Este ano, a Feira Nacional da Soja (Fenasoja), em Santa Rosa (RS), celebra 100 anos do início do cultivo comercial do grão no Brasil. E isso tem tudo a ver com liberdade religiosa!
Quando o jovem Albert Lehenbauer embarcou em um navio rumo ao Brasil, em 1915, seus sonhos estavam voltados para o Oriente. Formado pelo Sínodo Luterano de Missouri, nos Estados Unidos, Albert tinha o coração na China, imaginando-se pregando em vilarejos remotos sob a sombra da Grande Muralha. Mas o destino, ou talvez a Providência, tinha outros planos.
A China, naquele momento, fervilhava com as sementes da revolução que culminaria, décadas depois, no regime de Mao Tsé-tung. As portas para missionários ocidentais se fechavam rapidamente, deixando Albert com um chamado ardente e sem lugar para ir.
Desestimulado desta possibilidade, foi então que o Sínodo propôs o Brasil, uma nação jovem e vibrante, faminta por fé e progresso e com liberdade religiosa para pregar o Evangelho e desenvolver as comunidades de fé, e que já tinha estabelecido um Sínodo luterano desde 1904, no Rio Grande do Sul.
Enquanto compartilhava a palavra de Deus, Albert Lehenbauer também distribuía sementes de soja, ensinando os agricultores locais a cultivá-las
Aceitando isto como desígnio de Deus, Albert Lehenbauer desembarcou em terras brasileiras. Na cidade de Santa Rosa, ele encontrou uma comunidade de imigrantes alemães lutando para se estabelecer em uma terra nova e desafiadora. Trabalhou arduamente até tirar uma licença, em 1923, para tratar dores estomacais frequentes que o afligiam. Foi para a Alemanha fazer seu tratamento. Porém, fazendo muitos testes, chegou-se à conclusão de que não tinha uma doença propriamente dita. Assim, seguiu para os Estados Unidos, no Missouri. Ali, visitou a fazenda de Catarina, sua irmã.
A partir deste encontro familiar, trouxe de volta para o Brasil mais do que as Escrituras; em uma pequena garrafa muito bem selada, carregava sementes de soja. É verdade que era muito pouco. Um punhado de sementes, cerca de 160 delas. Chegando ao Brasil, imediatamente as plantou na sua horta, em novembro de 1923. Fez a primeira colheita poucos meses depois, já em 1924. Metade do que colheu ele guardou para plantar no ano seguinte. Já a outra metade, foi distribuindo, de 2 a 3 grãos para quantas pessoas conseguiu.
A liberdade religiosa que o Brasil oferecia não apenas permitiu que Albert pregasse livremente, mas também que ele exercesse uma forma única de ministério: através da agricultura. Enquanto compartilhava a palavra de Deus, ele também distribuía as sementes de soja, ensinando os agricultores locais a cultivá-las. “Plantem estas sementes com fé”, dizia ele, “e vejam como Deus pode multiplicar não apenas almas, mas também a colheita”.
O detalhe é que, naquele tempo, os colonos alemães já estavam acostumados à escassez e dificuldades de cultivar a terra no solo da região. Pouco dinheiro, nada de fertilizantes, muita privação. A soja, por sua vez, é uma das poucas plantas que adicionam nitrogênio na terra – agem como um fertilizante natural. O que se seguiu foi nada menos que um milagre agrícola. As sementes de soja, assim como a fé que Albert pregava, encontraram solo fértil em Santa Rosa. Os agricultores, inicialmente céticos, logo viram suas terras florescerem com uma nova e promissora cultura.
A liberdade que permitiu a Albert Lehenbauer vir ao Brasil e exercer seu ministério de forma tão única provou ser o catalisador de uma revolução agrícola. Enquanto regimes totalitários ao redor do mundo sufocavam inovações e intercâmbios culturais, o Brasil abraçava novas ideias e tecnologias.
Nas décadas seguintes, a soja se espalhou do Rio Grande do Sul para o resto do país. Pesquisadores brasileiros, inspirados pelo sucesso inicial, desenvolveram variedades adaptadas ao clima tropical, permitindo que a cultura conquistasse o Cerrado e a Amazônia.
A história de Albert Lehenbauer e da soja brasileira é um lembrete poderoso de como a liberdade religiosa pode ter impactos que vão muito além dos muros das igrejas
Em apenas um século, o Brasil passou de um importador de soja para o segundo maior produtor mundial. Os campos dourados que hoje se estendem até o horizonte são um testamento não apenas ao trabalho árduo dos agricultores brasileiros, mas também à liberdade que permitiu que um pastor frustrado em sua missão original encontrasse um novo propósito.
A história de Albert Lehenbauer e da soja brasileira é um lembrete poderoso de como a liberdade religiosa pode ter impactos que vão muito além dos muros das igrejas. Ela pode, literalmente, alimentar o mundo. Hoje, quando navios carregados de soja brasileira zarpam rumo aos quatro cantos do planeta, levam consigo não apenas grãos, mas o fruto de uma semente plantada há um século por um homem de fé. Uma semente que encontrou, no solo livre do Brasil, o terreno perfeito para crescer e prosperar.
A China, que Albert Lehenbauer sonhara transformar com sua fé, hoje é o maior importador da soja brasileira. Talvez, de uma maneira que ele nunca poderia ter imaginado, seu sonho de impactar o gigante asiático tenha se realizado afinal.
Esta é mais do que uma história de sucesso agrícola; é um testemunho do poder transformador da liberdade, da fé e de como um pequeno ato de generosidade pode mudar o destino de uma nação inteira.
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