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Crônicas de um Estado laico

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Jogos Olímpicos

A nada santa ceia da diversidade

O barco com a delegação francesa passa sob a ponte que abrigou o segmento "Festivité", com paródia da Última Ceia (os personagens estão de costas na foto). (Foto: David Davies/EFE/EPA/Pool)

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Muito já se falou, nos últimos dias, sobre os elementos de gosto muito duvidoso que marcaram as aberturas dos Jogos Olímpicos em Paris.

No afã de pontuar (ou, como dizem sobre estas modas atuais, “lacrar”) determinada visão de mundo e da sociedade, os organizadores franceses parecem ter aproveitado o momento em que o mundo os assiste para mostrarem seu ideal de união entre os povos – um ideal de que a religião, definitivamente, parece não fazer parte.

Entre várias cenas questionáveis – afinal, se o espírito olímpico é uma mensagem de agregação, união em torno do esporte, e, assim, de tentar acalmar ânimos, o que se viu foi uma série de entraves e oposição de grupos –, a reprodução satírica da Última Ceia de Leonardo da Vinci parece ser o ápice do uso de símbolos para reforçar um mantra na cultura woke: eliminar as diferenças para incluir os diferentes. E aí temos um grande problema.

Os organizadores franceses parecem ter aproveitado o momento em que o mundo os assiste para mostrarem seu ideal de união entre os povos – um ideal de que a religião, definitivamente, parece não fazer parte

A atual sociedade contemporânea enfrenta uma encruzilhada crítica na forma como lida com a diversidade e a convivência de diferentes sistemas de crença. Em meio ao debate público, duas abordagens se destacam: o “pluralismo com princípios” e a “celebração da diversidade”. Embora ambos os conceitos aparentem promover a inclusão e o respeito, uma análise mais profunda revela que o pluralismo com princípios oferece uma base mais sólida e madura para a verdadeira liberdade religiosa e coesão social.

A “celebração da diversidade” propõe a aceitação irrestrita e a promoção de todas as formas de crença e comportamento, muitas vezes sem uma avaliação crítica do conteúdo dessas crenças e comportamentos. Em sua forma mais extremada, pode levar a uma superficialidade perigosa, em que todas as ideias são tratadas como igualmente válidas, independentemente de seu mérito ou impacto na sociedade.

Por outro lado, o “pluralismo com princípios” defende uma convivência respeitosa e colaborativa entre diferentes sistemas de crença, mas com um compromisso firme com valores fundamentais que sustentam a dignidade humana e o bem comum. Este modelo parte da realidade. Onde há diversidade, ele busca promover um diálogo significativo entre diferentes grupos, incentivando uma coexistência que respeita as convicções individuais sem comprometer princípios essenciais.

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O pluralismo com princípios se destaca pela sua maturidade. Enquanto a celebração da diversidade pode rapidamente degenerar em um relativismo no qual tudo é permitido, o pluralismo com princípios exige um exame mais profundo das crenças e práticas, garantindo que essas não minem a coesão social e os direitos fundamentais. Esta abordagem reconhece que nem todas as ideias são igualmente benéficas ou verdadeiras, e que algumas práticas podem ser prejudiciais para a sociedade como um todo.

Além disso, o pluralismo com princípios protege a liberdade das instituições religiosas e culturais de manterem sua identidade e missão. Diferentemente da celebração da diversidade, que pode pressionar essas instituições a se conformarem a normas seculares e a diluírem suas convicções, o pluralismo com princípios defende que essas organizações tenham a liberdade de operar de acordo com suas crenças, contribuindo de maneira única e significativa para o bem comum.

A ideologização woke, frequentemente associada à celebração da diversidade, tende a impor uma conformidade coercitiva. Sob o pretexto de inclusão, muitas vezes força indivíduos e instituições a adotarem posturas e práticas que podem ir contra suas crenças mais profundas. Isso não apenas ameaça a liberdade de expressão e de religião, mas também cria um ambiente de intolerância disfarçada de tolerância, onde apenas certos pontos de vista são permitidos.

Diferentemente da ideologização woke, que muitas vezes leva à coerção e à superficialidade, o pluralismo com princípios proporciona um caminho para uma convivência madura e significativa

Por outro lado, o pluralismo com princípios promove uma verdadeira liberdade, na qual diferentes crenças podem coexistir sem a necessidade de conformidade forçada. Esta abordagem valoriza o diálogo e o respeito mútuo, permitindo que a sociedade se beneficie da riqueza de perspectivas variadas sem sacrificar os valores fundamentais que sustentam uma convivência harmoniosa.

É importante refletirmos sobre qual modelo oferece uma alternativa mais robusta e equilibrada à verdadeira inclusão dos diferentes sem deixar de reconhecer a diferença – traço distintivo da experiência humana. Ao enfatizar a importância de princípios fundamentais e ao proteger a liberdade das instituições de manterem suas convicções, esta abordagem promove uma sociedade verdadeiramente inclusiva e respeitosa.

Diferentemente da ideologização woke, que muitas vezes leva à coerção e à superficialidade, o pluralismo com princípios proporciona um caminho para uma convivência madura e significativa, em que a verdadeira diversidade pode florescer em um terreno de respeito mútuo e valores compartilhados.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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