Coral gay é algo tão inusitado que apenas por existir já tem potencial para atrair a curiosidade do público e dar visibilidade para essa parcela da população que há décadas pede para não ser ignorada. Não tenho dúvidas de que bastaria cantar boa música e seria bem recebido, imagino que com salvas e pedidos de bis. Simples assim.
Mas eis que o Coral Masculino Gay de São Francisco (EUA) - sim, este é o nome do coral -, decidiu "lacrar", jogando toda a sua raiva contra os hoterossexuais, especialmente aqueles que têm filhos, em forma de ameaça.
No vídeo "Message From the Gay Community" (mensagem da comunidade gay), publicado no YouTube há duas semanas, o recado está em forma de ameaça de doutrinação de crianças para a agenda LGBT, sob o pretexto de que os pais não estariam sabendo educar seus filhos para respeitar as diferenças.
Parte da mensagem vem circulando nas redes sociais e em grupos de whatsapp e telegram aqui do Brasil, assim como já tinha acontecido nos Estados Unidos. Os posts não trazem a letra completa da música cantada pelo coral de gays, apenas uma parte, com destaque para o refrão.
"Você pensa que nós vamos corromper suas crianças e nisso você está certo. Nós estamos chegando nos seus filhos. A Agenda Gay está chegando à sua casa".
Trecho da letra da música cantanda pelo coral gay, que circula nas redes sociais
É pesado, especialmente pela linguagem facial dos coristas, cheios de caras e bocas exalando raiva, prepotência e deboche. Como era de se imaginar, a repercussão foi muito negativa, o que fez o coral imediatamente saltar para a condição de vítima e sair afirmando que os críticos não entenderam a ironia e o humor do vídeo.
O que diz a música do coral gay
O vídeo o Coral Masculino Gay de São Francisco começa com um breve recado de um dos integrantes: "enquanto celebramos o orgulho do progresso que conquistamos nos últimos anos, ainda há trabalho a fazer. Então, àqueles que ainda trabalham contra a igualdade de direitos, temos uma mensagem". Na sequência, ele começa a cantar.
"Você acha que nós somos pecadores, você luta contra nossos direitos, diz que nós levamos vidas que você não pode respeitar, mas você está apenas com medo, porque pensa que nós vamos corromper seus filhos se nossa agenda não for cancelada. Que engraçado, apenas desta vez, você está certo."
O corista não apenas canta, mas encena. Acompanhando as palavras, ora há sorrisos maliciosos, ora uma sisudez digna de quem vive indignado. E há mais um jogo de cena a partir dali. Ele vai sorrindo e deitando a cabeça num ombro e no outro, para parecer algo doce e agradável de ouvir, justo na parte em que começa a ameaçar.
“Nós vamos converter seus filhos. Acontece pouco a pouco, de forma silenciosa e sutil. E você mal irá notar.”
A letra segue falando diretamente aos pais, dizendo que eles podem manter os filhos longe da balada, podem até alertar as crianças para vestirem as calças de um modelo específico usado em São Francisco, porque para eles, do coral, isso pouco importa. De novo com sorriso debochado nos rosto, voltam as ameaças.
“Nós vamos converter seus filhos, vamos forçá-los a ser tolerantes e justos”.
E quem disse que as crianças de São Francisco, ou do mundo, não são tolerantes e justas? Quando pronuncia estas duas palavras, aliás, o corista volta a estampar a fisionomia séria, meio raivosa, deixando clara a linguagem facial para reforçar o sentimento de revolta com o mundo.
O segundo cantor invade a tela para acrescentar que "no começo eu não entendia por que você estava com tanto medo que seus filhos se transformassem em pessoas carinhosas e abertas à aceitação, mas agora vejo que você tem um problema com isso". Ao lado do primeiro cantor, volta com as ameaças e o deboche.
"Exatamente como você imaginava, como se preocupava, seus filhos vão mudar de grupo de amigos, você não vai aprovar os lugares para onde vão à noite para protestar."
"Você vai ficar enojado, vai achar horrível quando eles começarem a encontrar coisas online que você manteve longe de seus olhos, como informações. E adivinhe? Você ainda estará certo. Nós vamos converter seus filhos, suas crianças, pode apostar que vamos. Não há como escapar disso, vamos mudar até a gramática."
A cantoria segue por quatro minutos, com os dois cantando que o mundo está ficando mais tolerante e mais alegre, que é melhor aprender a amar e a lidar com essa 'moda'. E repetindo várias vezes o refrão ameaçador, dizendo que eles vão converter nossos filhos, "porque alguém precisa ensiná-los a não odiar".
Ao ouvir esse trecho em específico lembrei dos campos de "reeducação" da China, onde o governo mantém presas as pessoas que desrespeitam as regras do regime tirânico e "ensina" como se deve ser fiel à ditadura.
Na parte em que o coral inteiro está na tela, todos os cantores usam expressões faciais para passar uma ideia de que o alerta trazido por aquela "mensagem da comunidade gay" é algo irreversível, já que, afirmam, eles vão dominar as mentes das crianças e jovens e os pais nada poderão fazer quanto a isso.
“Nós estamos chegando nos seus filhos. Suas crianças vão se preocupar com justiça, trabalharão pelos outros e vão ajudar a converter irmãos e irmãs. Logo estaremos quase convertendo você através de seus filhos. A agenda gay está chegando aos lares. A agenda gay está próxima”.
Repercussão e vitimização
A reação das famílias a tamanha provocação foi imediata. Após a repercussão negativa, que teria gerado até ameaças de morte a integrantes do grupo, o coral partiu para a defensiva e adicionou à descrição do vídeo no YouTube, site e redes sociais uma "declaração" (datada de 9 de julho de 2021).
Para ler a íntegra, em inglês, acesse a descrição do vídeo aqui. Em resumo, a declaração explica que o Coral Masculino Gay de São Francisco foi fundado, em parte, para combater a discriminação e o preconceito contra todas as pessoas, mas hoje os coristas estão enfrentando assédio, acusações e até ameaças de morte por causa da "performance satírica Mensagem da Comunidade Gay".
"Colocamos o vídeo em modo privado para reprimir a intolerância e as respostas odiosas de pessoas, em sua maioria, anônimas. Após reflexão, tornamos público para que todos vissem o humor satírico e obviamente irônico."
Quem viu o vídeo, tem filhos e não concorda com imposições de agenda feitas em forma de ameaças, não viu nada de "obviamente irônico" naquilo. O coral, porém, é insistente: "Queremos que todos julguem por si próprios. Não nos permitiremos, mesmo diante de ameaças de morte, recuar ou nos curvar às tentativas de distorcer nossas palavras, significado e humor."
Por fim, agradece os esforços do Departamento de Polícia de São Francisco pela rápida resposta e assistência após a denúncia das ameaças que o coral recebeu.
Se houve realmente ameaças de morte a integrantes do coral, a polícia tem mais é que investigar e punir conforme as leis locais. No Brasil ameaçar alguém de morte também é crime. E tanto nos Estados Unidos como aqui a liberdade de expressão é prevista na Constituição e precisa ser garantida.
Gostando ou não da opinião dos outros, é preciso saber que todos têm o direito de falar o que pensam (ou de cantar o que quiserem), desde que não se escondam no anonimato, porque se estiverem mentindo, difamando, injuriando, caluniando ou ameaçando outras pessoas, também estão sujeitos a processo, multa e até prisão, dependendo do caso.
Se o coral extrapolou, provocando os pais, ameaçando doutrinar as crianças para uma agenda que não necessariamente é a agenda das famílias, precisa saber que também os pais têm o direito de se expressar e dizer que não, o coral ou a comunidade LGBT não são donos da educação nem das mentes das crianças e jovens. E não vão conseguir impor suas ideias aos outros nem fingindo que são "engraçados ou irônicos".
Aceitação de diferenças não se consegue à força
Ainda que estejam conseguindo se infiltrar na publicidade, na cultura e até na educação de crianças, os gays, lésbicas e simpatizantes adeptos da linha da provocação seguem encontrando resistência e isso é legítimo. É com debate respeitoso que se progride e não com agendas impositivas.
É uma pena que os movimentos LGBT tenham se desvirtuado e se transformado em tiranos da ideologia. Estão, sim, conseguindo visibilidade, mas de forma extremamente negativa. Em vez de tolerância, atraem um desprezo à causa que talvez jamais tenham enfrentando, nem mesmo quando os temas da opção e orientação sexual eram tabu e ficavam entre quatro paredes.
Não à toa muitos homossexuais e transexuais, hoje bastante livres para se mostrar ao mundo, estão saltando fora desses movimentos. Canso de receber mensagens e e-mails de gays, lésbicas e até de pessoas trans que não toleram essa agenda raivosa, nem a forma como partidos de esquerda sequestam a causa LGBT. Ninguém deu a eles procuração para atuar como representantes dessa comunidade, afinal.
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