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Cristina Graeml

Cristina Graeml

"A meta de uma discussão ou debate não deveria ser a vitória, mas o progresso". Joseph Joubert.

Cuba: artistas censurados e presos

Cuba: censura e prisões ilegais marcam o fim da ilusão dos artistas com o socialismo

Cuba censurando e prendendo artistas, jornalistas e intelectuais é mais uma prova de que o socialismo não respeita as liberdades individuais, sequer a liberdade de expressão. Por ironia essas são algumas das categorias profissionais que costumam fechar os olhos aos horrores das ditaduras socialistas a admitir seu fracasso.

Pense quantas vezes você já viu artistas defendendo as maravilhas do socialismo e citando Cuba como exemplo. Ou viu no cinema, na televisão, no teatro, em aulas, livros, teses acadêmicas ou debates jornalísticos que lá a educação é de primeira, que o país forma médicos exemplares, que há atendimento de saúde, emprego e comida para todos e o povo é livre.

Neste fim de 2020, a classe artística e a intelectualidade deste suposto paraíso sofrem forte repressão, com censura e prisões arbitrárias, apenas porque alguns de seus membros decidiram romper o silêncio e mostrar a realidade de miséria em que vivem os cubanos.

Cuba censura e prende artistas

Para entender o que ocorre hoje na eterna "ilha de Fidel" é preciso voltar dois anos no tempo. Em 2018 artistas de Cuba se uniram a intelectuais e acadêmicos para criar o movimento batizado de San Isidro. A ideia era fazer oposição a um decreto do ditador Miguel Díaz-Canel Bermúdez, que herdou a presidência de Raul Castro, irmão de Fidel.

Pela divulgação oficial o decreto 349/2018 “regulamentou” a expressão artística no país, mas na verdade o que fez foi proibir diversas formas de manifestação, um típico decreto de censura. A partir dele os artistas do movimento San Isidro começaram a fazer apresentações para denunciar os podres da ditadura cubana.

O que aconteceu depois é um roteiro conhecido: o governo ditatorial proíbe, as mentes mais ousadas e criativas tentam driblar as proibições, mas vão, aos poucos, sendo caladas. O grupo de artistas passou a ser tratado como opositor ao regime e os integrantes começaram a ser perseguidos e presos.

Em 9 de novembro a prisão do rapper Denis Solís foi o estopim para o movimento crescer. As manifestações se tornarem muito mais frequentes na ilha e também em Miami, nos EUA, onde vivem milhares de imigrantes fugidos do socialismo cubano.

Segundo um jornal local, que entrevistou testemunhas, o artista foi preso em casa, sem ordem de prisão. A casa foi, aliás, invadida pelos policiais para uma espécie de vistoria. Entraram dizendo que era uma fiscalização para ver se ele estava cumprindo as ordens da vigilância sanitária relativas a viagens. Diante da reclamação óbvia, o músico foi preso por desacato.

Ficou claro que forçaram uma situação para tirar o rapper de cena, literalmente. Em apoio ao cantor e com o intuito de chamar a atenção dos cubanos e do resto do mundo para tamanha arbitrariedade, 14 jovens começaram uma greve de fome na sede do Movimento. Acabaram presos também. Isso foi só o começo da história.

O que aconteceu com a “vacina” cubana, anunciada em março por Guilherme Boulos

Dia 27 de novembro um grupo de 30 artistas, jornalistas e intelectuais conseguiu agendar uma reunião com o ministro da Cultura, Fernando Ross. Tentavam uma negociação pelo fim da censura e da repressão a manifestações artísticas.

Uma semana depois o ministro declarou que estava rompendo o diálogo com o grupo e todos que tinham participado da reunião receberam a “visita” de funcionários do governo, informando que não poderiam mais sair de casa.

Prisões domiciliares

As primeiras informações sobre a prisão domiciliar dos 30 integrantes do Movimento San Isidro que haviam participado da reunião no Ministério da Cultura surgiram nas redes sociais na última sexta-feira (4). A jornalista Lucía Escobar denunciou no Twitter que estava sendo impedida de sair de casa.

“4 de dezembro e novamente a segurança do estado me diz que não posso sair na rua. Desta vez são dois funcionários do Ministério do Interior que estão parados na frente do meu apartamento e, ao tentar sair, um deles me disse: Você não pode sair”.

