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Cristina Graeml

Cristina Graeml

Terapia literária

Para descontrair: como nossos maiores escritores responderiam à pandemia

Decidi falar um pouco de literatura, não apenas porque livros estão entre as melhores fontes de conhecimento e entretenimento, mas porque é através deles que, sem sair do lugar, nós podemos conhecer outras cidades, países, pessoas e ideias. Ótimo para esse momento tão peculiar em que somos convidados a ficar em casa, isolados do mundo, distantes de tudo e de todos, não? A literatura proporciona viagens imaginárias, amplia nossa percepção do mundo, tem o dom até de modificar nossos sentimentos e trazer graça a essa estranha realidade que vivemos.

E eu já estava com vontade de consultar alguns autores para trazer reflexões para compartilhar com vocês, quando recebi, no meio das incontáveis mensagens que andam chegando pelos aplicativos, esta aqui. "Caros amigos, estava em frente à minha estante, diante de meus livros e resolvi perguntar a alguns dos grandes escritores brasileiros o que eles estão achando dessa crise. Olhem o que eles responderam"... É uma brincadeira, mas é divertido!

Carlos Drummond de Andrade: "E agora, José?"

Manoel Bandeira: "Vou-me embora para Pasárgada."

Olavo Bilac: "O medo é o pai da crença."

Monteiro Lobato: "Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê."

Ruy Castro: "O mal-humorado é alguém sem imaginação."

Rubem Alves: "Ostra feliz não faz pérolas."

Euclides da Cunha: "Viver é adaptar-se."

Vinicius de Moraes: "De tudo ao meu amor serei atento."

José de Alencar: "O amor, porém, é contagioso..."

Jorge Amado: "Se viver não é fácil, conviver é um desafio permanente."

Guimarães Rosa: "Viver é um rasgar-se e remendar-se."

Cora Coralina: "Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores."

Cecilia Meireles: "O vento é o mesmo, mas a resposta é diferente em cada folha."

Clarice Lispector: "Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

Machado de Assis: "Divindade não destrói sonhos, Capitu, somos nós que não fazemos acontecer."

Luís Fernando Veríssimo: "O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença!"

São incontáveis as frases sábias que a gente tira dos livros e que podem nos trazer diversão e algum alento em períodos de incerteza e sensação de impotência como este que estamos vivendo. O Brasil tem grande escritores, uma literatura vasta, que mesmo em época de séries de tv e distrações de todo tipo na internet, podem ser a melhor das companhias, grande fonte de aprendizado, eu diria... uma terapia literária!

Então para trazer leveza para esta semana, que para muitos é santa, eu busquei algumas informações e trechos de dois dos poemas e livros de onde saíram as frases citadas na mensagem que reproduzi nesse texto.

José e Pasárgada, ou Drummond e Bandeira

O poema "José" de Carlos Drummond de Andrade é de uma coletânea chamada Poesias, publicada em 1942, na época da 2ª Guerra Mundial. Retrata a solidão de um homem, aparentemente abandonado e perdido, sem saber que caminho tomar. Não é muito grande, mas opto por reproduzir aqui duas estrofes

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?
...
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?...

Carlos Drummond de Andrade

Quanto ao poema Pasárgada, de Manuel Bandeira, eu, como tantos leitores, sempre fiquei curiosa para saber se esse lugar existia ou foi criação do autor. Encontrei uma explicação que o próprio Manuel Bandeira dava quando perguntavam a ele sobre a terra para onde ele imaginou fugir e por que fantasiava ir para lá. Segue o relato!

“Este foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito, do subconsciente, esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula um poema."

Não era Covid-19, mas ele estava doente, sozinho em casa e buscou refúgio num autor grego para achar um lugar imaginário, onde era amigo do rei. E até lembrou de Rosa, sua ama de leite na infância.

Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei. Lá tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei... E como farei ginástica, andarei de bicicleta, montarei em burro brabo, subirei no pau-de-sebo, tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado, deito na beira do rio, mando chamar a mãe-d'água pra me contar as histórias, que no tempo de eu menino, Rosa vinha me contar. Vou-me embora pra Pasárgada!

Manuel Bandeira

Eu podia passar horas aqui nessa brincadeira, explorando autores brasileiros e suas histórias de solidão, reclusão, reflexão para encher nossas horas em casa em condições semelhantes. Mas deixo aí só a inspiração para você mesmo entrar nessa aventura, buscar nos escritos dos seus autores preferidos palavras que façam deste, um dia mais leve ou um período mais breve.

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