Jonas Dassler no papel de Dietrich Bonhoeffer, em “A Redenção: A História Real de Bonhoeffer”.| Foto: Paris Filmes/Divulgação
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A estreia do filme A Redenção: A História Real de Bonhoeffer nos cinemas brasileiros, em 12 de dezembro, traz à tona a vida de Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano ainda um tanto desconhecido para muitos na sociedade brasileira, e que se destacou por sua resistência ao nazismo.

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Nascido em 4 de fevereiro de 1906 em Breslau, Alemanha (atual Wrocław, Polônia), Bonhoeffer demonstrou desde cedo uma inteligência notável e uma profunda curiosidade intelectual. Estudou Teologia nas universidades de Tübingen e Berlim, onde foi influenciado por pensadores como Karl Barth. Em 1930, passou um ano no Union Theological Seminary, em Nova York, experiência que ampliou sua perspectiva teológica e social.

Em 1931, Bonhoeffer retornou à Alemanha e assumiu um papel ativo na ideia de que a igreja deveria ter uma voz pública e jamais aceitar o jugo do controle estatal. Logo após a ascensão de Hitler, em 1933, ficou claro que o nazismo queria interferir em todos os aspectos da sociedade, e a religião não ficava de fora.

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Bonhoeffer criticava a complacência de muitos cristãos frente ao regime nazista e defendia que a fé cristã deveria influenciar diretamente a vida pública e política

Foi com a Igreja Confessante (Bekennende Kirche), movimento formado por pastores e teólogos como Martin Niemöller e o próprio Dietrich Bonhoeffer, que seu engajamento social ficou evidente, e sua defesa da liberdade de crença – a ponto de desobedecer a um governo mau – deu os dramáticos contornos de sua ação posterior. Ele criticava a complacência de muitos cristãos frente ao regime nazista e defendia que a fé cristã deveria influenciar diretamente a vida pública e política, promovendo uma ética ativa e engajada.

Em maio de 1934, durante o Sínodo de Barmen, o movimento adotou a Declaração Teológica de Barmen, redigida principalmente por Karl Barth. Este documento afirmava a soberania de Cristo sobre a Igreja e rejeitava qualquer doutrina que concedesse autoridade suprema a líderes políticos ou ideologias, reafirmando que a Igreja Protestante Alemã não era um órgão do Estado, mas uma comunidade sujeita apenas a Jesus Cristo e ao seu Evangelho.

A Igreja Confessante enfrentou severa perseguição por parte do regime nazista. Seus membros foram presos, seus bens confiscados e suas atividades restringidas. Apesar disso, o movimento continuou a resistir, oferecendo uma alternativa fiel aos princípios cristãos em meio à opressão. Sua coragem e determinação permanecem como um testemunho da resistência espiritual e moral contra a tirania.

Dietrich Bonhoeffer reconheceu que as liberdades de consciência e de prática religiosa são fundamentais para resistir a regimes opressores. Acreditava que a verdadeira liberdade religiosa não se limitava à prática individual da fé, mas incluía a responsabilidade de agir contra a injustiça. Argumentou que a Igreja deveria ser a consciência moral da sociedade, opondo-se ativamente ao mal e defendendo os oprimidos. Essa perspectiva levou-o a criticar abertamente o antissemitismo e as políticas nazistas, desafiando a complacência de muitos cristãos da época.

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A defesa da liberdade religiosa por Bonhoeffer culminou em sua participação na resistência ativa contra o nazismo, incluindo sua ligação com a conspiração para assassinar Hitler. Ele via essa ação não como uma contradição com sua fé, mas como uma expressão necessária dela diante de um regime que negava a dignidade humana e a liberdade de consciência.

A coragem e a determinação da Igreja Confessante permanecem como um testemunho da resistência espiritual e moral contra a tirania

Durante seu encarceramento, Dietrich Bonhoeffer continuou a refletir sobre a relação entre fé e liberdade. Em suas Cartas e Documentos da Prisão, ele explorou a responsabilidade dos cristãos de agir contra o mal, mesmo sob risco pessoal. Sua execução em 1945, poucas semanas antes do fim da Segunda Guerra Mundial, selou seu compromisso com a liberdade religiosa como fundamento para resistir à tirania.

Suas principais obras incluem Discipulado e Ética, que foram traduzidas para o português e continuam a influenciar teólogos e cristãos em todo o mundo. Além disso, suas Cartas e Documentos da Prisão oferecem uma visão profunda de suas convicções e reflexões durante seu encarceramento.

Em 9 de abril de 1945, apenas algumas semanas antes do fim da Segunda Guerra Mundial, Dietrich Bonhoeffer foi executado no campo de concentração de Flossenbürg. Seu legado como teólogo, pastor e resistente ao nazismo continua a inspirar aqueles que lutam por justiça e integridade espiritual.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]