Jornalista Lucía Escobar, no Twitter

Outros jornalistas denunciaram o mesmo. O perfil do grupo, que ganhou o nome de 27N nas redes sociais, em alusão à data da reunião no Ministério da Cultura, divulgou uma declaração pública “exigindo o direito à liberdade política”.

Esse mesmo perfil vem divulgando a lista de pessoas que estão em prisão domiciliar, entre elas o dramaturgo Julio Garcia, o poeta Mauro Pacheco, a escritora Katherine Bisquet, o ativista Ulisses Padron e os artistas Luís Manoel Otero Alcântara e Camila Lobón, além de jornalistas, professores e cientistas.

Repercussão no Brasil, silêncio da classe artística

Aqui no Brasil a Gazeta do Povo foi um dos jornais que publicaram reportagem sobre a repressão aos integrantes do Movimento San Isidro, mas não houve qualquer empatia da classe artística brasileira pelos colegas cubanos impedidos de atuar e até de sair de casa.

Em geral, os artistas brasileiros costumam fechar os olhos para os abusos cometidos por governos radicais de esquerda, como os da Argentina, Bolívia, Venezuela e Cuba. Gostam, inclusive, de propagar a ideia de que Cuba é um paraíso, sendo constantemente desmentidos por cubanos que moram no Brasil.

A estudante de Direito cubana naturalizada brasileira Zoe Martínez é uma das que relatam a tragédia da experiência socialista em Cuba, denunciando que o governo paga salários muito baixos e distribui comida, mas em pouquíssima quantidade, chegando ao absurdo de fornecer só uma porção de frango por pessoa por semana, como única opção de proteína; na semana seguinte, apenas ovos.

Ela confirma que a educação é gratuita, mas diz que os professores são mal pagos e especificamente para doutrinar e não, ensinar. E são controlados pelo governo. Se não fizerem o que manda o regime, perdem o emprego e são severamente punidos.

Para quem alega ter estado em Havana e visto apenas belezas, a explicação é direta. Quem vai como turista não vê mesmo, porque só tem acesso à parte da cidade feita "para inglês ver". Há inclusive hospital exclusivo para turistas, para que ninguém saiba que nos hospitais que atendem a população falta até papel higiênico.

Hipocrisia socialista

Com dezenas de artistas e intelectuais impedidos de sair de casa e outros tantos presos apenas por terem se manifestado publicamente contra o regime castrista, nesta quinta (10) o governo de Cuba não se furtou a celebrar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, fingindo não estar em franco processo de ataque às liberdades individuais e à liberdade de expressão artística.

O Ministério do Turismo, craque em mostrar para estrangeiros uma Cuba de fantasia, levou funcionários para a rua promovendo aglomeração em plena pandemia, com direito a música e trenzinho, como nas festas infantis. E ainda publicou o vídeo da farra no Twitter com a hastag #CubanosConDerechos (tradução: Cubanos com Direitos).

Quem acessa sites de jornalismo independente fica sabendo que apenas os funcionários públicos, arregimentados pela ditadura, têm direitos; opositores, não. O site cibercuba.com fez a cobertura das festas pelo Dia Internacional dos Direitos Humanos só para enfatizar que a repórter Iliana Hernández está há duas semanas impedida de sair de casa, apenas porque participou da reunião com o ministro da Cultura no fim de novembro.

O jornal online publicou uma declaração dela, denunciando a prisão domiciliar ilegal e criticando o recente aparelhamento do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que abriu espaço para representantes da ditadura cubana, além da russa e da chinesa.

“Hoje, 10 de dezembro, dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos a ditadura mantém vigilância da minha casa violando os meus direitos, não se pode colocar uma raposa para cuidar do galinheiro. Foi o que fez a ONU ao aceitar a ditadura no Conselho de Direitos Humanos.”

Jornalista Iliana Hernández, no site cibercuba.com

China, Rússia e Cuba ganham assentos no Conselho de Direitos Humanos da ONU

É sempre bom estar atento ao que acontece em países vizinhos, porque aqui na América do Sul vários já foram governados por socialistas, inclusive o Brasil, sendo que alguns, novamente sob o comando da esquerda, caminham para ser uma nova Cuba ou uma nova Venezuela.

E tem muito brasileiro ainda distraído com isso, sem se dar conta do perigo que ronda o país, basta ver o que aconteceu recentemente nas eleições em São Paulo.

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