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Cristina Graeml

Cristina Graeml

Cidadania política

Sobre acertar ou se arrepender de um voto de confiança

Tenho recebido muitas mensagens de desabafo de pessoas desiludidas com o voto de confiança ou o apoio que deram a determinados políticos, com quem acabaram se decepcionando. E tenho lido também centenas de comentários de leitores ou seguidores nas redes sociais da gazeta do Povo e nas minhas próprias, todos nessa mesma linha.

Diante de tanta decepção com políticos - desde deputados que acabam aprovando projetos com os quais não concordamos ou agindo de uma forma que não aprovamos até governadores e prefeitos, que se revelaram ditadores na hora em que a população mais precisava de líderes democráticos -, resolvi falar da difícil tarefa de escolher nossos representantes.

Votar não deveria ser um ato isolado, resumido ao comparecimento à urna, onde aperta-se os números dos candidatos escolhidos, confirma-se a escolha e... acabou. É preciso acompanhar os mandatos dos eleitos para ver como estão agindo e comparar as atuações deles com o que prometiam em campanha, com a postura que pregavam para o público enquanto ainda não tinham cargo e poder.

Isso gera mais conhecimento sobre quem são aquelas pessoas que assumiram o papel de nos representar e ajuda na decisão do voto na eleição seguinte, quando o poder se transfere de volta para nós e somos nós, os eleitores, que escolhemos aceitar ou rejeitar a entrada de determinadas pessoas na vida pública.

Campanha "não reeleja" pode ser uma "furada"

Muita gente prefere sempre votar em novos nomes, acreditando que os que já estiveram no poder antes não merecem reeleição (e infelizmente isso é verdade em muitos casos, talvez a maioria ainda). Mas como acreditar numa pessoa que a gente não conhece? É possível acertar escolhendo um nome novo? A resposta é: claro que sim, mas dá trabalho.

É preciso investigar a pessoa, seu passado, suas realizações. O que ela dizia em relação a temas complexos, como agiu quando se viu diante de decisões. Averiguar se não se contradisse em alguma questão relevante.

Mudar de opinião é normal. Quem está aberto a discussões e aceita ouvir ideias divergentes, até argumentos que se contrapõe aos seus, está mais sujeito a repensar suas próprias ideias e quem, sabe, mudar de opinião se for convencido de que há postura melhor a adotar. Não há problema nisso. O grande problema está em mudar de opinião, ou de modus operandi – a forma de agir – conforme interesses escusos. E é aí que muitos eleitos acabam decepcionando ou traindo mesmo o eleitor.

Como eu disse agorinha, dá trabalho descobrir um mínimo que seja sobre alguém. É preciso investigar. É o que fazem os jornalistas pela essência da profissão, que é a busca da verdade. E se há algo com a ser dito é que hoje em dia as ferramentas estão todas na nossa mão. Qualquer um pode dar uma de detetive. Basta vontade e uma certa dedicação para se chegar à verdade sobre a imensa maioria dos fatos.

Como ser detetive de candidatos à política

Se você ouve alguém falar que apoia isso, isso e aquilo... pesquise! Vá nos perfis dessa pessoa nas redes sociais, dê uma navegada na timeline, veja o que ela andou postando sobre o tema. Leia os comentários das pessoas que se manifestaram contra e veja como ela se defendeu, como contra-argumentou. Eu, pessoalmente, gosto de ver se a pessoa tem não só argumentação para defender suas ideias, mas também educação, porque a boa política se dá na discussão civilizada de ideias e não na barbárie da imposição de pensamentos.

Outro bom caminho para o eleitor-pesquisador é ver se o candidato que pede seu voto participou de congressos, debates, entrevistas. Hoje em dia há gravação de tudo, dá até para ler expressões faciais! Acompanhe, tente entender sua linha de raciocínio, veja se as convicções dessa pessoa batem com a suas. Visite sites oficiais e leia nas entrelinhas. Visite também sites de entidades que se opõe àquela visão, veja o que dizem, preste atenção se a pessoa que você investiga é citada em documentos oficiais, se ela assina algo defendendo realmente o que diz defender. Converse com pessoas que possam conhecer essa que você investiga.

Há inúmeras formas de se descobrir se alguém está mesmo falando a verdade ou jogando para a torcida. Temos eleições a cada dois anos. Não podemos deixar de ser vigilantes. Se queremos realmente um Brasil melhor, uma boa administração do estado e da cidade onde moramos, cuidado com o gasto público, atenção a quem mais precisa, respeito às liberdades, respeito às leis, precisamos nos dar ao trabalho, por mínimo que seja, de escolher representantes que pensem e atuem de forma parecida com a nossa.

Não esqueçamos de manter um olhar atento também nos aliados desse candidato. “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és” é um ótimo ditado para ser lembrado pelo eleitor durante a tarefa de definir o voto.

Pessoas que aceitam aliar-se a grupos que agem de forma oposta à que pensamos ser a correta não merecem crédito, mesmo que nos pareçam boas,porque estarão sempre sujeitas a forte pressão. Acordos de véspera de eleição podem ser mero oportunismo também. A chance de candidatos virarem a casaca contra seus apoiadores depois é imensa. Não à toa estamos vendo inúmeros casos assim no Brasil. Como eleitor, você quer ver seu candidato traindo seus apoiadores depois? Continuaria confiando nele?

Quando me consultam sobre alguém em quem votaram, falando em decepção, até com raiva de terem cometido um erro nas urnas, eu tento consolar. Todos já erramos como eleitores alguma vez. Não devemos nos culpar. É impossível acertar 100% das vezes. Estamos tratando de seres humanos, afinal. E seres humanos são falíveis. Mas alerto sobre o trabalho que devemos ter. Todos nós. A cada eleição está mais claro que oportunistas e mal intencionados sempre estarão se vestindo de cordeiro e viram lobos perigosíssimos depois de eleitos, provocando ainda mais desencanto e desesperança na população.

E eu não canso de dar a minha opinião pessoal: errado mesmo é achar que há semideuses, salvadores da Pátria e votar como quem compra ingresso para ver um ídolo do rock ou do cinema, sem sequer assistir ao trailer do filme ou ouvir a discografia que será apresentada no show. O risco de decepção será bem maior.

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