É incrível que ainda tenha político que se elege prometendo lutar pelos pobres e, justamente na hora em que pode resolver um problema grave, que só atinge quem é pobre, vota contra. Quem acompanhou a sessão de votação no Senado do novo marco legal de saneamento básico na semana passada viu 13 senadores exatamente nessa situação.

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Não foram um nem dois, foram treze senadores! 13 votaram contra o projeto de lei que promete levar água tratada e rede de esgoto para praticamente todo o Brasil em pouco mais de 10 anos, até 2033.

O projeto faz parte da agenda de retomada econômica após a pandemia, porque vai atrair investimentos para os estados, gerar obras e empregos em boa parte das 5.570 cidades brasileiras. Mas isso era só mais um detalhe pelo qual merecia aprovação.

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O novo marco legal de saneamento básico (PL 4.162/2019), que já vinha sendo discutido bem antes de o coronavírus invadir nossas vidas e roubar as manchetes, vai mudar (para muito melhor) a vida dos brasileiros mais humildes, aqueles que até hoje não têm acesso a água tratada e rede de esgoto. E isso, apenas isso, era motivo suficiente para atrair unanimidade de votos, não?

Pois 13 senadores acham que não, votaram contra o projeto. É importante sabermos quem são eles e de onde são para alertar todo mundo que a gente conhece nesses estados, afinal é a população desses estados que elege políticos assim, queridinhos no discurso de campanha e insensíveis depois de eleitos, preocupados apenas com o próprio umbigo e suas correntes de pensamento.

Ideologia não trata esgoto

Prometo que até o fim do texto trago a lista da vergonha. Antes preciso passar algumas informações. Para não dizerem que não falei por que esses 13 senadores foram contra o projeto, lá vai: a questão é ideológica. Eles acham que saneamento básico só o Estado pode fornecer e recusam-se a rever posições mesmo diante do óbvio.

Está mais do que evidente que o poder público sozinho não consegue levar água tratada e recolher o esgoto das periferias dos grandes centros urbanos e das áreas rurais mais distantes. Razões são várias. Alegam falta de dinheiro para investir em obras de grande porte, dizem que há outras prioridades, até desculpa para a dificuldade que essas populações carentes terão para pagar a conta de água a gente ouve. Como se inadimplência fosse crime de véspera!

Fato é que até hoje as empresas estatais só conseguiram fazer obras e garantir esgoto tratado para mais ou menos metade da população. E segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) 17% dos brasileiros ainda não têm acesso ao serviço de água encanada.

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Como mencionei a razão ideológica por trás do "não" ao projeto, imagino que já tenha lhe ocorrido de que partidos são esses nobres parlamentares. Sim, aquele partido votou, em massa, contra o saneamento básico. Mas teve representantes de vários outros no grupinho. O importante é você saber desde já que todos os 13 colocaram a própria ideologia acima dos interesses da população.

Por se dizerem contra o capitalismo, as empresas privadas, a burguesia e sei lá mais o quê, esses senadores não aceitam de jeito nenhum entregar as obras e o fornecimento de serviços básicos para a iniciativa privada, nem mesmo com as exigências impostas pela lei, de que as empresas interessadas participem de concorrência (aberta também às empresas públicas). Vence quem apresentar o menor preço, prometer o melhor serviço e garantir a entrega das obras dentro do prazo.

O que é o marco legal do saneamento básico

Antes de dar a lista dos senadores contrários ao marco do saneamento quero detalhar um pouco mais o que foi aprovado pelo Senado (e que já tinha sido aprovado antes pela Câmara dos Deputados). Talvez você não tenha acompanhado essa votação e o assunto, embora desinteressante para quem não vive o drama da falta de água e do esgoto a céu aberto, é muito importante.

O novo marco de saneamento básico amplia a participação de empresas privadas no fornecimento de água e na coleta e tratamento de esgoto. Não é privatização. O projeto não diz que apenas empresas privadas podem fazer esse tipo de obra a partir de agora. Ele simplesmente amplia a possibilidade de participação da iniciativa privada.

Da forma como é hoje 94% das cidades são atendidas por empresas estatais e só 6% pelo setor privado. Com a aprovação do PL 4.162/2019 isso vai mudar e é bom para a sociedade.

