DIRETO DE MOSCOU, RÚSSIA – Com o triunfo da França sobre a Croácia (4 a 2), neste domingo (15), o técnico Didier Deschamps, alcança aos 49 anos o patamar de lenda da Copa do Mundo. Apenas o francês, Zagallo, pelo Brasil, e Beckenbauer, pela Alemanha, têm títulos do Mundial como treinador e jogador.
No grande jogo da trajetória do técnico, a França mostrou a mesma consistência que marcou a performance do conjunto em solo russo. Chegou a abrir 4 a 1 até que o goleiro Lloris entregou um gol, na interceptação de Mandzukic. Mas não houve sufoco. Só festa.
“Eu não estou pensando em mim, na verdade, mas evidentemente que eu sinto orgulho disso, é preciso ganhar títulos. Me fez tão mal perder o título europeu dois anos atrás, mas serviu para nos dar mais força. Desmistificamos um pouco essa história de jogos da final, o jogo pertence aos jogadores”, comentou Deschamps.
Deschamps fica em desvantagem somente por ter conquistado a honraria mais velho do que Zagallo e Beckenbauer. O brasileiro foi campeão como atleta em 1958 (Suécia) e 62 (Chile) e no comando do timaço de 1970 (México), aos 38 anos. O alemão, por sua vez, triunfou em 1974 (Alemanha) e na Itália (1990) dirigindo a seleção, com 45 anos.
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O momento de glória vem dois anos após a decepção na Eurocopa 2016. A França teve nova chance de conquistar um título de expressão, mas caiu na decisão diante de Portugal, mesmo sem Cristiano Ronaldo, por 1 a 0. Um choque para a atual geração francesa e seu treinador.
Sucesso que, além da reviravolta perfeita e do ingresso no panteão de “lendas” do esporte, ainda credencia Deschamps para seguir no comando da seleção. Um fracasso e o ex-jogador passaria a sofrer pressão insuportável para deixar o cargo em favor de Zinedine Zidane, outro mito francês, livre no mercado após sair do Real Madrid.
Zidane que foi o principal nome do título francês em 1998, há 20 anos. Na disputa conquistada em casa pela França, Deschamps era o volante do conjunto liderado por Zizou, que atropelou o Brasil na final, por 3 a 0. Capitão, coube ao atual técnico erguer a taça aos céus no Stade de France.
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“São muitas diferenças entre jogar e treinar. Quando você é um treinador você joga pelos seus jogadores em campo. A partida se joga pelos jogadores, meu sucesso depende eles. Quando você é jogador, você gasta energia. Quando se é treinador é mais mental, mais psicologia”, comenta Deschamps.
O treinador teve uma carreira de sucesso fora de campo, especialmente, defendendo a Juventus, da Itália. Deschamps conquistou três scudettos pela Vecchia Senhora, de 1995 a 98. Pela seleção de seu país, foram 103 partidas e quatro gols marcados. Encerrou a carreira no Valencia, em 2001.
A trajetória à beira do gramado iniciou no Mônaco, no ano seguinte. Passou pela Juventus e Olympique de Marseille até ser chamado para a seleção nacional, em 2012, para substituir outro campeão mundial em 98, Laurent Blanc. O começo foi o pior possível: cinco derrotas, quatro empates e quatro vitórias em 13 jogos.
Aos poucos, entretanto, Deschamps conseguiu moldar o grupo francês com sua personalidade, de capitão em campo, e líder fora dele. É reconhecido como um treinador do estilo motivador, que gosta de aplicar a “psicologia de boleiro”. É elogiado pelos comandados por essa faceta.
No primeiro Mundial, no Brasil em 2014, após classificação dramática nas Eliminatórias, o técnico viu a equipe sucumbir diante da futura campeã, a Alemanha, nas quartas. Mas o resultado foi o suficiente para recolocar a seleção francesa no caminho, após o tumultuado torneio na África do Sul.
Em 2010, os franceses chegaram como vice-campeões mundiais e foram embora logo na primeira fase, última colocada, com apenas um ponto, no grupo com Uruguai, México e os donos da casa. Fracasso que de uma equipe em guerra com seu técnico, Raymond Domenech, e abalada por acusações de racismo e diferenças culturais.
Deschamps conseguiu “apaziguar” essa questão — 19 dos 23 convocados pela França nasceram ou têm origem fora de seu país. A única polêmica envolveu o atacante do Real Madrid, Karim Benzema, que acusa o técnico de não o ter convocado por “problemas pessoais”.