Coube a um grupo de amigos negros, não mais que meia dúzia (queriam evitar aglomeração em tempos de pandemia), um pequeno, mas contundente ato de repúdio ao lamentável episódio da noite de segunda-feira (1) em Curitiba, em que supostos manifestantes antirracistas arrancaram e queimaram a bandeira do Brasil hasteada em frente à sede do governo do Paraná, depois de terem pichado e depredado lojas, agências bancárias e pontos de ônibus.
“Estamos aqui representando todos que não podem estar no momento. A gente quer dizer que [os vândalos] não nos representam. Passaram por cima da nossa dor, passaram por cima de tudo o que a gente já sente, se aproveitaram de uma dor que não é deles", disse na manhã de quarta (3) a empreendedora de moda afro Karin Oliveira diante de PMs que cuidam da segurança na sede do Palácio Iguaçu.
O desabafo de Karin e dos amigos não era só para os dois policiais que os receberam em nome do governador Ratinho Jr. e sim para todos que dois dias antes ficaram chocados com as cenas de depredação do patrimônio público praticadas por manifestantes supostamente em protesto contra o racismo.
"O que saiu nas manchetes foi que uma manifestação contra o genocídio da população negra acabou em vandalismo. Essa conta não é nossa. A gente veio limpar esse episódio horrível. Se vocês virem as fotos, são brancos. Negros não aparecem nas fotos. Não fomos nós que queimamos a bandeira. Essa conta não é nossa.”
Karin Oliveira, empreendedora de moda afro em ato de repúdio aos manifestantes que queimaram a bandeira do Brasil em Curitiba dizendo-se antirracistas
Manifestação da Antifa ludibriou os negros
O que ocorreu em Curitiba na noite de segunda (1) o país todo já sabe: houve uma manifestação que tinha sido organizada a título de repudiar toda forma de violência contra negros no Brasil, pegando carona nos protestos dos EUA contra o assassinato de um negro por um policial branco.
Na manhã de quarta (3) ficamos sabendo, por conta desse pequeno grupo que honrosamente esteve na sede do governo do Paraná para desfazer o equívoco, que os negros presentes à famigerada manifestação foram enganados. Conversei por telefone com Karin Oliveira horas depois do ato simbólico em que ela e os amigos entregaram uma bandeira nova aos representantes do governo do Paraná.
“Quando eu vi queimarem a bandeira aquilo me doeu, porque eu fui escoteira, amo o meu país. Não concordo com aquele ato. E aquele movimento contra o genocídio [de negros] eu vi de véspera, no Facebook, mas não conhecia o organizador."
Karin não esteve na manifestação de segunda, mas acompanhou as lives pela internet. "Quando comecei a assistir ao vivo aquela violência toda eu falei, meu Deus, usaram da nossa dor, porque a gente que é negro, a gente sofre muito quando vê pessoas sendo mortas injustamente, para um ato político. É triste. Isso é muito doloroso. Pessoas negras que estavam no ato disseram que eles não tiveram voz, não deixavam que falassem ao megafone. Não sou contra os brancos, mas não concordo que promovam um ato e não dêem voz aos negros. E depois ainda promovam vandalismo.”
Não à toa quando a manifestação descambou para a depredação e o vandalismo já não tinha mais a adesão de negros e estava fora do itinerário combinado, no Centro Cívico, onde ficam a prefeitura e as sedes dos três poderes.
A turma que chegou ao Palácio Iguaçu, atirando pedras em vitrines, agências bancárias, destruindo pontos de ônibus e terminou praticando a contravenção penal (Lei 5.700/1971) de roubar e queimar a bandeira definitivamente não representa os negros de Curitiba. Os arruaceiros nem negros eram!
“Queríamos deixar claro que essa conta do vandalismo e da violência não é nossa, a gente já tem muitas contas nas nossas costas. Sinto na pele diariamente o preconceito, mas não vou sair por aí quebrando tudo e fazendo um ato de rebeldia se eu não quero isso pra mim.”
Karin Oliveira, empreendedora de moda afro
E não, o pessoal da Antifa não fez aquilo para combater o racismo. Quem quer combater um crime não comete outros em nome da sua causa. Também não estavam nem um pouco preocupados com quem quer que seja. Podem ter, inclusive, ajudado a disseminar o coronavírus, já que promoveram uma aglomeração em que a necessidade do uso de máscaras e do distanciamento social sequer foram lembrados.
Alguns tinham parte do rosto coberta, mas por camisas e lenços, como bandidos costumam fazer para tentar esconder-se no anonimato. E sequer foram solidários com as vítimas de Covid-19 ou as famílias dos mortos, já que atacaram da forma mais deplorável possível não só um símbolo nacional, mas o retrato do luto que o estado vive (assim como o resto do país). A bandeira, arrancada e queimada, estava hasteada a meio mastro justamente em homenagem às vítimas fatais da doença.
Por fim, é claro que aqueles vândalos não amam a pátria, seus compatriotas ou o país. Que brasileiro digno faria tal barbaridade com a bandeira e usaria de forma covarde o sofrido povo negro, tão importante para a nossa história e até hoje não reconhecido como merece? Os autodenominados antifas (apelido para “antifascistas”) são exatamente o que dizem combater: fascistas. Como é de praxe em grupos radicais, se apropriam de uma causa que não é deles para simular força e um apoio que não têm.
Karin e o marido, o DJ Cezinha, junto com os amigos Adegmar, Denis, Celio e Thaynee, que enfrentaram a manhã gelada desta quarta-feira para levar a nova bandeira à sede do governo do Paraná, com certeza têm o apoio dos negros, brancos e índios de bem de todo o país. Da equipe de segurança do Palácio Iguaçu, que dois dias antes agiu com firmeza para reprimir os vândalos, o grupo recebeu acolhida.
"Agradecemos por vocês terem essa percepção de dizerem ‘essas pessoas não nos representam, a violência não nos representa’. A sociedade tem que ouvir de vocês isso”, disse o coronel da PM que desceu junto com um tenente para representar o governador e ouvir a turma.
Outras manifestações de repúdio à violência em nome da causa negra
O pequeno grupo de amigos que esteve no Palácio Iguaçu na quarta não foi o único a repudiar a violência dos manifestantes adeptos do vandalismo. Na véspera outro grupo, esse bem grande, já tinha ido ao mesmo local para prestar uma homenagem à bandeira e à pátria. O ato foi convocado por praticantes de lutas marciais e atraiu centenas de atletas e seguidores deles nas redes sociais. Em vez de lutar eles cantaram o hino nacional, como mostra o vídeo abaixo, que circulou no Twitter.
Ao que parece Curitiba soube dar resposta clara a uma minoria barulhenta que costuma gritar "racistas, facistas, nazistas não passarão", mas que pretende passar à força sobre o patrimônio público e o privado, que finge não entender a diferença entre liberdade de expressão e propagação de ódio, entre livre manifestação e desrespeito à pátria e aos povos que formaram a nação brasileira.
Para lembrar que isso não ocorre só aqui termino com outro vídeo que viralizou na internet esta semana, mostrando o protesto de mais uma negra (nos Estados Unidos) contra pessoas que se apropriam de causas que não são suas para aumentar a tensão e tentar desestabilizar o país em nome de ideologias políticas. O vídeo está legendado. Assista!
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