No final do ano passado, em uma entrevista sobre o perfil da então presidente eleita, o ministro Paulo Bernardo explicou que a fama de brava de Dilma Rousseff era “culpa” de Lula. A fórmula era simples: enquanto a ministra da Casa Civil cobrava os colegas, o presidente afagava (estilo policial malvado, policial bonzinho). Na prática, havia uma terceirização das broncas.
Lá se vai quase um ano do novo governo e Dilma preferiu não mudar de papel. É ela pessoalmente quem pega no pé dos subordinados, quem faz a coisa andar. E se o pessoal já tremia na base quando ela era “só” ministra, agora tudo ficou mais tenso.
Há duas semanas, a Folha de S. Paulo fez uma coletânea dos pitos mais famosos da presidente. São oito histórias que expõem um pouco do jeitão Dilma de ser. Na maioria das discussões com os subordinados, a presidente cobra mais resultados e menos lero-lero.
Em um dos relatos mais engraçados, Dilma discute com um funcionário do Ministério da Saúde que sugere a criação de uma sigla para definir uma nova política para as pessoas com deficiências. “Você sabe quantas siglas têm no ministério?”, indagou a presidente, que lembrou dos CAPs-AD (Centros de Atenção Psicossocial Antidrogas). Aproveitando o gancho, citou que os tais CAPs-AD fecham às 18 horas: “você chega para o drogado e fala: ‘drogado, são 18h. Tchau, drogado, volta amanhã”.
Esse tipo de comportamento não é restrito às salas do Palácio do Planalto e caminha para virar uma marca registrada da presidente. Outro exemplo: em uma das raras entrevistas que concedeu após assumir o cargo, ela jogou duro com a apresentadora do Fantástico Patrícia Poeta.
Quando a jornalista perguntou sobre o toma lá dá cá entre governo e partidos aliados no Congresso, Dilma foi inquisitiva: “cê me dá um exemplo do dá cá e eu te explico o toma lá”. Ao perceber o susto de Patrícia, que se esforçava para conseguir uma conversa amena, suavizou: “tô brincando contigo!”
Claro que o comportamento linha dura também é um prato cheio para os humoristas. Gustavo Mendes, do site Kibe Loco, virou hit com as imitações da presidente publicadas na internet – somadas, elas chegam a 5 milhões de visualizações. O quadro segue um rito: Dilma descobre uma mancada de um ministro e telefona para tomar satisfação.
Há episódios com Guido Mantega, Antonio Palocci e Orlando Silva. Na discussão com Mantega, por exemplo, a presidente pede para o ministro da Fazendo “engolir o choro” e resolver o problema da inflação. Já Orlando é forçado, no estilo capitão Nascimento, a “pedir para sair” do Ministério do Esporte.
Entre pavor e piadas, há um lado positivo nessas histórias. No funcionalismo público, quase tudo acontece em slow motion. Amarrada à burocracia, grande parte dos tecnocratas de Brasília adora reuniões improfícuas ou formar grupos de trabalho sem metas específicas e que geram relatórios que ninguém lê. Ah, e eles são muito bem remunerados por isso.
Dilma é tecnocrata como esse pessoal e conhece as engrenagens da máquina pública, o que serve como um detector de embromação. A diferença é que ela não tem estabilidade no cargo, mas um mandato de quatro anos para fazer as coisas acontecerem. Portanto, está no direito de cobrar celeridade – sem ultrapassar limites da dignidade.
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