Na última quinta-feira, 30 de novembro, comemorou-se o “dia nacional do evangélico”. Em diversos lugares (inclusive em Brasília) a data é um feriado, mostrando a força política deste grupo que, mesmo sem a consolidação do último censo do IBGE, atinge entre 30% e 35% da população brasileira.
O crescimento do segmento – de tradições teológicas muito amplas, desde o protestantismo histórico, com luteranos, tradição reformada calvinista (presbiterianos etc.), metodistas e batistas, até o pentecostalismo clássico e o chamado neopentecostalismo, com suas vertentes diversas e contemporâneas – é estudado por cientistas sociais com diferentes interesses. Naturalmente, a força política do grupo é objeto de desejo de partidos, e as formas de se comunicar com o público têm sido aperfeiçoadas ao longo das últimas décadas.
O interesse político pelo segmento foi decisivo nas últimas eleições gerais, tanto para o Legislativo quanto para o Executivo, e assuntos cuja discussão era antes impensável passaram a ser parte das conversas nas ruas. A “pauta moral” é tema de negociação ferrenha pelos grupos políticos, e suas negociações no Congresso Nacional assumiram força jamais vista na República. Justamente por esta tensão, há vários movimentos que pretendem diminuir o campo de influência religiosa, como se nota pela impugnação, em vários pontos do país, de candidatos a conselheiro tutelar que se identificavam com igrejas evangélicas, por exemplo.
A religião não apenas molda práticas individuais, mas também permeia o tecido cultural, impactando a estrutura legal que guia a sociedade
Este tema será cada vez mais objeto de estudo das humanidades e ciências sociais, inclusive o Direito. E, pensando no perfil de uma sociedade que ruma para aderir à confissão evangélica (de novo, absolutamente plural nas tradições teológicas e com aplicações éticas diversas) como sendo a majoritária no Brasil – projeções apontam que, dentro de 15 anos, teremos mais evangélicos que católicos no país –, sempre é interessante refletir sobre pontos de contato do sistema de valores que influenciam diretamente os rumos da comunidade política por aqui.
A interseção entre a ética cristã evangélica, enraizada no protestantismo e com fortes laços luteranos, calvinistas e arminianos como centro de tradição teológica, e a cultura contemporânea é um fator determinante na construção da “cultura do amanhã”. Observar a relação entre fé religiosa e cultura revela não apenas uma influência na cosmovisão pessoal, mas também um papel crucial na formação da sociedade política e no ordenamento jurídico.
A análise de Max Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo destaca como a mentalidade calvinista e puritana contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo, mostrando que a religião não apenas molda práticas individuais, mas também permeia o tecido cultural, impactando a estrutura legal que guia a sociedade. Essa conexão profunda entre fé religiosa e cultura ganha relevância em ambientes de liberdade, onde a circulação de ideias desempenha um papel significativo na formação do bem comum, exercendo uma influência marcante na dinâmica social e política.
A liberdade religiosa, essencial para a expressão da fé, contribui significativamente para o amálgama do sistema de liberdades que sustentam a democracia. A capacidade de praticar diferentes crenças não apenas enriquece a diversidade cultural, mas também fortalece os alicerces de uma sociedade plural, capaz de abrigar uma variedade de perspectivas sem comprometer os princípios democráticos.
Dentro desse contexto, a contribuição do cristianismo para a “cultura do amanhã” é profunda e abrangente. A ética cristã proporciona um arcabouço moral que permeia a vida individual e coletiva, guiando princípios como amor ao próximo, justiça e caridade. Esses valores não apenas informam ações individuais, mas também moldam políticas públicas e estruturas sociais, promovendo uma sociedade mais justa e solidária.
A contribuição do cristianismo para a “cultura do amanhã” está na capacidade de fornecer uma base ética sólida, promover valores universais de justiça e igualdade, e inspirar uma visão de esperança e transformação
A ênfase cristã na dignidade intrínseca de cada ser humano influencia a concepção de direitos humanos e igualdade, sendo a base para sociedades inclusivas e respeitosas da diversidade reconhecida como realidade, nunca como imposição.
A noção cristã de esperança e redenção desempenha um papel crucial na formação da mentalidade cultural, inspirando a busca por um futuro melhor. Essa esperança influencia a maneira como comunidades enfrentam desafios, promovendo resiliência e perseverança diante das adversidades.
A contribuição do cristianismo para a “cultura do amanhã” está na capacidade de fornecer uma base ética sólida, promover valores universais de justiça e igualdade, e inspirar uma visão de esperança e transformação. Ao abraçar esses princípios, a cultura do amanhã pode ser enriquecida e orientada por uma perspectiva que valoriza a dignidade humana, a solidariedade e a busca por um futuro melhor. Essa influência se torna um legado duradouro que transcende gerações, moldando a sociedade de maneiras profundas e positivas.
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