Pesquisas eleitorais, dessas divulgadas pelos ditos institutos, que arrolam para si uma aura de verdade e incitam um exército de idiotas úteis a saírem em sua defesa como se fossem tão sacrossantas quanto as urnas, caíram finalmente em desgraça. E não à toa.
Foram simplesmente grotescos os "erros" nos resultados divulgados pela maior parte dessas empresas contratadas por veículos de comunicação que há muito deixaram de informar para militar ou por bancos e empresas do mercado financeiro.
Na entrevista, publicada junto com este artigo, Adriano Soares da Costa, especialista em direito eleitoral, reafirma o que já tinha dito ao repórter Leandro Desideri, da Gazeta do Povo, para reportagem publicada na terça (4) no caderno especial Eleições.
Pesquisas foram maior fake news das eleições, estampa o título da matéria. O ex-juiz de direito e ex-juiz eleitoral , autor do livro Instituições de Direito Eleitoral (2006), diz que os institutos devem, sim, ser responsabilizados pelo que fizeram.
Pesquisas induzem voto útil e até abstenções
Na entrevista, o especialista em direito eleitoral, explica por que os ditos institutos, que nada mais são do que empresas visando lucro, podem ter cometido crime. As investigações dirão de fato tiveram a intenção de manipular a opinião pública (o que, em direito, se traduz em culpa ou dolo).
Não resta dúvida, porém, que produziram e espalharam resultados de levantamentos que não retratavam as reais intenções de voto do eleitorado. Com isso, levaram parte do eleitorado a escolher candidatos conforme a chance de vitória apontada pelas pesquisas. Quem, afinal, gosta de perder, não é mesmo?
Muita gente também pode ter simplesmente desistido de ir votar, achando que a eleição já estava mesmo ganha (ou perdida) para seus candidatos de preferência. Alguma dúvida de que a democracia corre riscos com a atuação desses institutos com margem de erro bastante alargada pela realidade das urnas?
Exemplo de candidatos prejudicados
Não é exagero afirmar que essas empresas prejudicaram muitos candidatos e, numa visão mais ampla, atentaram contra a própria democracia.
Na entrevista, Adriano Soares da Costa cita alguns dos muitos casos de candidatos que foram claramente favorecidos em detrimento de outros, abertamente prejudicados pela falsa divulgação de prognósticos que não se concretizaram.
O caso mais evidente talvez seja o do deputado federal Paulo Eduardo Martins, que concorria à vaga de senador pelo Paraná. Na última pesquisa, divulgada pelo Ipec na véspera da eleição, ele aparecia em terceiro lugar nas intenções de voto.
Mais de 20% à frente apareciam Sérgio Moro e Álvaro Dias, que beiravam o empate técnico. Ocorre que Álvaro Dias ficou em terceiro, com menos da metade dos votos que o Ipec havia atribuído a ele.
Paulo Eduardo Martins, supostamente em terceiro, teve mais que o dobro dos votos apontados pelo grotesco "erro" da pesquisa. E quem venceu foi Sérgio Moro, com uma votação dentro da margem de 2% para mais ou para menos, divulgada pelo instituto.
Teria o resultado sido diferente se o eleitor não tivesse sido induzido a erro? Muitas pessoas podem ter achado que a disputa era entre Álvaro e Moro. Eleitores de Paulo Eduardo Martins teriam, então, optado pelo voto útil para escolher, entre os dois que apareciam com reais chances de se eleger, aquele que achavam menos pior
E agora TSE?
A pergunta vale para a eleição majoritária também. Se o Dataolha não tivesse divulgado por semanas que o candidato Lula poderia vencer o presidente Jair Bolsonaro em primeiro turno, o resultado seria aquele? Sem pesquisas amigas, Lula teria conseguido o voto útil dos eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet?
A polícia federal, a pedido do Ministro da Justiça, Anderson Torres, já começa investigação sobre os institutos de pesquisas. Câmara e Senado já tem pedidos de abertura de CPI protocolados. Faltam o Ministério Público Eleitoral e o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se pronunciarem sobre o tema.
Assista à entrevista para mais detalhes sobre esse claríssimo ato anti-democrático, a respeito do qual o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, segue calado.
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