Manifestantes presos em Brasília no dia seguinte aos atos de vandalismo na praça dos Três Poderes não foram apenas acusados, sem provas, de participação no quebra-quebra. Foram enganados pela polícia do Exército, subiram em ônibus acreditando no que diziam os soldados: seriam levados para local mais seguro.
Hoje, sabe-se que caíram numa emboscada. Depois de passar horas presos em ônibus lotados, muitos deles em pé, enfrentando calor de verão, viajaram por uma estrada vicinal para longe do centro de Brasília. Acabaram largados num ginásio de esportes, como animais à espera do abatedouro.
Num primeiro momento não tinham sido sequer informados sobre o real motivo pelo qual estavam ali. Muitas acreditavam que seria um novo ponto de encontro para demonstrarem sua confiança nas Forças Armadas e pedir que exigissem o código fonte que poderia trazer clareza sobre o ocorrido nas eleições de 2022.
Eram jovens recém entrados na vida adulta, homens de todas as idades, mulheres com crianças e muitos idosos. A maioria demorou para entender que estavam sendo acusados dos crimes cometidos na véspera por vândalos e infiltrados na manifestação verde e amarala ocorrida a quilômetros de distância do QG do Exército onde eles estavam acampados.
Parte considerável dos mais de mil e duzentos presos sequer tinha estado na esplanada dos ministérios na véspera. Ao longo do dia algumas pessoas doentes, atendidas às pressas por médicos do corpo de bombeiros, e também mulheres com crianças foram sendo liberadas.
Os demais enfrentaram uma noite inteira de desespero e incertezas, alguns outro dia e uma segunda noite, até serem ouvidos por um delegado da polícia federal, conseguirem contato com algum parente ou advogado e, tardiamente (muito além do prazo previsto em lei), ficaram diante de um juiz para a famosa audiência de custódia.
Desumanidade é pouco para definir, mas ninguém, absolutamente ninguém das entidades barulhentas de defesa dos Direitos Humanos apareceu no local. Advogados sim, alguns contratados por parentes dos presos, outros voluntários que apareceram para atender até de graça se preciso fosse. E foi.
Socorro a manifestantes presos em Brasília
Na entrevista em vídeo publicada nesta coluna, o advogado Cláudio Caivano, um tributarista que faz parte da Associação SouLivre, formada para defender vítimas de arbitrariedades ou segregação durante a pandemia, explica o que viu no ginásio que funcionou como centro de triagem, mas lembrava campo de concentração nazista.
As revelações são estarrecedoras. Mesmo que os manifestantes presos em Brasília no QG do Exército fossem, comprovadamente, os black blocs e vândalos que depredaram os prédios do Congresso, STF e Palácio do Planalto, jamais poderiam ser tratados à revelia da lei, como foram, conforme afirma o advogado.
Cláudio Caivano defende 15 dos 1.263 manifestantes presos em Brasília em 9 de janeiro. Dois deles já foram liberados. Os outros estão em presídios da capital do DF esperando que o advogado tenha acesso ao processo, o que só é possível visitando pessoalmente o gabinete do ministro Alexandre de Moraes.
Nenhum dos presos têm foro priviliegiado, mas estão sendo acusados de crime por um ministro que não é delegado, num tribunal onde só deveriam tramitar processos contra políticos e autoridades que ocupam cargos públicos de alto escalão e que, efetivamente, cometeram crimes.
Assim caminha a ditadura brasileira, disfarçada de democracia. Assista à entrevista clicando no play da imagem no topo da página. Depois deixe sua reação ao conteúdo e um comentário para contribuir com o debate. Compartilhe com os parentes e amigos para que a verdade chegue a mais gente.
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