, a esse propósito, você e o pessoal do sistema financeiro podem ficar absolutamente tranquilos que não vai ter nenhuma virada de mesa.
ML – Governador, deixa eu fazer a minha pergunta que eu não consegui completar. A questão não é se o BC é infalível, ninguém é. Mas se o senhor, quando se deparar com um erro do BC, caso seja presidente, ficará apenas com sua opinião ou vai interferir. A questão não é a taxa de juros.
JS – Imagina, Miriam, o que é isso? Mas que bobagem. O que você está dizendo, você vai me perdoar, é uma grande bobagem. Você vê o BC errando e fala: “Não, eu não posso falar porque são sacerdotes. Eles têm algum talento, alguma coisa divina, mesmo sem terem sido eleitos, alguma coisa divina, alguma coisa secreta tal que você não pode nem falar: Ó, pessoal, vocês estão errados”. Tenha paciência”.
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