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Anualmente, desde 2005, o Instituto Acton promove um encontro de quatro dias com lideranças religiosas e políticas, acadêmicos, empresários, jornalistas e juristas do mundo todo! São aproximadamente mil pessoas de mais de 80 países reunidos na Acton University, encontro que ocorre na cidade de Grand Rapids, estado do Michigan, norte dos Estados Unidos. No encontro, o Acton oferece cerca de 80 cursos, com alguns dos principais pensadores e professores de teologia, economia, filosofia, desenvolvimento, negócios e história intelectual (que eles chamam de faculty, por lá). Em 2021 nós tivemos a honra de sermos faculty, quando falamos sobre o significado de Estado laico e como ele funciona no Brasil.
O Instituto Acton foi fundado em 1990 pelo padre Robert Sirico e por Kris Mauren. A sua missão era ensinar que empreender não era demérito e sim um chamado específico de Deus, como qualquer outro. Segundo esta visão, quando exercemos nossos chamados, seja lecionando, advogando, empreendendo ou em qualquer outra atividade, estamos cumprindo nosso papel e, ao cumpri-lo, estamos nos aproximando mais de Deus e trabalhando pelo bem comum. O exercício do chamado, de forma ética e honesta, com excelência e esforço, gera uma cidade e economia melhores, o que resulta no florescimento humano de todos daquela comunidade. O think tank foi a forma de multiplicar este conhecimento, tanto nos EUA quanto globalmente.
O sistema de liberdades está em xeque. O que fazer? Essa foi a grande pergunta e a resposta foi unânime: não desistir do Brasil. Precisamos insistir, continuar fazendo o que é certo, pois a verdade sempre prevalece
Uma das várias iniciativas do Acton é a produção de documentários, como Poverty Cure; Poverty, Inc.; e o último grande trabalho lançado por eles: The Hong Konger: Jimmy Lai e sua luta extraordinária pela liberdade. Jimmy Lai é um chinês que se mudou para Hong Kong ainda criança e sem nenhum tostão no bolso. Em Hong Kong trabalhou muito e, devido ao sistema de liberdades e das instituições democráticas existentes por lá, herdados do Reino Unido, começou a empreender, acumulando fortuna no decorrer dos anos. Criou a maior marca de roupas populares da China (a Giordano’s, o equivalente a uma C&A de lá) e ficou bilionário. Mais tarde, resolveu entrar no ramo de comunicação, criou uma revista e abriu um jornal (o Apple Daily) para, sobretudo, defender as instituições que fizeram Hong Kong deixar de ser uma ilha simplória de pescadores para se tornar uma das maiores metrópoles do mundo.
O Apple Daily, fundado por Lai em 1995, acabou virando uma pedra no sapato dos comunistas chineses, visto que era o único jornal escrito em chinês que denunciava diariamente as violações ao sistema de liberdades e à democracia em Hong Kong perpetrados pelo Partido Comunista da China em evidente descumprimento do acordo internacional feito pela República Popular da China e o Reino Unido em 1984, com entrega de Hong Kong à China a partir de 1997. Na verdade, Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, acabou enganada pelos chineses, que prometeram manter o sistema de liberdades em Hong Kong até 2047. Lai começou a denunciar para o mundo as arbitrariedades do comunismo na ilha e terminou preso, com bens bloqueados e o jornal fechado. Esse é um brevíssimo resumo; nesse link, você terá acesso ao documentário do Acton que conta esta história na íntegra, em português.
Na edição deste ano da Acton University, eu, Thiago, tive a oportunidade de participar de um bate-papo para responder a seguinte pergunta: “Ainda há liberdades no Brasil?”. A conversa foi mediada por mim e teve como participantes Marcel van Hattem, deputado federal pelo Novo e colunista da Gazeta do Povo; Madeleine Lackso, escritora e jornalista, também com coluna aqui na Gazeta; Rodrigo Marinho, advogado do Novo no Congresso; e um “fugitivo nacional”. Pois é, nada melhor que conversar sobre liberdades com um fugitivo. O fugitivo era Deltan Dallagnol – pelo menos foi assim que grande parte da mídia brasileira deu a notícia: basta o leitor digitar “Deltan Dallagnol” e “fugitivo” em qualquer ferramenta de busca que vai chover site com fake news.
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A situação é tão bizarra que até entrevista Deltan teve de dar para esclarecer que não estava fugindo do país coisíssima nenhuma. Para quem não sabe, o ex-chefe da Operação Lava Jato foi plenary speaker na edição da Acton University de 2019, isto é, foi um dos apenas quatro selecionados para falar a todos os participantes no jantar (geralmente mais de mil pessoas). Neste ano, ele participou das sessions (aulas dos mais de 80 cursos oferecidos) que ocorrem todas as manhãs e tardes, entre terça e quinta-feira, além de participar conosco no bate-papo mencionado. Nós, que estávamos lá, tivemos uma certeza ao conversar e ouvir Deltan: ele não vai desistir de lutar pelo Brasil, pelo Estado de Direito e pelas liberdades.
Nossa conclusão foi unânime: o sistema de liberdades está em xeque: ondas de cancelamento de quem discorda do politicamente correto, distorção de conceitos como “discurso de ódio” e “notícia falsa” para agasalhar a vontade de quem manda ou quer mandar, bloqueios de contas e de dinheiro ao arrepio da lei, e até mesmo cassações fundamentadas em teses inexistentes no sistema legal. O que fazer? Essa foi a grande pergunta e a resposta foi unânime: não desistir do Brasil. Precisamos insistir, continuar fazendo o que é certo, pois a verdade sempre prevalece.
Precisamos aprender com o bom exemplo do padre, com a coragem do chinês e com a esperança do fugitivo que não podemos desistir do Brasil
A semente que padre Sirico e Kris Mauren semearam em 1990 tem se multiplicado milhares de vezes, rendendo frutos até aqui no Brasil. A Acton University deste ano contou com mais de 60 brasileiros, a maior delegação estrangeira presente. Nesse ano, Salim Mattar, empresário brasileiro conhecido por sua luta em prol da liberdade, foi premiado com o título de “Guardião da Liberdade”, o terceiro da história do Acton (em 33 anos) a recebê-la.
E, se o exemplo dos fundadores do Acton Institute não nos bastar, temos o exemplo do chinês multibilionário que poderia muito bem ter expatriado legalmente seu dinheiro para a Europa ou para os EUA e estar hoje vivendo tranquilamente. Todavia, desafiou o sistema comunista para proteger o sistema de liberdades. Está preso, mas hoje nós e a comunidade internacional sabemos da situação de Hong Kong, em razão da sua coragem de não desistir.
Por fim, o “fugitivo” nos mostra como o sistema pode ser falho se não exercermos a vigilância continua de nossas liberdades, inclusive na hora do voto. Precisamos aprender com o bom exemplo do padre, com a coragem do chinês e com a esperança do fugitivo que não podemos desistir do Brasil; como diz nosso amigo Marcel van Hattem, “nós não queremos viver em outro país, nós queremos viver em outro Brasil!”
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos