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A expressão “red thread” tem suas raízes profundas na mitologia e no folclore asiáticos, especialmente nas culturas chinesa e japonesa. A lenda mais conhecida associada a essa expressão é a do “fio vermelho do destino”, uma crença popular que sugere que pessoas destinadas a se encontrarem estão ligadas por um fio vermelho invisível, amarrado em torno de seus tornozelos ou dedos. Esse fio pode se esticar, emaranhar-se ou enfrentar qualquer tipo de desafio, mas jamais se rompe.
A origem dessa lenda remonta à antiga mitologia chinesa, em que Yue Lao (月老), o deus lunar responsável pelos casamentos, amarra um fio vermelho invisível nos tornozelos daqueles que estão destinados a ser “almas gêmeas”. Esse fio, segundo a lenda, pode atravessar o tempo, o espaço e qualquer circunstância, garantindo que essas pessoas se encontrarão, não importa onde estejam no mundo.
Na cultura japonesa, a lenda assume uma forma semelhante, mas com uma pequena diferença: o fio vermelho é geralmente amarrado em torno do dedo mindinho. Essa crença enfatiza que o destino ou o acaso guiam os relacionamentos importantes em nossas vidas, sejam eles de amor, amizade ou outras conexões significativas.
A laicidade colaborativa no Brasil não é uma linha rígida que separa Estado e religião, mas um fio que costura ambos em uma relação de respeito mútuo e cooperação
Para ter ainda uma visão ocidental da expressão – afinal, ela está em inglês –, trata-se do chamado “fio do ladrão”, e que remonta à época de ouro da navegação. Pense em navios imponentes e piratas, e você começará a entender o tipo de ladrão que mencionamos: aqueles que saqueavam cordas valiosas para equipar seus próprios barcos. Para desencorajar esses roubos, ou para identificar a propriedade das cordas quando recuperadas, foi introduzido um fio colorido como marca de posse. A Marinha Real Britânica, notoriamente, optou pela cor vermelha para seus “fios do ladrão” – Goethe até mencionou isso em 1809 –, e assim surgiu mais uma metáfora envolvendo a linha vermelha.
Hoje, a expressão “red thread” é usada de forma mais ampla para descrever uma conexão ou tema comum que une diferentes eventos, ideias ou pessoas, funcionando como um fio condutor que atravessa narrativas ou experiências. A essência da ideia é que, apesar das aparentes coincidências ou da complexidade das situações, existe uma força invisível, um destino, que une pessoas e eventos de maneira significativa, tecendo a história de nossas vidas.
Imagine que a liberdade religiosa no Brasil é como um tecido delicado, sustentado por um fio vermelho invisível, um “red thread”, que une e fortalece diferentes aspectos essenciais dessa liberdade. Esse fio vermelho, embora discreto, é o que mantém toda a trama unida, conectando princípios fundamentais como a laicidade colaborativa, a autonomia das organizações religiosas, a liberdade de expressão e a ligação com o Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Se qualquer um desses elementos for negligenciado ou rompido, todo o tecido pode se desfazer, comprometendo a própria essência da liberdade religiosa.
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A laicidade colaborativa no Brasil não é uma linha rígida que separa Estado e religião, mas um fio que costura ambos em uma relação de respeito mútuo e cooperação. É esse fio que permite ao Estado reconhecer e valorizar as contribuições das diversas tradições religiosas, sem privilegiar ou perseguir nenhuma delas. No entanto, se esse fio for cortado, a harmonia se desfaz, e o equilíbrio delicado que mantém a coexistência pacífica entre diferentes crenças começa a se romper, criando um cenário em que o favorecimento ou a exclusão de certas religiões pode ocorrer.
Outro segmento vital desse “red thread” é a autonomia das organizações religiosas. Este é o direito que cada igreja, templo ou comunidade religiosa tem de decidir sobre suas próprias práticas, doutrinas e estruturas internas, sem interferência externa. Sem essa autonomia, as religiões perderiam sua identidade e vitalidade, enfraquecendo sua contribuição para a diversidade cultural e espiritual do país. Quando esse fio é ameaçado, o impacto é sentido em toda a sociedade, que se torna menos vibrante e plural.
A liberdade de expressão religiosa, tanto no espaço público quanto no privado, é outro fio crucial que mantém essa trama intacta. Esse direito permite que as vozes religiosas participem do debate público e influenciem o processo político, conectando o individual com o coletivo. Se esse fio for rompido, as religiões podem ser silenciadas ou excluídas do discurso público, criando um vácuo perigoso em nossa democracia. A perda desse fio não apenas enfraquece a liberdade religiosa, mas também desestabiliza toda a estrutura de direitos que sustenta a pluralidade brasileira.
O “red thread” que une a laicidade colaborativa, a autonomia das organizações religiosas, a liberdade de expressão e o sistema de direitos humanos mantém a liberdade religiosa no Brasil intacta e forte
A conexão com o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, representado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, é o fio que fortalece a proteção da liberdade religiosa no Brasil em um contexto mais amplo. Esse sistema internacional oferece uma rede de apoio adicional, garantindo que, mesmo quando os mecanismos internos falham, os direitos religiosos possam ser defendidos e respeitados em um foro internacional. Ignorar essa ligação é arriscar o isolamento, deixando nossas proteções mais frágeis e vulneráveis.
Assim como o fio vermelho nas cordas da Marinha britânica assegurava a integridade de seus recursos, o “red thread” que une a laicidade colaborativa, a autonomia das organizações religiosas, a liberdade de expressão e o sistema de direitos humanos mantém a liberdade religiosa no Brasil intacta e forte.
Cada um desses fios é vital e interdependente; a perda ou negligência de qualquer um deles pode comprometer toda a estrutura. Portanto, se você valoriza a liberdade religiosa, é essencial que compreenda e proteja cada um desses aspectos, pois juntos eles formam a base sólida que sustenta nosso direito à crença e à expressão religiosa em todas as esferas da vida.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos