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Cristina Graeml

Cristina Graeml

"A meta de uma discussão ou debate não deveria ser a vitória, mas o progresso". Joseph Joubert.

Importância do voto

É hora de avaliar a administração do prefeito e de seus fiscais, os vereadores

Importância do voto deveria ser algo indiscutível, mas diante de tudo o que vimos e vivemos em 2020, torna-se necessário reforçar a lembrança de que há uma responsabilidade enorme nas mãos do eleitor. Você já acordou para as eleições municipais? Pesquisou bem em quem votar? Ou vai dar seu voto de bandeja justamente no ano em que vimos o quanto a gestão municipal pode interferir, de forma drástica, na vida de todo mundo?

É compreensível que depois de tanta informação e desinformação, tanta briga, tanta politização da saúde muitos não queriam nem pensar em política, mas é justamente agora que é preciso pensar e se manifestar. É na urna que podemos dar resposta aos nossos governantes e mostrar se concordamos ou não com a forma como vêm tratando a população. Por isso vale dedicar o período que falta de agora até domingo para buscar mais informações sobre todos os candidatos, analisar seu passado e plataformas de campanha e escolher bem em quem votar.

Importância do voto nas eleições municipais

Muitos dão valor apenas à eleição para presidente, governador, senadores e deputados, sem se dar conta que é nas eleições municipais, como a deste domingo, que se escolhe quem vai estar à frente da gestão de questões diretamente ligadas ao lugar em que moramos, da qualidade do asfalto das ruas à liberdade para as pessoas circularem e trabalharem.

Foram meses de revelações diárias, algumas ditatoriais, com prefeitos mandando a guarda municipal prender pessoas que estavam sozinhas numa praça ou adolescentes saindo do mar, porque desrespeitaram orientações para não avançar além do calçadão da praia.

Cada um sabe onde lhe aperta o calo e os motivos para desrespeitar regras que deveriam valer para todos. Mas que mal faz à coletividade um jovem atleta ir praticar seu esporte no oceano quando os clubes estavam fechados? No caso citado, ocorrido no Rio de Janeiro em abril, dois nadadores da seleção brasileira infantil foram levados para a delegacia, junto com suas mães, que estavam na areia (uma delas técnica de equipe), porque ousaram ir à praia dar umas braçadas para sair do sedentarismo imposto pela pandemia.

Vimos prefeito espalhando pânico e anunciando a compra de sacos cadavéricos, sem a preocupação de como ficaria o estado emocional das pessoas ao ouvirem isso. Outros ignoraram que havia doentes interessados no tratamento precoce, com recomendação médica para usar os remédios do protocolo do Ministério da Saúde, e não forneceram os medicamentos, restringindo a liberdade de escolha de cada um sobre sua própria saúde.

Se atitudes individuais, nesse caso, não trariam qualquer prejuízo a terceiros; se havia prescrição médica e disponibilidade de remédios, bastando ao prefeito fazer a solicitação junto ao governo federal, por que negar isso à população?

Não estou dizendo que os prefeitos precisavam necessariamente aderir ao tratamento precoce ou que os guardas municipais não pudessem orientar quem estava na rua a usar máscara ou sair da água, por exemplo. Mas impedir que remédios que estão disponíveis cheguem aos doentes que querem seguir as recomendações do seu médico ou mandar prender pessoas que não oferecem risco a ninguém é algo para ser lembrado na hora de votar.

Se na sua cidade o prefeito está tentando se reeleger, reveja tudo o que ele fez neste e nos 3 anos últimos anos. Analise também os demais candidatos e coloque tudo na balança. Lembre-se que países da Ásia, Europa e América do Norte, que estão entrando no inverno, já vivem a segunda onda de Covid-19 e isso pode acontecer com o Brasil no ano que vem. Quem é o prefeito que você quer no comando da sua cidade numa possível segunda onda da pandemia?

Ser eleitor consciente dá trabalho

O Tribunal Superior Eleitoral registrou este ano quase 540 mil candidatos na disputa por uma vaga de prefeito ou de vereador nos 5.570 municípios brasileiros, sendo que 24 mil tentam a reeleição. Será que merecem?

E quem são os outros que se candidataram? É gente que já esteve em algum cargo público eletivo? Se a resposta for sim, o que essa pessoa fez ou deixou de fazer para ter se ausentado do poder por alguns anos e agora estar querendo voltar? É possível que na lista de mais de meio milhão de candidatos haja casos de ex-políticos condenados por crimes contra a administração pública, que pagaram multa, cumpriram pena (até de perda de direitos políticos) e estão de volta.

