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Todo processo seletivo decente balanceia o que o candidato fez no passado e o que ele propõe para o futuro. As campanhas políticas de 2010, porém, mantêm os olhos vidrados no retrovisor. E, ao negligenciar o para-brisa, menosprezam o eleitor.

Um dos maiores pecados de Osmar Dias (PDT) na disputa pelo Palácio Iguaçu foi levar a batalha eleitoral com Beto Richa (PSDB) para dez anos atrás. O senador insistiu na tese de que o estado não poderia voltar ao lernismo, aos tempos da privatização do Banestado. Deixou de lado as próprias sugestões para o progresso paranaense, formatadas durante quase dois anos de caravanas pelo interior.

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Beto recorreu ao mesmo expediente, mas assumiu uma tarefa menos complicada. Afinal, foi mais fácil bater no governo Roberto Requião (PMDB), cujas trapalhadas estão frescas na memória das pessoas. Acabou por vencer o duelo “máquina do tempo”.

Além disso, vendeu com mais eficiência a tese de que conseguirá transplantar no Paraná o tal “choque de gestão” adotado pelo correligionário Aécio Neves em Minas Gerais. Mesmo sem estabelecer números, perspectivas, metas, ao menos expôs um modelo a ser seguido. Isso também desequilibrou.

O cenário se repete no segundo turno da disputa presidencial. Após fazer 47 milhões de votos e bater na trave, Dilma Rousseff (PT) não consegue superar a ressaca. Como ocorreu em 2006 no duelo entre Lula e Geraldo Alckmin (PSDB), os petistas tiraram da gaveta o remédio de sempre – as críticas à gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

José Serra, na propaganda de Dilma, aparece como o artífice da “privataria” e de um suposto plano para vender o pré-sal e a Petrobras. Deu certo há quatro anos, quando Lula colocou Alckmin nas cordas com os mesmos argumentos. Cola de novo?

Na verdade, ninguém no mundo real parece dar muita bola para FHC. Há hoje um balanço mais sensato sobre as privatizações. Algumas foram necessárias, outras não e o fato é que nenhuma grande empresa sob controle estatal será vendida daqui em diante (muito em função de que sobrou pouca coisa no acervo para negociar).

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Serra decorou a receita para lidar com a situação, mas também apela para o retrovisor. Diz que o governo Lula criou um novo método de privatização ao privilegiar a nomeação da companheirada para os alto escalão das estatais. O aparelhamento é, segundo ele, ainda mais nocivo do que a transferência para o capital privado.

Todos sabem que há controvérsias nas duas vertentes. Mas não é isso que vem ao caso. A questão é como encarar os desafios que se colocam no horizonte.

O Brasil tem hoje, por exemplo, um dos sistemas tributários mais esdrúxulos do planeta. Desde a Constituição de 1988, 249.124 normas tributárias foram editadas – ou seja, seis por hora. Por ano, as empresas do país gastam R$ 42 bilhões para manter pessoal, sistemas e equipamentos para acompanhamento da legislação, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.

É uma bagunça que atrapalhará o crescimento brasileiro em pouquíssimo tempo. E que poderia ser organizada a partir de propostas sensatas para o futuro. Mas cadê os planos de governo consolidados de Dilma e Serra?

Ninguém sabe, ninguém viu. Faltam 13 dias para as eleições e até lá iremos escutar muito sobre Lula, FHC e talvez até de Itamar, Collor, Sarney, Figueiredo e Geisel. Cá entre nós, é bem mais fácil. Dá uma trabalheira danada falar de IRPF, IOF, IPI, CSLL, Cide, Cofins e tantos outros afins que maltratam o bolso do brasileiro.

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