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Cristina Graeml

Cristina Graeml

Polarização política

Pandemia de confusão: direitistas de “esquerda” e esquerdistas de “direita”

O Brasil dos últimos anos, assim como o resto do mundo, foi contagiado pelo vírus da polarização. Mais cedo ou mais tarde acabam te enquadrando como sendo de Direita ou de Esquerda. Em tese não há meio termo, até mesmo os que são apontados, em tom acusatório, como "isentões" têm suas ideias e atos classificados ora de um lado ora de outro desse suposto espectro político dual. Na maioria das vezes os juízes morais sequer sabem do que estão falando.

Faz apenas dois meses que escrevo e publico vídeos de opinião e posso falar com conhecimento de causa, analisando as acusações que recebo na área de comentários, que falta conhecimento político básico para muitos dos que apontam o dedo dizendo identificar nas entrelinhas do que escrevo ou digo algo que não escrevi, disse ou mesmo pensei.

Resolvi aproveitar esse espaço, em que se discute costumes, valores, convicções e também política, para dar uma pincelada na história. Vai que consigo trazer um pouco de luz para quem insiste nas classificações taxativas e esquece do quão complexo é o pensamento humano para ser amarrado a apenas uma ou outra definição.

Origem dos termos Direita e Esquerda na vida pública

Como esses termos surgiram na vida pública e o que, na realidade, está por trás dos conceitos de Direita e Esquerda na política atual? A explicação está no século XVIII, na revolução francesa. Os ânimos da população estavam exaltados na França, porque o país vivia uma crise econômica e social muito grande e as pessoas, de camponeses a burgueses, não suportavam mais pagar impostos altíssimos para o rei para sustentar privilégios da nobreza e do clero.

Numa reunião de representantes que formavam a chamada Assembleia Nacional, nobres e padres sentaram à direita, apoiando o rei Luís XVI. Os que eram contra a monarquia absolutista, ficaram à esquerda.

É bom lembrar de novo que à esquerda estava o povo: camponeses e burgueses, que eram o setor produtivo da época, os produtores de algum bem ou serviço, que garantiam algum emprego e renda nas cidades, bem diferente dos empregadores e empresários de hoje que são invariavelmente taxados de Direita, certo?

A França viveu dez anos de batalhas, a revolução derrubou o rei, foi um marco na história da humanidade, porque resultou na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que inaugurou um processo de universalização dos direitos das liberdades individuais no mundo todo. Eu não vou entrar em detalhes da história, porque não sou professora e tudo isso é fácil de pesquisar.

Mas é importante lembrar que, com a revolução francesa, aquela Assembleia Nacional, que dividiu os representantes do povo e da monarquia em Direita e Esquerda foi substituída por uma Assembleia Legislativa, parecida com os parlamentos modernos, onde novos representantes se reacomodaram. Aos poucos não tinha mais apoiador do rei, à direita, mas um centro moderado. E a esquerda também não era só de opositores ao regime, mas formada por gente que defendia interesses diversos.

Essa explicação foi pra dizer que o uso que se faz hoje dos termos Direita e Esquerda não tem relação com o conceito original, que foi mudando ao longo dos dois últimos séculos na França e no resto do mundo.

Direita e Esquerda hoje

Atualmente há quem se diga esquerdista, acuse direitistas de não se preocuparem com os mais pobres, mas defenda cegamente privilégios a poderosos, como o direito de condenados por corrupção continuarem livres, simplesmente porque têm (ou tiveram) algum cargo de alto escalão e dinheiro para pagar bons advogados. E tem os que se dizem de Direita e concordam com algumas concessões típicas de política de Esquerda, como a de dar incentivos fiscais a determinados setores produtivos e até 13º salário para beneficiários de programas sociais do governo.

Querer menos ou mais intervenção do Estado na economia, depende das circunstâncias, certo? Acreditar que a vida em sociedade funciona melhor com Estado mínimo ou se o Estado for dono de quase tudo (inclusive o maior empregador) são visões políticas e econômicas diferentes, que variam conforme o momento que o país vive. A pandemia de coronavírus e a consequente necessidade de quarentena é um excelente exemplo de como nossas visões do que os governantes devem fazer mudam ao sabor das urgências.

Achar um ponto de equilíbrio e de justiça entre quem produz e paga imposto e quem ainda não conseguiu ter capacidade própria de gerar renda é um dos grandes desafios do mundo moderno. E não é alimentando o antagonismo e a intolerância que a gente ajuda o Brasil a progredir.

Você pode achar o que quiser, mas é preciso respeito às diferenças de pensamento. Enquadrar todo mundo o tempo todo em uma ou outra definição, ser mola propulsora dessa polarização insuportável que estamos vivendo, não vai mudar nossa história nem nos levar a progresso nenhum.

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