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Putin celebra sucesso da Copa como propaganda política de uma “nova Rússia”

Jonathan Campos/Gazeta do Povo, enviado especial à Rússia (Foto: )

DIRETO DE MOSCOU, RÚSSIA – A Copa do Mundo 2018 foi encarada como um instrumento para que o país sede vendesse uma imagem de desenvolvimento e abertura. Propaganda política que fez efeito com o desenrolar do Mundial sem que, entretanto, seu principal articulador, o presidente russo Vladimir Putin, precisasse se exibir para colher o capital político da organização.

Putin fez apenas duas aparições ao longo do torneio em eventos oficiais. Na abertura, quando viu os donos da casa golearem a Arábia Saudita, por 5 a 0, em largada apoteótica. Vitória surpreendente que rendeu até um telefonema para o técnico Stanislav Cherchesov, para agradecê-lo pelo feito. E, por fim, na final, quando o mandatário desceu ao gramado para entregar a taça e os demais prêmios.

Debaixo de uma forte chuva, cercado por seguranças, o presidente da Rússia foi saudado efusivamente no Estádio Luzhniki ao entrar no gramado para a cerimônia de encerramento. Esteve ao lado de autoridades como Gianni Infantino, presidente da Fifa, e os presidentes de França e Croácia, Emmanuel Macron e Kolinda Grabar-Kitarović, respectivamente.

Ao término do torneio, com o triunfo dos franceses, viu-se o último ato no Mundial do homem que comanda a Rússia com mão de ferro e que passou o mês da disputa enclausurado dentro dos muros vermelhos do Kremlin e em mini-turnês na dacha (a casa de campo dos russos) presidencial. Participação discreta considerando a importância que a Copa ganhou em solo russo.

A guarda do Kremlin, casa de Putin. Jonathan Campos/Gazeta do Povo, enviado especial à Rússia.

Especialmente, porque a situação de Putin é (ou foi) bem diferente do que ocorreu no Brasil, sede dos dois últimos mega eventos esportivos. Em 2014, o Mundial sucedeu os protestos em série do ano anterior, e a então presidente Dilma Rousseff ouviu vaias e até xingamentos na abertura em São Paulo, no Itaquerão. Na Olimpíada, em 2016, o presidente Michel Temer teve de fazer um discurso relâmpago e, mesmo assim, acabou apupado.

Vladimir Putin é o homem-forte do país há quase 20 anos, entre as posições de primeiro-ministro e presidente. Reclusão que contrastou com a onipresença da figura dele, especialmente em Moscou. Com sua pose de herói de filmes de ação, 0 ex-agente da KGB, o serviço secreto russo, está em camisetas, cartazes e todo tipo de souvenir, como matrioskas, canecas, chaveiros etc.

Putin para todos os gostos. Jonathan Campos/Gazeta do Povo, enviado especial à Rússia

Um ídolo pop forjado à força e sem espaço para contestação. Em meio à uma série de polêmicas, que apontam para as relações internacionais conflituosas da Rússia, e problemas internos, tais como racismo, machismo e homofobia, por exemplo, Putin consegue ter aprovação considerável da população. Foi reeleito em março deste ano para mandato até 2024 com 56 milhões de votos, 76,7% do colégio eleitoral.

“Todos o adoram. É um líder que faz o que for melhor para a Rússia. Não importa o que tenha que ser feito. Por isso é tão popular. E a Rússia melhorou muito com o governo dele, para todas as pessoas, pobres e ricas”, diz Toúviu Toychisk, que é vendedor de artesanatos no principal mercado popular de Moscou, o Izmaylovo, ao leste da capital da Copa.

Putin no formato matrioska. Jonathan Campos/Gazeta do Povo, enviado especial à Rússia

A opinião de um cidadão comum resume o sentimento dominante na Rússia. E é o reflexo de um crescimento econômico do país que teve no atual presidente a figura central. Sucessor do pitoresco Boris Iéltsin, Putin foi o responsável por nacionalizar as grandes companhias de petróleo, no embalo do aumento do preço do barril, a partir de 2000. Tirou o poder das mãos dos oligarcas e fez emergir uma numerosa classe média.

Vieram, então, a Olimpíada de Inverno, em Sochi, em 2o14, e a Copa do Mundo, quatro anos depois, como oportunidades para mostrar ao planeta a “nova Rússia“, um país diferente em que nada se assemelha aos tempos de comunismo, regime que entrou em colapso na metade dos anos 80 — ou seja, há pouco tempo para mudanças tão profundas na economia e sociedade da ex-União Soviética.

E embora tenha organizado duas das competições esportivas mais caras da história — Sochi gastou US$ 50 bilhões, o suficiente para bancar a Olimpíada do Rio e a Copa do Mundo no Brasil, e o Mundial de 2018 custou outros US$ 10 bilhões — a ideia geral é de que o plano surtiu efeito. Mesmo, ainda, que alguns estádios estejam a poucos dias de se transformarem em elefantes brancos.

A opinião generalizada, de turistas e imprensa, é que a Rússia organizou um torneio à perfeição. De estruturas confortáveis transporte eficiente, fundamentalmente por causa do metrô de Moscou. Protestos isolados acabaram abafados com pela polícia e não foram registrados episódios de violência significativos — o temor de terrorismo não se confirmou e os hooligans se esconderam diante das ameaças de punição.

Sucesso que o presidente fez questão de comemorar, mesmo antecipadamente, em encontro reservados com ex-astros do futebol e o presidente da Fifa, Gianni Infantino, em reunião no Kremlin. “A Copa ajudou a romper muitos estereótipos sobre a Rússia. As pessoas viram que a Rússia é um país hospitaleiro, amistoso para aqueles que vêm para cá. Tenho certeza de que a grande maioria das pessoas partirá com os melhores sentimentos”.

“Mudou como o mundo vê a Rússia. Em todas as cidades sede, quem veio aqui viu um país bonito, que nos recebeu com braços abertos. Cultura e história ricas. Preconceitos  desapareceram. E graças ao Mundial. Antes eu cheguei a dizer que seria e melhor Copa da história: agora posso confirmar, é a melhor da história”, comentou Infantino, em entrevista coletiva, nesta sexta-feira (13).

Tudo saiu como Putin queria. Até o time russo, encarado como piada pelos torcedores locais antes de a bola rolar, pior seleção no ranking da Fifa entre as participantes do torneio, surpreendeu e acabou batida apenas nas quartas-de-final, para a finalista Croácia. O recado foi dado pela Rússia, especialmente para os numerosos rivais do país no cenário internacional.  E sem que o presidente quase não tenha aparecido.

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