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A nova lei acaba com a obrigação que os municípios tinham de contratar as empresas públicas de saneamento dos governos estaduais. Agora os prefeitos precisam abrir licitação para contratação de serviços de saneamento e o processo deve ter a participação de empresas públicas e privadas. É concorrência chegando e isso, a gente sabe, gera preços mais baixos e melhoria na prestação dos serviços.

E a nova lei inclui metas para prefeituras e estados levarem o serviço a praticamente todas as casas. É a chamada universalização dos serviços. Até o ano de 2033 a água enganada tem que estar em 99% das casas e 90% delas precisam ter o esgoto recolhido e tratado.

Quem está nascendo hoje em áreas com esgoto a céu aberto e sem água nas torneiras já vai chegar à adolescência em situação completamente diferente. É uma geração, no máximo, para o Brasil estar vivendo uma nova realidade. Isso não é só dignidade para o povo mais carente. É também saúde.

A lista dos 13 senadores pró-esgoto a céu aberto

Como eu disse, os senadores de esquerda, que acham que tudo tem que ficar na mão do Estado, criticaram, alegaram que a água estava sendo privatizada, fizeram aquela gritaria de sempre. Mas muitos acabaram cedendo e votando a favor, porque não havia como não se render ao óbvio: o novo marco legal do saneamento beneficia a população mais carente, vai levar água e rede de esgoto para as periferias e para regiões isoladas, coisa que o Estado prometia há décadas e nunca fez.

Mas vamos à lista dos 13 que votaram contra o marco do saneamento (em ordem alfabética por estado, mas agrupando as regiões):

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  • Sérgio Petecão (PSD-AC)
  • Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
  • Mecias de Jesus (Republicanos-RR)
  • Paulo Rocha (PT-PA)
  • Jaques Wagner (PT-BA)
  • Weverton Rocha (PDT-MA)
  • Eliziane Gama (Cidadania-MA)
  • Veneziano Vital do Rêgo (PSB-PB)
  • Humberto Costa (PT-PE)
  • Jean-Paul Prates (PT-RN)
  • Zenaide Maia (PROS-RN)
  • Rogério Carvalho (PT-SE)
  • Paulo Paim (PT-RS)

Percebeu algo aí? A primeira coisa que chama a atenção são os partidos desses senadores que votaram contra. Seis são do PT (bancada unida contra o povo pobre). Os outros sete são um de cada partido: Rede, PDT, PSB, PSD, Republicanos, Cidadania e PROS. Algumas dessas siglas são do chamado Centrão, mas tem os clássicos da esquerda aí também (Rede, PDT, PSB), aqueles que se vendem como muito preocupados com as pessoas mais pobres e humildes.

Pois as pessoas mais pobres e humildes moram em lugares onde não há rede de esgoto e nem sempre tem água tratada para beber, tomar banho ou limpar a casa e as roupas. E elas não estão nem aí para a ideologia de quem quer que seja. Querem viver com dignidade, saúde e um mínimo de conforto.

Tem uma outra informação chocante na lista: os estados desses senadores. Tirando Paulo Paim, que é do Rio Grande do Sul (PT), todos os outros são de estados no Norte e do Nordeste, justamente as regiões que mais precisam de saneamento básico. Fiz questão de buscar informações no site do IBGE para mostrar a quem esses senadores deram as costas.

76 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à rede de esgoto. Destes, adivinhem? 63% moram no Norte e no Nordeste. São mais de 46 milhões de nortistas e nordestinos até hoje vivendo em lugares com esgoto a céu aberto, como mostra a Síntese de Indicadores Sociais (SIS-IBGE/2018). E segundo o IBGE não é só população rural. Nos grandes centros urbanos do Norte e Nordeste a situação de saneamento também é pior do que áreas urbanas de outras regiões.

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Eu sinceramente gostaria de saber o que os senadores dessas regiões que votaram contra o marco do saneamento básico vão dizer na próxima campanha. Atenção eleitores do Acre, Amapá, Roraima, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia e também do Rio Grande do Sul. Tem senador de vocês que prefere esgoto a céu aberto do que permitir obras de saneamento, ainda que por empresas privadas.

E eu abro o olho do pessoal do Maranhão e do Rio Grande do Norte, porque dos 3 senadores desses estados 2 votaram contra o projeto. Que bom que eles perderam, porque a maioria votou a favor. O Brasil já tem um novo marco legal de saneamento básico.