DIRETO DE MOSCOU, RÚSSIA – O VAR foi uma das principais atrações da Copa do Mundo de 2018 e acabou utilizado até na finalíssima entre França e Croácia, 4 a 2 para os franceses. Num primeiro momento, o árbitro argentino Nestor Pitana não viu o lance da mão na área croata. Consultou o árbitro de vídeo e anotou o pênalti que Griezmann converteu.
Empregado pela primeira vez em um Mundial, o árbitro de vídeo interferiu no rumo das partidas, classificações e levantou polêmica. E, de acordo com os números, modificou, para melhor, o jogo de futebol, tese que é defendida com ardor pela Fifa.
Por se tratar da estreia do sistema, ainda é prematuro relacionar diretamente o recurso eletrônico com estatísticas mais positivas na comparação com outros torneios. Mas, ao menos três pontos apresentam uma melhora e, todos os três, podem estar ligados ao VAR.
Da mesma forma, é certo que o árbitro de vídeo ainda precisa de ajustes e melhorias no seu funcionamento. O debate é absolutamente necessário. Bem como um entendimento mais completo de quando deve interferir e, ainda, qual a urgência ou não de se aplicar na disputa de outras competições.
Por fim, avaliando um impacto negativo do recurso eletrônico, o tempo gasto para as consultadas, os números apresentados pela Fifa demonstram que o VAR consome apenas 1,5% dos minutos de bola parada de uma partida do Mundial. Segundo a entidade, que é defensora do sistema, se gasta 38 segundos em média por jogo.
Por trás das intenções da Fifa está o desejo de trazer mais justiça para os resultados. E, na mesma proporção, diminuir as intermináveis polêmicas sobre se determinados lances foram ou não acertados pela arbitragem. De acordo com a entidade, não há como eliminar os erros, mas a ideia é chegar próximo disso.
Qual o impacto no futuro? Ainda é cedo para prever. Mas já há mudanças no presente. Veja a análise abaixo:
Copa com menos cartões vermelhos
No Mundial da Rússia foram distribuídos (bem) menos cartões vermelhos do que nas três edições anteriores. Até antes da final, somente dois jogadores foram expulsos diretamente pelos árbitros e outros dois atletas deixaram o campo após receberem o segundo cartão amarelo.
Os expulsos diretamente foram Carlos Sanchez, da Colômbia, por ter evitado um gol com a mão diante do Japão, e Michael Lang, da Suíça, ao cometer falta que deixaria um jogador da Suécia livre para marcar. Ou seja, nenhum dos dois foi para o chuveiro mais cedo por causa de uma agressão ou algo do tipo.
Os números do torneio em solo russo são muito inferiores aos das Copas anteriores. No Brasil, há quatro anos, houve oito expulsões (8) em 64 partidas. Mesmo que a maioria não tenha sido por agressão, representa quatro vezes mais do que no torneio deste ano.
Qual a tese da melhora do jogo por causa do VAR?
Vigiados por ao menos 33 câmeras, os jogadores entenderam que qualquer tentativa de agressão será percebida pelo árbitro de vídeo e, mesmo que o juiz de campo não tenha visto, o cartão vermelho virá. Uma das atribuições do VAR é interferir em lances de expulsão.
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Numa das quartas de final, Barrios, da Colômbia, deu uma cabeçada em Henderson, da Inglaterra. O árbitro americano Mark Geiger não viu, mas foi avisado pelo VAR. No entanto, após a avaliação do lance, o volante colombiano foi advertido somente com o amarelo.
Números
Alemanha 2006: 9 cartões vermelhos diretos e 19 vermelhos pelo segundo amarelo em 64 jogos.
África do Sul 2010: 9 cartões vermelhos diretos e 8 vermelhos pelo segundo amarelo em 64 jogos.
Brasil 2014: 8 cartões vermelhos diretos e 3 vermelhos pelo segundo amarelo em 64 jogos.
Rússia 2018: 2 cartões vermelhos diretos e 2 pelo segundo amarelo em 64 jogos.
O VAR proporcionou a marcação de mais pênaltis e, portanto, mais gols foram assinalados na Copa
A Copa do Mundo da Rússia é recordista em marcação de pênaltis na comparação com os mundiais recentes. Na comparação com o Brasil, há quatro anos, quando ainda não existia o VAR, foram anotados 13 pênaltis, enquanto na Rússia 29 foram assinalados — ou seja, mais do que o dobro.
Qual a tese da melhora do jogo por causa do VAR?
O árbitro de vídeo possibilitou que pênaltis que não foram notados pelo juiz de campo tenham sido corrigidos. O Mundial teve sete penalidades que não foram dadas num primeiro momento, uma delas na final entre França e Croácia, e que na sequência, acabaram efetivadas com o auxílio eletrônico.
Por outro lado, o sistema também possibilitou que pênaltis apitados acabassem revogados, como o que ocorreu com Neymar, diante da Costa Rica. No triunfo do Brasil por 2 a 0, antes da abertura do marcador, o atacante caiu na área e o árbitro holandês Bjorn Kuipers apontou. Depois, mudou de ideia.
Foram três os pênaltis retirados pelos juízes na Rússia e sete marcados com a ajuda VAR. Fazendo os cálculos, o torneio teria quatro pênaltis a menos se o árbitro de vídeo não tivesse sido empregado.
Números
França 1998: 18 pênaltis em 64 jogos.
Coreia do Sul e Japão 2002: 18 pênaltis em 64 jogos.
Alemanha 2006: 17 pênaltis em 64 jogos.
África do Sul 2010: 15 pênaltis em 64 jogos.
Brasil 2014: 13 pênaltis em 64 jogos.
Rússia 2018: 29 pênaltis em 64 jogos.
Copa teve alto índice de gols de bola parada
A Copa do Mundo da Rússia foi um festival de gols de bola parada. Foram, ao todo, 71 gols dos 169 anotados ao longo de 64 partidas disputadas, o que representa cerca 42% do total. Destes, 22 partiram de cobranças de penalidade (13%).
Uma diferença grande na comparação com a Copa no Brasil. Há quatro anos os gols de bola parada representaram apenas 22% do total. Foram 38, sendo 11 de pênaltis. As estatísticas desse tipo de lance nos jogos em solo russo também estão infladas na relação com os mundiais anteriores.
Vale o mesmo para o Mundial anterior, na África do Sul, em 2010, quando foram marcados 145 gols, sendo apenas 22% de bola parada, considerando nove a partir de pênaltis. Veja o gráfico abaixo, do site Footstats, com os números dos outros torneios (as marcas da Copa da Rússia estão desatualizadas na imagem).
Qual a tese da melhora do jogo por causa do VAR?
O incremento nos gols de bola parada foi alertado pela própria Fifa, em encontro do seu grupo de estudos técnicos com os jornalistas. De acordo com a entidade, com a vigilância do VAR, os jogadores estão mais preocupados que um agarrão ou empurrão dentro da área possa ser interpretado como pênalti.
Já se tornou praxe entre os árbitros da Copa, antes das primeiras cobranças de escanteios ou faltas de uma partida, avisar aos atletas que o VAR está “de olho”. Dessa maneira, os avantes ficariam mais “livres” para buscar um posicionamento e atacar a bola na direção do gol.