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Victor Boyadjian trabalha em rádios há 11 anos, cinco deles como repórter. Entre 2007 e 2010, foi correspondente na China da Eldorado, de São Paulo. Mesmo em um dos países que notoriamente mais censura a imprensa no mundo, nunca enfrentou problemas para trabalhar.

Um ano atrás, voltou para o Brasil e foi enviado como correspondente a Brasília. Na última segunda-feira, já como funcionário da rádio Bandeirantes, o jornalista teve o gravador arrancado das mãos no plenário do Senado. O motivo: fez perguntas que irritaram o senador Roberto Requião (PMDB).

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Três dias após o episódio que rendeu ao parlamentar paranaense uma representação por quebra de decoro parlamentar, Boyadjian concedeu a entrevista abaixo à Gazeta do Povo no Comitê de Imprensa do Senado. Rebateu o discurso de Requião sobre supostas “armadilhas” contidas na entrevista e fez questão de explicar por que fez as questões sobre a superaposentadoria de R$ 24,1 mil mensais recebida pelo senador como ex-governador.

“Eu tenho absoluta confiança de que o que fiz não foi de forma alguma agressivo ao senador Requião. Então, não me sinto no dever de pedir qualquer desculpa”, disse.

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Gazeta do Povo – Quanto você tem de altura e peso?
Victor Boyadjian – Como assim?

É só para fazer uma comparação entre o seu tamanho e o do senador Requião. Ele tem dito que sofreu bullying.
Bom, eu não cometi bullying contra ele. Ele tem dito na verdade que está sofrendo bullying de toda a imprensa… Respondendo à pergunta, eu tenho 1,72 metro e 69 quilos.

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Não tenho os números ao certo, mas acho que ele tem bem mais peso e altura que você.
E bem mais idade também.

Ele tem 70 anos.
É mais que o dobro, eu tenho 28.

No discurso que fez no plenário na última terça-feira, após o episódio do gravador, ele disse que foi alvo de uma armadilha, que a entrevista que você tentou fazer com ele era “encomendada” pela Bandeirantes. Como você vê isso?
Primeiro de tudo: é claro que não fui encomendado. Eu me pauto. O trabalho do correspondente é assim. A gente está aqui com total confiança das empresas para as quais trabalhamos. Orientamos nossas pautas de acordo com a dinâmica das notícias do dia. No caso, a minha pauta do dia era a inflação. Como é que eu repercuto esse assunto aqui no Congresso Nacional? Eu vou puxar temas pertinentes. Sempre que vou falar com algum parlamentar tento trazer um pouco do tema que ele está vivendo para poder encaixar na reportagem. Se eu simplesmente perguntar o que ele quer que seja perguntado, na verdade eu estou fazendo uma assessoria de imprensa para ele. Uma reportagem tem um assunto a ser trabalhado e um contexto. Quem está ouvindo as minhas matérias está em outro lugar e precisa saber do que se trata a situação. É por aí que eu faço. Em nenhum momento minha intenção era criar uma armadilha. No meio da entrevista o senador acabou agindo de uma maneira totalmente inesperada, tendo em vista o tom da conversa que estávamos tendo.

Como você define o tom da conversa?
Foi uma entrevista dentro do plenário do Senado. É um lugar, onde pelo menos nós, jornalistas, somos exigidos de manter o porte, a educação. A gente não pode falar alto para atrapalhar a sessão. Eu estava na tribuna de honra, onde qualquer cidadão pode entrar, mas ainda assim há exigências. Tem que estar trajado de paletó e gravata. Aliás, nesse dia eu estava em uma pauta fora do Senado e precisei me virar para conseguir um paletó e uma gravata para poder entrar no plenário. Acho que a gente tem que manter a educação lá dentro.

Como tem sido a repercussão do episódio na sua vida?
Muito positiva. Tem gente que liga para a rádio, tem gente que manda mensagem pela internet me apoiando. Muita gente inclusive do Paraná. Isso só reforça a minha consciência de que eu apenas estava fazendo o meu trabalho.

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Só para deixar claro o conceito de pauta para quem não é jornalista. Você busca a maioria dos assuntos para suas reportagens sozinho, certo? No dia da entrevista com o senador Requião, você estava conectando três temas: inflação, aumento dos gastos públicos e as pensões para ex-governadores, é isso mesmo?
Exatamente. Aí é que está o grande poder que infelizmente muitos políticos não percebem no momento de uma entrevista como essa. Muitos políticos se acuam ou são agressivos quando deveriam aproveitar o espaço para expor as suas ideias, o seu lado, os seus motivos. A imprensa está aqui no Congresso justamente para ouvi-los. Quando eles querem falar e não serem gravados, podem usar o off (declaração que não é gravada). Faz parte da dinâmica do trabalho. Há quem edite as matérias? É óbvio. Um jornal, por exemplo, não é feito de entrevistas de várias páginas na íntegra. Jornal é feito de apuração, de fatos, de diferentes versões. É um trabalho muito mais complexo do que simplesmente ouvir alguém e publicar.

É possível fazer um trabalho em rádio sem edição?
Vai ficar maçante. Se o ouvinte colocar na emissora e se deparar com entrevistas de 10, 15 minutos, ele não vai conseguir se informar. A gente tem que ir direto ao ponto, ao assunto em si. E trabalhar a informação da maneira mais próxima ao real possível.

E essa história de agressividade, de que você fazia perguntas “estilo CQC”, como definiu o senador?
Acho que foi um erro. Ele não me conhecia pessoalmente. Ele se confundiu. Eu trabalho para a rádio Bandeirantes.

Quando ele tomou seu gravador, o que você pensou?
Quando ele colocou a mão, eu achei que queria dizer apenas que ele não queria que eu gravasse. Isso alguns políticos fazem, é um sinal de que eles só querem falar em off. Só que ele foi adiante e puxou o gravador da minha mão. Falei para ele que iria desligar, mas aí o negócio se desenrolou e aconteceu a história que todo mundo conhece.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) interveio no discurso dele e chegou a sugerir uma reconciliação entre vocês dois. O que você acha?
Eu tenho absoluta confiança de que o que fiz não foi de forma alguma agressivo ao senador Requião. Então, não me sinto no dever de pedir qualquer desculpa. Soube, depois que isso aconteceu, que há precedentes desse tipo de evento protagonizado por ele no Paraná. Não espero nada de nenhum político, muito menos daquele que não foi eleito por mim. Só espero cordialidade, que é a maneira como eu trato a eles.

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O episódio pode prejudicar sua carreira?
Não, mas eu acho muito chato ser envolvido em um tumulto que absolutamente não foi provocado por mim. Acho que no fundo quem trabalha com jornalismo está sujeito a esse tipo de coisa. Só que eu já trabalhei na China. Eu já vivi o medo de ser censurado, perseguido. Faz parte da carreira.

Na China, a censura é legal. Você passou por algum episódio similar por lá?
Nunca havia tido meu trabalho cerceado. Aqui no Congresso Nacional também não. Foi uma grande surpresa.

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