Três pesquisas e uma enquete agitaram ao longo dos últimos cinco dias a bolsa de apostas sobre quem será o próximo presidente do Brasil. O cruzamento dos principais dados é inegavelmente positivo para o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL).
Um olhar mais aprofundado sobre o mesmo conjunto de números, contudo, mostra quanto é prematuro o clima de “já ganhou” que tem movido bolsonaristas (inclusive ele próprio, repentinamente avesso a confrontos com adversários em debates) e investidores (que passaram a cravar sua vitória e, com isso, colaboraram para o chilique do mercado financeiro brasileiro na semana passada).
O copo meio cheio para o capitão da reserva vem especialmente das sondagens feitas por telefone pelos institutos Datapoder360 e Ipespe (este, encomendado pela XP Investimentos). E também da pesquisa espontânea do mais recente Datafolha.
Na terça-feira (5), o Datapoder360 publicou estudo com três cenários de primeiro turno sem o ex-presidente Lula (preso em Curitiba e inelegível pelos critérios da Lei da Ficha Limpa). Bolsonaro lidera todos, com 21%, 22% e 25% das intenções de voto. As porcentagens representam quase sempre o dobro do segundo colocado numericamente, Ciro Gomes (PDT), que teve respectivamente, 12%, 12% e 11%. O capitão da reserva também vence em quatro simulações de segundo turno.
Na quinta (5), XP divulgou uma enquete com 204 investidores institucionais, que levantou a seguinte questão: “Quem será o vencedor da eleição presidencial de 2018?”. Bolsonaro liderou com 48% das respostas. Na sondagem, anterior, de abril, ele tinha 29%, contra 48% de Geraldo Alckmin (PSDB), que agora caiu para 31%.
Na mesma quinta, pesquisa encomendada pela XP e executada pelo Ipespe apontou Bolsonaro líder nos cenários sem Lula, com 23% e 21%. No cenário com o petista, o ex-presidente lidera com 30% e Bolsonaro fica em segundo, com 20%.
Mais tradicional entre os três institutos, o Datafolha trouxe neste domingo (10) Bolsonaro também em segundo no cenário com Lula – o petista tem 30% e o deputado 17%. Sem o ex-presidente, ele salta para primeiro, com 19% em três simulações, mas seguido muito mais de perto por Marina Silva (Rede), que oscila entre 14% e 15%.
A cereja do bolo do Datafolha, que ao contrário dos outros dois institutos fez uma pesquisa presencial e não por telefone, é que Bolsonaro superou Lula na sondagem espontânea. Nesse tipo de sondagem, o deputado federal tem 12% contra 10% do petista. No último Datafolha, de abril, Lula vencia Bolsonaro por 18% a 10%.
De onde vêm os sinais de alerta para Bolsonaro?
Todas as pesquisas detectaram sinais de alerta para Bolsonaro. Tanto Datapoder360 quanto Ipespe fisgaram a possibilidade de Fernando Haddad, o plano B do PT, se tornar um candidato viável. Na sondagem do Ipespe, quando Haddad é identificado para o entrevistado como “apoiado por Lula”, o ex-prefeito de São Paulo tem um salto imediato de 3% para 11% das intenções de voto.
No Datapoder, Haddad já bate nos 8% sem o carimbo do ex-presidente. Mesmo assim, em ambas as pesquisas, isso não garante a ele nem metade dos votos de Bolsonaro. Mas indica que uma possível aliança de esquerda, a partir do momento em que Lula desista do circo da candidatura e declare apoio a alguém, teria potencial para passar facilmente dos 20%.
Também foi isso que mostrou o Datafolha. Segundo o instituto, 30% do total de eleitores “com certeza” votariam em um indicado de Lula e que 17% talvez o fariam. Nada é mais alarmante para Bolsonaro, contudo, que os altíssimos índices de abstenções e de eleitores que dizem não ter candidato.
No Datafolha, 21% dizem não ter candidato no cenário com Lula (um empate técnico com os 17% de Bolsonaro). Sem o ex-presidente, os sem-candidato sobrem para 33% e 34%, margem muito superior aos 19% alcançados pelo capitão da reserva.
Os órfãos de candidatos, que são potencializados pela ausência de Lula, têm força suficiente para “bombar” até três nomes com resultados ruins até agora. Se Bolsonaro desprezar essa fatia do eleitorado, ignorando chances de debate e mais exposição, corre sério risco de ficar de fora do segundo turno. O favoritismo – de quem quer que seja – ainda depende do fluxo desses desiludidos.
Metodologias
O Datapoder360 fez 10,5 mil entrevistas por telefone, com pessoas de 349 cidades de todas as regiões do país, entre 25 e 31 de maio. A margem de erro é de 1,8 ponto porcentual para mais ou para menos. O registro da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é BR-09186/2018. O estudo é aplicado por meio de um sistema no qual os entrevistados recebem uma ligação com uma gravação e respondem a perguntas por meio do teclado do telefone.
O Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) fez a pesquisa presidencial sob encomenda da XP Investimentos. As entrevistas foram feitas entre os dias 4 e 6 de junho de 2018. Foram entrevistadas 1 mil pessoas por telefone de todas as regiões do país. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais. O registro da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é BR-05997/2018.
A mais recente pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 6 (quarta-feira) e 7 (quinta-feira) deste mês, teve como base 2.824 entrevistas em 174 municípios em todos os Estados do País, mais Distrito Federal. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no TSE sob número BR-05110/2018.
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