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Cristina Graeml

Cristina Graeml

Reflexão e conscientização

Dia Internacional da Mulher sem “mimimi” e com um olhar também para os homens

Não posso me queixar da minha condição de mulher. Tem dores e delícias como, aliás, imagino que seja a vida para os homens. Nunca enfrentei grandes problemas apenas por ser mulher. É impossível negar, no entanto, que o fato de termos menos força física nos coloca em muitas situações de medo, às vezes até de submissão e daí para descambar para algo pior é um passo.

As estatísticas de feminicídio, violência doméstica, estupro, assédio sexual, sem falar em discriminações no mercado de trabalho - entre elas as diferenças salariais entre homens e mulheres que exercem a mesma função com igual competência -, infelizmente fazem a necessidade de uma data para celebrar a mulher ser sempre atual.

Portanto, embora não me coloque entre as vítimas de qualquer tipo discriminação, recuso-me a ignorar o Dia Internacional da Mulher. E se você é daqueles que já saem disparando que isso é "mimimi", que se não há dia do homem não precisa haver um dia da mulher, ou se você é uma das muitas mulheres que repetem bordões como “dia da mulher é todo dia, não tem nada que ficar celebrando em uma data específica” eu já vou logo dizendo que 8 de março é um dia de reflexão, como, aliás, devem ser todas as datas ditas comemorativas.

Vamos parar de esvaziar uma data que pode e deve ser usada para melhorar as relações entre homens e mulheres em casa, nas escolas e universidades, no trabalho e no convívio social. Mais do que isso, vamos assumir que ridicularizar uma data como esta só piora as condições de vida daquelas mulheres que, ainda hoje, são sim tratadas como inferiores aos homens, injustiçadas, humilhadas, agredidas e até assassinadas só por serem mulheres.

Olhando para os homens no Dia da Mulher

Com esse texto e com o vídeo acima, compartilhado nas redes sociais da Gazeta do Povo, eu pretendo atrair mais compreensão também para os homens que respeitam mulheres, são solidários e justos, mas que se sentem perdidos no dia internacional da mulher.

Um colega aqui da redação comentou que nunca sabe como se portar no dia 8 de março, não sabe se se cumprimenta as mulheres, porque algumas se ofendem dizendo que não há nada para comemorar, que é tudo bobagem, e outras se ofendem se não forem cumprimentadas. E aí, claro, ele tem medo de não cumprimentar e ser classificado como machista.

Achei as considerações dele pertinentes e, confesso, me senti incomodada a ponto de resolver trazer para cá a minha resposta a ele e a reflexão que nós dois acabamos fazendo. O Dia Internacional da Mulher é uma data importante, porque propõe que ao menos em um dos 365 dias do ano (366 no caso de 2020 e dos outros anos bissextos) a gente reflita sobre a condição da mulher no mundo e, identificando injustiças a partir dessa reflexão, se manifeste, denuncie, ajude aquela mulher que sofre discriminação ou violência.

Pessoalmente, não acho que é o caso de dar parabéns, afinal é uma data concebida como dia de conscientização e não de celebração. Mas tenho certeza que nenhuma mulher vai reclamar ao receber uma flor ou uma palavra de carinho, de valorização pelo que faz, uma oferta de ajuda ou apoio para que alguma tarefa pesada fique mais fácil.

História do 8 de março

Acho oportuno trazer um pouco de história. A data é celebrada oficialmente desde 1975, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) estipulou o 8 de março como Dia Internacional da Mulher através de um decreto. Outras datas, porém, já tinham sido usadas antes como dias de luta de mulheres de grupos específicos e em alguns lugares do mundo. Num congresso de mulheres socialistas na Dinamarca, em 1910, uma ativista alemã já tinha sugerido escolher um dia específico para chamar atenção para causas femininas.

O evento comumente associado ao Dia Internacional da Mulher é o da tragédia numa fábrica de roupas em Nova York no ano de 1911. Um incêndio no prédio onde a tecelagem funcionava resultou na morte de dezenas de costureiras, que não conseguiram deixar o local porque havia portas trancadas e a escada de emergência ruiu com as chamas. Muitos apontam como sendo este o motivo para o surgimento de uma data de reflexão sobre condições de trabalho e de vida das mulheres em todo o mundo.

Nesse incêndio específico, mulheres e homens morreram, mas como era uma tecelagem, com gente trabalhando especialmente na costura, a fábrica atraía naturalmente mais empregados do sexo feminino. O fato é que 129 mulheres e 21 homens morreram queimados ou asfixiados pela fumaça. As condições de trabalho eram realmente precárias, não só pelas portas trancadas, que, diz-se, visavam impedir a saída dos trabalhadores antes da hora e acabaram contribuindo para a tragédia. Os próprios relógios eram cobertos para as pessoas perderem a noção de quanto tempo haviam trabalhado.

Essas costureiras já tinham feito uma greve no ano anterior, reclamando por melhores condições de trabalho. A tragédia do incêndio com tantas mortes causou comoção nacional, 100 mil pessoas acompanharam os funerais e, depois disso, as coisas começaram a finalmente mudar para os trabalhadores de indústrias nos Estados Unidos e no resto do mundo.

Como agir para melhorar a situação de mulheres injustiçadas e agredidas

Independentemente de ser esta tragédia ocorrida em 1910 a inspiração para a data criada em 1975, fato é que ainda há muita mulher trabalhando em condições desiguais às dos homens; sofrendo nas ruas e em muitos dos lugares que frequenta violência de todo tipo (perseguição, humilhação, até agressões mesmo) e aí cabe, não só reflexão, mas ação.

No Brasil assédio sexual é crime; feminicídio é crime; existe uma lei específica – a Lei Maria da Penha - para proteger a mulher e punir o agressor; e um número de telefone, o ligue 180, para denúncias.

Então vamos refletir sobre tudo isso? Basta não ridicularizar a data e agir para mudar o que está errado, protegendo mulheres vítimas de injustiças e de violência e valorizando sim as mulheres, que trabalham duro e com muito amor, seja em casa, nas escolas e universidades, nas empresas ou no serviço público.

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