DIRETO DE MOSCOU, RÚSSIA – A taça da Copa do Mundo, o que o camisa 10 mais queria, não veio com o revés por 4 a 2 para a França, neste domingo (15). Mas, com o prêmio de Bola de Ouro, de craque do torneio, Luka Modric alcançou o topo da carreira aos 32 anos, com dois gols e uma assistência nas sete partidas em solo russo.
O jogador, principal peça da surpreendente equipe croata, recebeu o troféu sem esboçar sequer um sorriso, como é do seu feitio e, especialmente, após o fracasso em campo. Recebeu o conforto da presidente e torcedora-símbolo de seu país, Kolinda Grabar-Kitarović, visivelmente emocionada.
Modric superou na corrida pelo título pessoal o atacante campeão Griezmann, eleito melhor da decisão e que ficou com a terceira posição na disputa de craque, mesmo com quatro gols e duas assistências. O vice-craque do Mundial foi o meia Eden Hazard, terceiro lugar com a Bélgica, com três gols e duas assistências.
Na grande decisão, o croata teve atuação apenas discreta, sem marcar ou participar diretamente dos dois gols de sua equipe. Distribuiu 65 passes com 90,3% de acerto. Fez seis cruzamentos e virou o jogo em cinco oportunidades. Não conseguiu arrematar contra o gol de Lloris. Veja abaixo o mapa de calor do camisa 10.
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Glória de um jogador que enfrentou a frustração logo cedo. Aos seis anos, foi considerado “muito magro” e tímido” para praticar o esporte e acabou dispensado na primeira tentativa de integrar um clube, o croata Hajduk Split. Foi vingar como atleta apenas aos 15 anos, quando foi incorporado ao Dínamo Zagreb.
Criança também Modric teve de enfrentar as agruras da guerra. Nascido em 1985, encarou a Guerra dos Balcãs, conflito na então República Socialista Federativa da Iugoslávia, em processo de desintegração, que envolveu croatas e sérvios, a partir do início dos anos 90.
O pai do atleta, Stipe, foi obrigado a se alistar ao exército croata. E o avô de Modric, também chamado Luka, acabou fuzilado por sérvios próximo da casa da família, em Obrovac. Diante disso, a mãe reuniu a todos e buscou abrigo no Kolovare Hotel, em Zadar. E num cenário de morte, o meia se refugiou na companhia inseparável da bola.
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Conquistar a Copa do Mundo não era nem sonho para um jogador que enfrentou, ainda, a fúria dos torcedores do próprio país. O meia se viu enrolado num esquema de evasão fiscal liderado por Zdravko Mamic, ex-presidente do Dinamo Zagreb e que foi vice-presidente da Federação Croata de Futebol.
E quando testemunhou a favor do cartola, ganhou a antipatia geral dos croatas. Em depoimento à Justiça sobre o caso, o jogador disse que não se lembrava dos valores de salário e questões básicas de seu contrato com Mamic. Foi hostilizado por torcedores, que o apontaram como uma “vergonha” para a Croácia.