De tempos em tempos, discursos anticorrupção costumam comover os eleitores brasileiros. Jânio Quadros prometia varrer a bandalheira em 1960, Fernando Collor travestiu-se de caçador de marajás em 1989. Em 2002, o PT de Lula lançou a campanha Xô Corrupção, que incluía uma propaganda na televisão em que ratos comiam uma bandeira do Brasil.
Todos os episódios têm em comum o desfecho trágico. Jânio foi varrido pela própria pegadinha da renúncia, Collor foi caçado pelo impeachment. E Lula, bem, esse tropeçou no mensalão, mas levantou-se rapidamente quando pôs as falas sobre ética no armário e abraçou-se à turma que sempre combateu.
Para quem não lembra, o petista é autor de uma pérola sobre o funcionamento da Câmara e do Senado. “Há no Congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”, disse ele, em 1993. A frase inspirou até letra de música de Herbert Vianna para os Paralamas do Sucesso.
Entre 2002 e 2004, o PPS amealhou muitos votos com uma campanha com uma mensagem ligeira e eficiente: “Vote Limpo, Vote 23”. Lembro-me, em 2006, de entrevistar o marqueteiro de campanha de Rubens Bueno, que concorria a governador do Paraná, sobre os motivos de preterir o slogan.
Segundo ele, depois do mensalão, o eleitor estava farto e desiludido do discurso sobre corrupção. Ainda assim, havia um nicho para os “limpinhos”. Em 2007, o PFL mudou o nome para Democratas e tentou de novo soprar o mofo da bandeira da ética.
Quando a imagem começou a se consolidar, no entanto, veio o mensalão de Brasília, em 2009. O escândalo atingiu o único governador eleito pelo partido, José Roberto Arruda, e seu vice, Paulo Otávio. O DEM agiu rápido ameaçando a dupla de expulsão e os dois acabaram saindo por conta própria.
Desgastada, a legenda encolheu nas eleições de 2010. Em 2011, ficou ainda menor quando o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, criou o Partido Social Democrático (PSD). Mas ainda sobrava uma espécie de “reserva moral” no Senado, com Demóstenes Torres, um procurador goiano de falas firmes e supostamente implacável contra desvios de conduta pública.
A reserva secou neste mês com as denúncias de envolvimento de Demóstenes com o “empresário” de jogos Carlinhos Cachoeira. Novamente o bastão da ética está largado. Alguém se habilita a juntá-lo?
Pode demorar um pouco, mas sempre aparece um novo “ético”.
O fato é que todos esses episódios mostram que combater a corrupção deveria ser uma obrigação, não um diferencial. Nenhum político deveria precisar alardear que é probo. No mundo ideal deveria se discutir ideias para gerir melhor os recursos públicos e não campeonatos de honestidade.
Por outro lado, está certo que no mundo ideal não tem marajá nem mensaleiro. Por essas e outras é melhor nunca perder a ética na política de vista. Mas lembre-se sempre de que os julgamentos devem ficar por sua conta – nunca pela deles.
***
Siga o Conexão Brasília no Twitter!
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF