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Cristina Graeml

Cristina Graeml

"A meta de uma discussão ou debate não deveria ser a vitória, mas o progresso". Joseph Joubert.

Estupro culposo e fake news

Perito explica edição em vídeo do caso Mariana Ferrer e condenação do Intercept

Entrevista com Wanderson Castilho, perito que descobriu a edição no vídeo divulgado pelo The Intercept Brasil na falsa notícia de absolvição de réu por "estupro culposo" contra a influenciadora digital Mariana Ferrer. Na verdade ele foi absolvido por falta de provas.

A edição das imagens do julgamento, comprovada pelo perito, foi feita de forma a dar a entender que o juiz e o promotor do caso tinham sido coniventes com a intimidação da suposta vítima de estupro pelo advogado do réu durante a audiência de julgamento. E o texto insinuava que o empresário acusado por Mariana foi inocentado, porque "não teve a intenção de estuprar", possibilidade não prevista no código penal e que sequer foi citada no processo.

Por causa da reportagem e da intensa divulgação feita nas redes sociais o juiz e o promotor do caso, bem como suas famílias, viraram alvos de discurso de ódio e passaram a sofrer até ameaças de morte. Foram eles que contrataram o perito digital para provar que o vídeo do julgamento foi editado.

Intercept, ND Mais e jornalista que assina as matérias são processados

Depois do resultado da perícia o juiz e o promotor do caso Mariana Ferrer entraram com uma ação por danos morais e reparação contra os sites The Intercept Brasil e Notícias do Dia - ND Mais, ligado à Rede Record de Santa Catarina, além da jornalista Shirley Alves, que assina as reportagens.

Na investigação, o perito especializado em crimes digitais Wanderson Castilho descobriu que a jornalista já tinha publicado a mesma reportagem em setembro no ND Mais, sem conseguir, no entanto, repercussão.

O barulho só veio com a publicação no Intercept e a divulgação em massa do conteúdo nas redes sociais, o que provocou uma imensa onda de ódio contra o juiz, o promotor, jornalistas e empresas de comunicação que se recusaram a ceder à pressão das milícias digitais por apoio à tese do "estupro culposo".

"Estupro culposo" e manipulação de vídeo geram condenação

A primeira decisão judicial saiu na última sexta-feira (11). O sites The Intercept Brasil e ND Mais estão obrigados a se retratar publicamente, corrigindo a notícia que induziu a sociedade a erro de interpretação e publicando nova matéria, com o mesmo tamanho, espaço, sem deturpação de informações e com igual força de divulgação nas redes sociais.

O caso do The Intercept é mais grave, porque, além de corrigir os erros de informação, precisará explicar que o vídeo constante da primeira publicação tinha imagens manipuladas.

Ambos os sites, The Intercept e ND Mais, terão que deixar claro que o termo "estupro culposo", foi uma invenção, não consta do processo e não foi mencionado pelo juiz ou pelo promotor durante as audiências.

O The Intercept Brasil já tinha esclarecido isso, após ser desmentido pelo promotor Thiago Carriço de Oliveira e pelo juiz Rudson Marcos. A explicação do site foi que a repórter usou o termo para facilitar ao leitor a compreensão do motivo da absolvição do réu, mas a juíza responsável pelo processo de danos morais não achou suficiente.

"Se esse proceder é um 'artifício usual ao jornalismo' — palavras extraídas da matéria da ré The Intercept —, tal recurso, em minha singela opinião, deve ser revisto, sob pena de que a utilização de palavras descontextualizadas e que não definem corretamente determinada situação, causarem graves prejuízos a quem, para quem e de quem se informa", disse a juíza ao determinar a correção das matérias.

"Destarte, da análise sumária e objetiva das provas que até aqui se apresentam, concluo que as matérias, em maior parte, informaram os fatos de forma distorcida, inverídica, parcial e sem precisa e prévia apuração dos acontecimentos para sua correta divulgação."

Cleni Serly Rauen Vieira, juíza da 3ª Vara Cível de Florianópolis

Os veículos The Intercept Brasil e ND Mais e a jornalista Schirley Alves terão 48 horas após o recebimento da notificação para corrigir as reportagens já publicadas e publicar a nova matéria, fiel aos fatos, esclarecendo que o promotor e o juiz fizeram sim inúmeras intervenções durante o julgamento, sempre que consideraram exagerada a posição do advogado do réu durante as audiências. E que o homem acusado de estupro por Mariana Ferrer foi inocentado por falta de provas.

Assista à entrevista com o perito Wanderson Castilho clicando no play do vídeo n topo da página.

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