Na minha última coluna falei do valor da família, que vem sendo resgatado ou reforçado na imensa maioria dos lares brasileiros por conta de estarmos todos, de certa forma, presos em casa. Acredito que esse movimento esteja acontecendo também para os que precisam sair para trabalhar, e talvez até de maneira mais forte, por mera vontade de ficar junto às pessoas com quem dividem a vida.
Ainda que isso não seja resultado de uma repentina consciência coletiva da humanidade, o que seria muito melhor, mas esteja acontecendo em função da situação de confinamento doméstico, fato é que estamos todos diante de uma oportunidade única de olhar com mais atenção e cuidado para as relações de família. Se você não viu o artigo anterior pode acessá-lo aqui.
Daquele pensamento eu pulo para outro, correlato. Hoje eu quero falar de mais uma percepção que o isolamento social está fazendo aflorar e que pode ser de grande valia para quando voltarmos à rotina normal. É o título da coluna e do cartão estampado na tela estática do vídeo acima.
Importância da presença
No meio da enxurrada de notícias e vídeos sobre a pandemia de cornonavírus, vejo nas postagens das redes sociais uma disseminação contagiante do sentimento de saudade. Estamos sentindo falta do contato presencial com amigos, parentes, vizinhos, colegas de trabalho, de esporte, de grupos variados, da igreja. Saudade das baladas e das viagens, que permitem encontrar pessoas novas. Saudade de uma roda de conversa em torno de uma churrasqueira ou de uma mesa de bar, não pelo evento em si, mas pelas pessoas.
Mesmo que as palavras não revelem claramente, imagino estarmos todos num processo de repensar algumas das atitudes que vínhamos tendo desde que nos deixamos mergulhar na tecnologia e consumir por agendas lotadas, em que o excesso de atividades rouba até o tempo que podíamos dedicar a nós mesmos, que dirá para "o outro".
Caso você ainda não tenha caído nessa reflexão de forma mais aprofundada, eis o convite agora. Que tal avaliar a si mesmo respondendo esta pequena sequência de perguntas?
Questionário de autoavaliação
Estou realmente disponível para os outros quando os encontro pessoalmente? Quantas vezes já passei pela situação de estar rodeado de gente e agi como se estivesse sozinho? Quantas vezes não dei total atenção a pessoas que se faziam presentes por estar preso ao celular ou simplesmente ignorei quem estava diante de mim, envolvido que estava numa conversa virtual?
Agora lembre das vezes em que você foi a vítima da indiferença alheia. Pense se já não aconteceu de estar numa festa ou numa mesa cheia de gente e se sentir sozinho, porque ninguém interagia, todos estavam lendo ou escrevendo mensagens para pessoas que não estavam ali. Tente lembrar quantas vezes você fez isso sem perceber que alguém próximo estava disponível para uma conversa, talvez até precisando ouvir e ser ouvido.
São pontos importantes para reflexão. O isolamento dentro de casa é uma ótima chance de avaliarmos se ultimamente não andávamos desperdiçando momentos especiais, de proximidade, em que é possível a conversa olho no olho, o toque, o abraço, risadas de verdade e não desenhos de carinhas gargalhando ou o kkkkkkk das mensagens de texto.
Sugestão
Já que nesse momento não é possível fazer reuniões com amigos, combinar um café, ir a um restaurante ou a uma festa, mas podemos e estamos hiperconectados, minha sugestão é aproveitarmos o período para esgotarmos ao máximo nosso consumo de tecnologia. Até porque, agora, falar ao celular ou pelas redes sociais é tudo o que nos resta para nos mantermos em contato com o mundo lá fora, com quem está longe.
Vamos, então, nos permitir essa overdose de interação virtual agora, mas com reflexão. A quarentena pode ser eficiente não apenas na contenção do contágio do coronavírus, mas também nos ajudando a reconsiderar atitudes para que depois que tudo isso passar e a vida voltar a ser presencial a gente se faça presente de verdade em todas as nossas relações.
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