Existem episódios recentes da política brasileira que de tão insólitos são hilários. Em 2008, Lula disse que o Brasil foi “declarado um país sério” por conseguir o selo de bom pagador de agências internacionais. Em 2015, falou que a perda do aval, após trapalhadas subsequentes da gestão Dilma Rousseff, “não significa nada”.
Na quinta-feira passada, o presidente do PSDB, Aécio Neves, subiu no palanque ao lado do governador Beto Richa, em Cascavel. Pediu “licença” ao anfitrião e declarou que o “partido será absolutamente contrário a qualquer aumento de carga tributária por considerar que não há mais espaço para que seja aumentado”.
Aécio tem fama de aéreo (não à toa usou o avião do governo de Minas Gerais para voar 124 vezes para o Rio de Janeiro quando comandou o estado, entre 2003 e 2010), mas é impossível que não saiba o que acontece no Paraná. Até porque o próprio Richa tem feito questão de se vangloriar das medidas que adotou, espalhado aos quatro ventos que elas são referência para o restante do país.
Desde que se reelegeu, Richa vem implantando no estado um pacotaço com aumento de tributos por todos os lados – e que parece um saco sem fundo.
A primeira fase do ajuste paranaense aumentou em 50% o ICMS de milhares de itens de consumo popular, enquanto o IPVA subiu 40%. Na última leva, ainda em debate, apareceram sugestões como taxação de inativos, outras alterações no ICMS e ampliação do imposto sobre heranças e doações. Como resultado, Curitiba se tornou a capital campeã nacional da inflação, segundo aferição do IBGE.
A ambiguidade tucana sobre o tema só revela o quanto o partido é idêntico ao PT. No governo FHC, o PSDB era a favor da CPMF e do fator previdenciário e os petistas contra. Depois que Lula e Dilma assumiram, os papéis se inverteram.
Lula, para justificar a mudança de ideia em relação à CPMF, chegou a se definir como uma “metamorfose ambulante”. Caberia a uma verdadeira oposição ser o oposto disso. Permanecer firme como uma rocha dentro de determinados princípios.
Se é contra imposto, é obrigatório dar o exemplo de cabo a rabo – na gestão da prefeitura do interior, nas câmaras municipais e, claro, nos governos estaduais. Posar de paladino do bolso popular diante de uma presidente destroçada politicamente é simples. Difícil é não sucumbir à tentação do “meu imposto é justo, o deles é imoral”.
A propósito, o mentor do tarifaço paranaense, o secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, tem uma longa trajetória ao lado dos tucanos. Foi secretário de finanças das gestões José Serra na prefeitura paulistana e no governo de São Paulo. E presidiu a Companhia de Saneamento de Minas Gerais no começo do governo Aécio.
Digamos que Dilma e Michel Temer resolvam pedir para sair e abram caminho para novas eleições nos próximos meses. Aécio vence de lavada. Qual será a solução que vai tirar da cartola para resolver o rombo nas contas do governo?
Depois de muita reclamação sobre a herança maldita petista, é de se prever que vai pedir a paciência de todos para um momento difícil e medidas amargas. É a senha para o “senta, que lá vem imposto”. Se copiar o modelo de sucesso paranaense e mexer de uma só vez nos tributos que mais geram arrecadação, vai sobrar uma tunga da pesada, por exemplo, no seu imposto de renda.
Enquanto a política brasileira for baseada em jogo de cena e menosprezo a valores básicos de gestão, o herói de hoje vai ser para sempre o vilão de amanhã. E continuaremos a sina de, em vez de progredir, andar em círculos.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF