Há quem ainda se recorde das filas nas copiadoras das universidades para tirar “xerox” dos textos das disciplinas. Ou, ainda, da disputa nas bibliotecas para ter acesso ao livro base de algumas dessas mesmas disciplinas. A informação que antes era escassa e inacessível para muitos, inclusive nas próprias universidades, hoje é abundante e até avassaladora.
O século XXI trouxe o avanço da tecnologia e da conectividade; e, com ele, uma grande democratização da informação, com uma dose cavalar de velocidade de atualizações, acesso a obras e pessoas antes quase inacessíveis e um poder popular enorme de compartilhar visões, opiniões e fazer conexões. Então, será que ficou mais fácil aprender?
Em outros tempos, o acesso raro ao conhecimento – nos poucos cursos de graduação e pós-graduação, nos caros livros e periódicos internacionais, nos escassos cursos e seminários – contribuía para legitimar o professor em sala de aula. Esse “monopólio” do conhecimento fazia com que o professor fosse uma das mais relevantes pontes para o acesso ao conhecimento. De novo: acesso ao conhecimento. Mas o que falar sobre hoje quando o acesso não é mais uma barreira? Como é que fica o papel do professor e dos tantos cursos acadêmicos?
A tecnologia multiplicou exponencialmente a oferta de cursos de toda natureza e, juntamente com outros incentivos, expandiu o acesso do aluno adulto para continuar seus estudos. Nos últimos dez anos, o aumento de alunos no ensino superior em cursos EAD foi de 474% (INEP, 2022). Aulas virtuais, livros digitais, materiais e pesquisas diversas, com a facilidade da tradução para qualquer idioma em fração de segundos. Informação em abundância, facilidade para ingressar na vida acadêmica. Aqui, já enxergamos alguns fatos importantes:
· A distância entre alunos e professores em relação à informação ficou muito menor, se é que ainda existe;
· O aumento de alunos no ensino superior à distância tem relação com as chances de empregabilidade no Brasil, com aumento real de salário de até 2,5 vezes mais (IBGE);
· A tecnologia de inteligência artificial evoluiu em proporções nunca vistas, com soluções como o ChatGPT.
O diploma continua sendo importante na realidade brasileira. Mas, como fica a habilidade pela aquisição de conhecimento, já que a informação eu tenho como quero, quando quero? Será que ainda precisamos de professores? Ou muito em breve dispositivos com Inteligência Artificial serão capazes de substituí-los? Teremos aula com o Chat GPT? É exatamente aqui que mora a grande diferença: conhecimento vai ser fácil adquirir, aprendizado e desenvolvimento de habilidades na realidade do mercado dependem de técnica, de metodologia, de troca, de aprender fazendo.
Nesse cenário, o diferencial do professor está menos ligado à informação que ele tem acesso, e mais ao repertório que coleciona: sua capacidade de compartilhar experiências reais e aprendizados – tanto na vivência da pesquisa acadêmica, quanto no mercado de trabalho. É isso que torna cada professor único e especial: a possibilidade de materializar de maneira singular, com emoções, reflexões e lições aprendidas, aquilo que ele viveu. Usar isso para construir o conhecimento com a turma, incluindo tudo aquilo que os alunos trazem de conhecimento próprio e acessam de informação.
Ensinar não é mais reproduzir conteúdo exclusivo ao qual o professor teve acesso, mas sim construir conteúdo singular a partir do conhecimento e experiência de todos. E o ChatGPT? Esse sim é um baita assistente pra isso!
Já pensou em ministrar aulas? Impactar de forma singular o processo de aprendizagem de quem o cerca?
Recentemente, conversando com um colega que iniciou sua experiência como professor, falamos sobre a loucura de todo esse excesso de informação e como é importante agora, mais do que nunca, que a vida acadêmica (que como já dissemos, ainda é um diferencial competitivo no Brasil) esteja totalmente conectada com o mercado e que o professor se torna a peça-chave nisso. Senão, a informação é abundante, mas é vazia, nada aplicável, longe de gerar chances de transformação. Chegamos juntos a algumas lições:
- Professor tem que ter pé no mercado: é aquele que vive de dia o que ensina na sala de aula. Experiência aqui é ouro para materializar a vivência e contextualizar todo esse conhecimento abundante;
- A IA veio para ficar: não adianta querer deixá-la fora da sala de aula. Ela será o principal assistente para consulta, construções, embasamento para interpretações e rapidez para construção do raciocínio lógico;
- Conhecimento e experiência sem metodologia e ferramenta são rasos: como aplicar na prática o que se aprendeu? Para o adulto, aprende-se o que se identifica que será útil, relevante, que vai servir genuinamente para trazer benefício. Por isso, a abundância da informação está aí, mas quem facilita as conexões e os “a-hás” em sala de aula é o professor. Técnica para isso é tudo;
- A necessidade de cursos e as vantagens do diploma vão persistir no mercado, abrindo portas para professores com experiência profissional.
Assim como a tecnologia facilitou a distribuição do conhecimento, o professor facilita as construções e interpretações em sala de aula, o aprendizado genuíno da habilidade, misturados a uma boa dose de realidade do mercado. É assim que fica o papel do professor, ainda mais necessário e crucial no desenvolvimento de novos profissionais. E aí, ficou com vontade de entrar para esse time? Já fica o aviso: o mergulho é profundo e a vivência é gratificante!
*Karen Machado é membro da Confraria de Executivos do Instituto Connect, Professora da Conquer Business School e executiva do Banco do Brasil;
Giovana Punhagui também é membro da Confraria de Executivos do Instituto Connect e Head de Produto e Conteúdo na Conquer Business School.
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