"SUS da Educação" é o apelido dado a dois projetos de lei que tratam do mesmo tema, mas tramitam em separado, um na Câmara dos Deputados (PL25/19) e o outro no Senado Federal (PL 235/19). Este último teve um substitutivo aprovado em plenário na quarta-feira (9) e vai agora para apreciação da Câmara.
>> Faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram
Ambos propõem a criação de um Sistema Nacional de Educação (SNE), que é apresentado como possível solução para os problemas crônicos da educação formal brasileira, mas não passa de uma armadilha.
Embutidos no meio de artigos considerados bastante razoáveis para melhorar o déficit educacional brasileiros, estão vários "jabutis", como são chamados os itens infiltrados em projetos de lei, normalmente por interesse de algum grupo em específico, e que passam despercebidos da maior parte dos parlamentares na hora da votação.
Essa é a visão da doutora em política educacional e ex-secretária nacional de Ensino Básico, Ilona Becskehazy, com quem conversei por vídeo na manhã desta sexta-feira (11), dois dias após a aprovação no Senado do substitutivo ao projeto original do senador Flávio Arns (Podemos-PR).
A especialista em desenho e implementação de políticas educacionais comparadas, aspectos curriculares e de gestão está preocupada e apresenta pontos que aparentemente não foram considerados ao menos por parte dos 74 senadores que votaram favoráveis ao "SUS da Educação".
"SUS da Educação" é uma armadilha
Segundo Ilona, na prática o que o tal "SUS da Educação" faz é criar mais instâncias de decisão sobre as políticas públicas para o ensino no Brasil, tirando poderes do governo federal e dando, por sua vez, mais espaço para que representantes dos estados e municípios decidam como investir os recursos federais destinados à Educação.
Alguém lembrou do que vivemos na pandemia? Do caos provocado no Brasil pela autorização judicial do STF (ainda em vigor) para que prefeitos e governadores pudessem decidir como gerenciar todas as questões envolvendo saúde? Da prerrogativa única de liberar verbas deixada com o presidente da República e sua equipe de ministros?
Em meio a muitos floreios, o projeto de lei que cria o Sistema Nacional de Educação isola o governo federal, já que deixa para ele apenas 5 vagas num conselho que terá outros 5 representantes de estados e mais 5 de municípios.
Considerando que nos estados e municípios a pressão de sindicatos de professores e ONGs que atuam na área educacional para impor seus próprios projetos educacionais é imensa, imagine quem vai votar junto (e contra) tudo o que o governo propuser?
Ilona teme, com razão, que não haja espaço para executar nenhum plano federal para a Educação ao menos em governos que não sigam a cartilha ideológica da turma instalada há décadas em todas as instâncias do setor educacional.
É o caso, no momento. E pode vir a ser, a partir do ano que vem, se o presidente Bolsonaro for reeleito. Entende a armadilha do "SUS da Educação"? Se a esquerda não consegue se perpetuar no poder, que fortaleça as raízes, onde já fincou tentáculos há muito tempo e mine o poder do governante eleito para impedi-lo de governar.
Para saber mais detalhes sobre o PL 235/19, que foi votado no Senado, clique aqui. E para ter mais argumentação para pressionar seu senador e seus deputados a discutirem melhor o projeto antes de votar, clique no play da imagem que ilustra esta página e assista à entrevista com Ilona Becskehazy.
Câmara aprova regulamentação de reforma tributária e rejeita parte das mudanças do Senado
Mesmo pagando emendas, governo deve aprovar só parte do pacote fiscal – e desidratado
Como o governo Lula conta com ajuda de Arthur Lira na reta final do ano
PF busca mais indícios contra Braga Netto para implicar Bolsonaro em suposto golpe
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS