O título é uma provocação. O que você tem feito para que o Brasil seja um lugar melhor para se viver? E antes que você se deixe tomar por aquele sentimento de impotência, que é natural – a gente normalmente acha que é preciso ter poder, um cargo público, ou muito dinheiro para conseguir provocar alguma transformação na sociedade -, quero contar o porquê da pergunta em tom de desafio.
Primeiro um esclarecimento: isso não tem nada a ver com trabalho voluntário, que é muito importante no desenvolvimento do espírito de coletividade e, portanto, de qualquer país, mas é tema para outro artigo. Continue comigo que você vai entender.
Dias atrás eu recebi um vídeo mostrando um artista de rua durante uma dessas apresentações curtas para os motoristas enquanto eles estão parados esperando o sinal abrir. Talvez você já tenha visto. Descobri depois que ele está publicado no YouTube desde 2016 e de lá para cá vem sendo compartilhado exaustivamente pelas redes sociais.
O artista tinha o rosto pintado de branco, um nariz de palhaço, usava um cap e um colete como se fosse um guarda de trânsito. É um profissional de mímica, criativo e talentoso. No vídeo ele aponta para o passageiro de um carro e alerta que é preciso usar o cinto de segurança. Depois olha para a placa do veículo, finge anotar e coloca a multa fictícia no para-brisa.
Até aí está tudo ótimo, é um belo exemplo de como uma ação simples, uma contribuição individual pode ajudar a coletividade, neste caso contribuindo para aumentar a conscientização no trânsito e, por que não dizer, melhorar o país. O problema é o final da performance.
Depois de “aplicar” a multa imaginária o artista se aproxima do motorista para pegar a gorjeta, mas vira o corpo, fica de costas e finge receber o trocado escondido. Aí olha ao redor, como se quisesse ter certeza de que não era observado, volta ao para-brisa e faz outro gesto simulando que retirou a multa. Por fim ainda finge rasgar o comprovante da infração. E vai embora com um sorrisinho de canto de boca.
Eu não sei você, mas essa cena me deixou muito incomodada. Mesmo que a gente saiba que a prática existe - e é reprovável, tanto por parte do agente público que aceita o suborno quanto do cidadão que tenta se livrar da multa comprando o perdão do guarda -, qualquer um que queira realmente mudar o país deveria combater os desvios morais e não divulgá-los, espalhando o mau exemplo.
Provavelmente a intenção do artista não era estimular, mas criticar a prática, antiga e nefasta. O problema é que tanto ele quanto quem aplaude ou compartilha um vídeo desses está ajudando a propagar e a perpetuar a imagem de que o brasileiro é conivente com a corrupção.
Essa cultura da esperteza, do desrespeito às leis e à ética não vai mudar se cada um de nós não tiver a consciência da importância das atitudes individuais para a construção do país que queremos.
Está mais do que na hora de todo cidadão de bem, que quer realmente ver o país livre do carimbo de "povo malandro", refletir sobre as pequenas atitudes do dia a dia, pensar nos exemplos que está passando para as pessoas com quem convive, física ou virtualmente.
Então eu volto à provocação do começo do vídeo: O que você tem feito para que o Brasil seja um lugar melhor para se viver?
Deixe seu comentário, contribua para uma discussão honesta sobre o papel de cada um de nós na construção da imagem do país. E compartilhe esse vídeo para que mais gente entre na corrente da reflexão, sem o risco de estar incentivando quem quer que seja a fazer o que não é certo.
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