A cantora Claudia Leitte.| Foto:
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Circulou por estes dias um vídeo da cantora Claudia Leitte, que teria modificado a letra da canção Caranguejo – composta por Alan Moraes, Durval Luz Luciano Pinto e Ninho Balla –, que fora sucesso na voz da própria Cláudia quando vocalista do grupo Babado Novo, em meados dos anos 2000.

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A música em questão foi tirada do DVD AxeMusic – Ao Vivo em Recife, gravado em 2014. A letra original é a seguinte: “Maré tá cheia / Espera esvaziar / Joga flores no mar / Saudando a rainha Yemanjá”. Claudia Leitte alterou a última frase para “Só louvo meu rei Yeshua” (uma forma de dizer “Jesus” em hebraico).

Por mais que o vídeo tenha uma década, foi ressuscitado após a polêmica da vez, a pregação de Baby do Brasil durante show no trio elétrico de Ivete Sangalo. Baby fez um apelo para que pessoas conheçam a Bíblia e a Palavra de Deus, e que estamos nos aproximando do fim dos tempos, com o Apocalipse às portas. Ivete, por sua vez, resolveu dizer que não vai deixar o apocalipse acontecer, antes vai “macetá-lo” (em alusão ao seu hit do verão, Macetando).

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Cláudia Leitte pode saudar quem ela quiser neste país. Nossa sociedade é plural, aberta à religião, majoritariamente cristã e com manifestações culturais diversas

Alguns veículos de imprensa, ao comentarem o vídeo de Cláudia Leitte que acabou viralizando, fizeram-no acusando a cantora de “intolerância religiosa”, em mais um exemplo de como se usa uma expressão à exaustão, fora do conceito correto, e que pode levar a um esvaziamento de sentido sobre temas importantes. É o mesmo que ocorre hoje em dia com o termo “assédio”, por exemplo.

Já falamos por aqui que a intolerância religiosa, embora não exista como tipo próprio, é aquele comportamento que, ao discriminar alguém ou grupo de pessoas em função de sua religião, o faz querendo incitar violência, ódio ou supressão de direitos, ferindo, assim, a dignidade humana formal e material – cuja proteção é fundamento da Constituição brasileira.

Cláudia Leitte pode saudar quem ela quiser neste país. Nossa sociedade é plural, aberta à religião, majoritariamente cristã e com manifestações culturais diversas, sendo o próprio carnaval – festa com muitos elementos de religião de matriz africana – um ambiente propício a manifestações diferentes do caldo cultural.

Além do mais, ela não foi a única a mexer em letras de músicas por objeção de consciência: Joelma (ex-Calipso) trocou a letra de uma música que fazia alusão à bruxaria; Roberto Carlos trocou a letra de Além do Horizonte no trecho em que se referia ao paraíso; e quem não lembra da fase “racional” de Tim Maia?

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A verdade é que, no Brasil polarizado, vale quase tudo para lacrar. Por favor, não mexam com a religião como se fosse matéria para revista de fofoca. Divergir da fé do outro não faz de ninguém um intolerante, mas apenas alguém engajado em passar uma mensagem que constitui um compromisso essencial de consciência para consigo e para com o próximo. Não podemos permitir o esvaziamento de terminologias importantes no combate à discriminação e ao ódio por conta da essência humana que carrega a expressão religiosa. E lembre-se: em caso de real intolerância, use ferramentas como o Disque 100.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]