Isso sem falar nos prefeitos e vereadores que são alvo de investigação ainda em andamento. Esta é a hora de o eleitor dar uma de detetive e descobrir como foi a compra de máscaras, respiradores e outros equipamentos para os hospitais e postos de saúde; como o prefeito gastou o dinheiro público, que é tão escasso. Pode ser que esses investigados não estejam disputando a reeleição, mas com certeza apoiam alguém do mesmo partido ou de alguma legenda coligada. É para eles que você vai dar o voto?

Em relação aos novatos na política é fundamental descobrir por que resolveram encarar esse desafio, o que se propõem a fazer e se têm noção do orçamento disponível. Prometer, afinal, é fácil, mas se a plataforma de campanha não for embasada em estudos sérios sobre a arrecadação e o nível de endividamento municipal, fica difícil cumprir depois tudo o que foi prometido.

No horário eleitoral e nas redes sociais, em meio a muitas frases soltas, surgiram algumas pistas de quem são essas centenas de milhares de candidatos. Surgiram também denúncias, mas isso não é suficiente para decidir o voto. Ser eleitor dá trabalho. Já falei sobre isso em outro artigo, meses atrás, que você pode conferir aqui.

Para ajudar na escolha, lembre o que o prefeito da sua cidade fez nos últimos anos e aquilo que deixou de fazer, entenda se as prioridades dele são também as suas. Caso não esteja pedindo seu voto para ser reeleito, veja quem ele apoia. Não esqueça de avaliar como trata os candidatos que concorrem à mesma vaga por outros partidos e se, quando fazem acusações contra os demais, têm prova do que dizem.

É prudente desconfiar das provas. Não basta ter gente testemunhando contra um candidato, porque em campanha aparece depoimento de todo tipo, apoiadores de bandidos e acusadores de inocentes. Muitos fazem isso apenas por dinheiro; outros, em troca de promessas de recompensa futura, como cargos comissionados ou contratações de obras e serviços de forma ilegal.

Para saber mais sobre os candidatos, seu passado e as propostas que elaborou para a cidade consulte o site dos partidos, os perfis do candidato nas redes sociais, converse com amigos e vasculhe o que foi divulgado pela imprensa. A Gazeta do Povo vem publicando notícias da campanha eleitoral há semanas. Você encontra tudo aqui.

O quociente eleitoral

A escolha de vereador dá um trabalho a mais. Nesse caso é importante avaliar o partido do candidato. Muita gente esquece (ou desconhece) a regra do quociente eleitoral, que pode fazer seu voto ajudar a eleger alguém com ideias opostas às suas, simplesmente porque não se atentou para o partido do candidato escolhido.

Nem sempre os mais votados são os eleitos. É comum candidatos com poucos votos entrarem e outros, com duas ou três vezes mais votos, ficarem de fora. Isso acontece por causa da regra do quociente eleitoral, que leva em consideração, primeiro, a soma de todos os votos válidos (excluídos brancos e nulos), divididos pelo número de vagas na Câmara Municipal.

Assim, se uma cidade tem 100 mil votos válidos e 20 vagas de vereador, o quociente eleitoral para conquistar uma delas é 5 mil votos, mas esse não é o número de votos que um candidato precisa para ser eleito e sim, a quantidade necessária para um partido conquistar uma vaga.

Partidos com muitos candidatos tendem a ter somatória de votos suficiente para levar ao menos uma vaga, ainda que a legenda esteja entre as mais rejeitadas e tenha, inclusive, histórico de envolvimento em corrupção. E, neste caso, o candidato mais votado da legenda é que leva a vaga, às vezes com poucos votos.

Isso resulta da segunda conta prevista na regra do quociente eleitoral: a soma dos votos de todos os candidatos de cada partido. Então, no exemplo citado acima, se o partido do candidato em que você votou tiver, no total, 5 mil votos, o partido conquista uma vaga. E quem vai ocupar essa vaga é o candidato mais votado do partido, não necessariamente o seu.

Quem vota em vizinho, amigo, no tio da pipoca ou no fulano da padaria do bairro, porque gosta da pessoa, precisa pensar nisso. Se esse candidato "legal" tiver votação pior que um colega de partido deplorável, mas conhecido e bem votado, é o deplorável que vira vereador, com a ajuda dos eleitores que queriam o candidato "legal".

Este é o verdadeiro perigo. Ainda aguardando a reforma política que nunca vem estamos de novo sujeitos a ver péssimos candidatos, com poucos votos, ganhando o empurrãozinho do eleitor honesto, mas desatento. Olha para o partido do seu candidato a vereador, o que esse partido defende. Não desperdice seu voto.

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