Nada mais simbólico do que a imagem que corre pela internet de José Sarney votando em Aécio Neves com o adesivo de Dilma Rousseff no peito. A assessoria dele diz que é falsa, mas tem perito que garante a veracidade. Até isso diz muito sobre a política brasileira – quando não se tem credibilidade, qualquer defesa só ajuda o ataque.
Sarney começou na política há exatas seis décadas. Disputou a eleição de 1954 pelo PSD de Juscelino Kubitscheck. Um ano depois, quando empossado deputado federal, migrou para a UDN de Carlos Lacerda.
Durante a ditadura militar, foi senador pela Arena, o partido de sustentação do regime. Depois, pulou para PSD, PFL até chegar ao PMDB. Foi como peemedebista que ele exerceu a presidência da República (1985-1990).
Desde que sentiu o gostinho do poder, o PMDB nunca mais quis largar o osso. Deu um jeito de fazer parte de todos os governos, sempre com a mesma receita. Produz instabilidade para vender governabilidade.
PT e PSDB podem até ter polarizado as últimas eleições presidenciais. Mas são os peemedebistas que permanecem no centro do poder. Sim, você se estapeou com parentes e amigos para defender Aécio ou Dilma sem se tocar que, de um jeito ou de outro, ambos teriam de governar pela cartilha do MDB-velho-de-guerra.
O detalhe sórdido é que, quanto mais divisão, mais ódio entre petistas e tucanos, melhor para o PMDB. Quando mais um dos dois lados precisar de socorro, mais caro será o atendimento. O clima é de faca no pescoço 100% do tempo.
Dilma saiu das urnas esfalfada e dois dias depois estava em apuros na Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), não perdeu a chance de destroçar o governo ao derrubar o decreto que criava os conselhos populares. Alves havia acabado de se aventurar em uma candidatura ao governo do Rio Grande do Norte – perdeu e agora se prepara para dar adeus ao 11º mandato consecutivo como deputado federal.
A birra dele é com Lula, que fez campanha para seu adversário, Robinson Faria (PSD). O restante do partido entrou na onda e começou a preparar terreno, na base do terrorismo legislativo, para emplacar o novo presidente da Câmara, em fevereiro de 2015. O nome escolhido é Eduardo Cunha, apontado como inimigo número um da gestão Dilma no Congresso.
A essa altura, você deve estar se perguntando: por que diabos petistas e tucanos, os únicos com chance de eleger presidente desde 1994, aceitam fazer o jogo do PMDB? A resposta é que ambos se apaixonaram pelo sequestrador. E tem mais: o eleitor, em grande parte manipulado pelo sistema de votação para o Congresso, acaba sempre dando bancadas enormes para os peemedebistas.
Por isso, em vez de discutir reformas políticas mirabolantes, uma solução simples seria acabar com a coligação nas eleições proporcionais e descasar as datas das eleições para o Executivo e o Legislativo. Sai caro fazer um pleito exclusivo para deputados e senadores? É que você não tem ideia do custo da pauta-bomba que os peemedebistas armam a cada rebelião no Congresso.