No “Dossiê 2022 – Para qual o lado o Brasil vai”, emitimos nossa opinião sobre alguns temas e, entre eles, o apoio político dos evangélicos. Nas eleições presidenciais de 2018 ele foi fundamental e decidiu a eleição. Será que este apoio será tão representativo em 2022 quanto foi em 2018?
Vamos logo emendando um sim.Estamos falando de mais de 50 milhões de brasileiros, por baixo. Se o fenômeno da unidade (que não é comum entre evangélicos, diga-se de passagem) se repetir, a eleição pode estar decidida pelo candidato que cair nas graças dos evangélicos.
Por falar em unidade, é importante entendermos quem são os evangélicos brasileiros. Vamos nos atrever em uma tentativa de resposta. Enquanto do outro lado da praça, os católicos romanos se orientam pela velha máxima agostiniana Roma locuta causa finita est, os protestantes se orientam pelo exato inverso desta sentença; poderia ser algo do tipo “Se Wittemberg disse tal coisa, Genebra dirá outra e Londres, nem te conto!”
O evangélico só votará em uma terceira via se estiver desempregado e de barriga vazia
Os evangélicos nascem da Reforma Protestante, a partir das 95 teses de Martinho Lutero pregadas na porta da Igreja do Castelo de Wittemberg, em 31 de outubro de 1517, e a partir daí se multiplicam e, sempre, dividindo-se. Não pretendo aqui trazer todas as divisões clássicas do protestantismo; contudo, para fins da nossa reflexão, podemos fazer a seguinte divisão em segmentos: igrejas históricas, aquelas direta ou indiretamente ligadas à Reforma e que seguem seus princípios, contam mais ou menos 5 milhões de membros no Brasil e são formadas pelos luteranos, reformados calvinistas (presbiterianos entram aqui), batistas tradicionais, congregacionais, metodistas e anglicanos. Igrejas pentecostais são o resultado de missões norte-americanas e suecas no início do século 20, somam mais ou menos 40 milhões de fiéis, formadas pela Assembleia de Deus e suas dissensões, Congregação Cristã, O Brasil para Cristo, Quadrangular, Maranata e Deus é Amor. Por fim, as igrejas neopentecostais e apostólicas, com aproximadamente 8 milhões de fiéis e crescendo, formada pelas igrejas Universal, da Graça, Mundial, Plenitude, Sara Nossa Terra e Bola de Neve, entre outras. Ainda existe um pequeno grupo que segue a Teologia da Missão Integral, oriunda da Teologia da Libertação católica; este grupo tem um viés bem forte de esquerda e já estava contra Bolsonaro em 2018.
Olhando para estes três grandes segmentos, percebemos que o apoio ao presidente Bolsonaro sofreu algumas ranhuras dentro das igrejas históricas, especialmente na linha dos reformados calvinistas – digamos que uma pequena parcela deste grupo, desiludida com a saída de Moro do governo e, principalmente, com a gestão da pandemia, vacina e tratamento precoce. Entre os metodistas e uma parte dos luteranos, especialmente os da IECLB, parece-nos que existe um movimento de desembarque também. Alguns já faziam parte daquele pequeno grupo de esquerda de que falamos antes; outros estão descontentes pelos mesmos motivos que destacamos acima. Se fôssemos colocar em números, uns 10% dos históricos não devem consignar seu apoio a Bolsonaro em 2022. Quanto aos pentecostais, neopentecostais e apostólicos o apoio está intacto. Foi o que percebemos em algumas “incursões” recentes.
É possível a perda deste apoio? Outro sonoro sim, é possível. A manutenção do apoio passa por três fatores, em nosso sentimento, pelo menos.
Do menos importante ao mais importante: a embaixada brasileira em Jerusalém é uma ação simbólica que agradaria muito os neopentecostais, especialmente por terem em sua teologia diversos elementos judaizantes. Depois vem o ministro do STF: se Bolsonaro não cumprir a promessa do “terrivelmente evangélico”, desagradará todos os segmentos evangélicos e até mesmo católicos mais conservadores. A pauta de costumes é a principal pauta do STF hoje em dia e temas caros aos evangélicos como aborto, ideologia de gênero, homeschooling, ensino religioso, combate à corrupção e tantos outros pipocam na suprema corte como nunca. Por fim, a vacinação e a economia, ao nosso ver, são o fator maior importante.
Se o governo Bolsonaro não acelerar a vacinação, para que todos os brasileiros sejam vacinados e, consequentemente, a economia seja aberta e incrementada até o início do ano que vem, o desemprego baterá recordes, e com estes recordes virá a triste realidade da fome, isto em meio ao processo eleitoral. Não existe grana suficiente para um auxílio emergencial se tornar “auxílio perene”, que perdure até outubro do ano que vem.
Arriscamos dizer que é condição de eleição: se a economia não for ajustada até o meio do ano que vem, a terceira via ganha força. Por que a terceira via e não Lula? Aqui está a unidade. O evangélico deixou de lado suas diferenças e se uniu em prol de um projeto contra o PT e todos os partidos de esquerda “progressistas” e propagandistas do aborto, ideologia de gênero etc. Os evangélicos estão cansados das pautas “progressistas” e da forma como a esquerda governou o pais, isto é fato.
Resumindo: o evangélico (e a maioria dos brasileiros que hoje apoiam o governo) só votará em uma terceira via se estiver desempregado e de barriga vazia. A população precisa de emprego e comida e, se não tiver isto em 2022, Bolsonaro pagará a conta.
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