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É possível que você já tenha escutado alguém afirmando que “política é coisa do diabo”, coisa que não presta e que quem é de bem não deveria se meter com partidos, eleições etc. De fato, o cenário político brasileiro não aponta para um ambiente dos mais probos e honestos. As notícias costumam ser sobre superfaturamentos, alianças espúrias, ex-governantes presos por corrupção, perseguição do establishment a quem combate a corrupção. Além disso, cada vez mais “Deus sobe palanques” e passa a fazer parte de slogans e adágios políticos. O voto evangélico, por exemplo, é extremamente cobiçado por políticos e legendas partidárias.
Frente a isso, oferecemos à sociedade o livro Política é coisa do diabo? – a relevância da política na Bíblia e na vida do cristão, uma reflexão sobre a correta distinção de Igreja e Estado e o papel do cristão na vida pública a partir da vocação cristã pela fé que todos recebem no Santo Batismo.
O objetivo do livro não é emitir juízo de valor sobre onde Deus deve ou não estar em campanhas políticas e partidárias, nem ser um manual de conduta político-partidária ou mesmo de como os cristãos devem ou não se portar. São Paulo diz aos gálatas que foi para nos dar liberdade que Cristo morreu e ressuscitou.
O que a Bíblia fala sobre política? O que ela sugere a respeito da participação do cristão na esfera pública?
Outrossim, queremos dialogar e debater o papel do cristão na política. Para muitos, ela é “coisa do diabo”. Para outros, é meio de sobrevivência. Para outros tantos, é impossível separar a vida em igreja da vida partidária. O que a Bíblia fala sobre política? O que ela sugere a respeito da participação do cristão na esfera pública? O que os pais na fé, como Martinho Lutero, têm a contribuir com o assunto?
Para tanto, fazemos um resgate dos primórdios da organização pública ou política mencionada no texto bíblico. Moisés já sofrera tentando resolver os problemas do povo no deserto após a saída miraculosa do Egito. Seu sogro Jetro aconselhou que ele criasse uma hierarquia mínima com instâncias capazes de acelerar o processo de julgamentos e atendimento das demandas que o povo recém-liberto da escravidão tinha. E eram milhões de pessoas!
Aliás, é uma tentação muito grande para as igrejas contemporâneas querer transformar o Brasil em um “novo Israel”, transferindo às nossas autoridades papéis divinos que a monarquia de Israel tinha. Em verdade, Jesus Cristo é o “novo Israel”, aquele que cumpre cabal e perfeitamente a vontade do Pai. No que o povo de Israel desobedeceu e pecou, Cristo foi fiel até a morte – e morte de cruz!
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Com a experiência que Marcel van Hattem tem na vida pública – exerce seu terceiro mandato conferido pelas urnas –, conseguimos dialogar com o leitor e leva-lo à reflexão sobre como o cristão pode – e deve! – participar da vida pública, da Política, essa com P maiúsculo, a que cuida da polis, da res publica, a coisa pública. Marcel atesta de camarote os desafios e as bênção que um cristão pode ser na vida pública, servindo a Deus e ao próximo através de uma vocação pública na política partidária.
Martinho Lutero, o reformador protestante, deparou-se com diversos dilemas quanto à distinção entre Igreja e Estado, bem como sobre as vocações cristãs. Em seu tempo, Igreja e Imprério eram “unha e carne” e, via de regra, uma relação corrupta. A Igreja chegou a nomear um cardeal com apenas 9 anos, na região de Portugal, apenas para contemplar interesses políticos. Além disso, a vida monástica era vista como superior, mais próxima de Deus. Não encontrando respaldo bíblico para essa tese, Lutero refuta-a, dizendo que todo aquele que serve o próximo em sua vocação cumpre a vontade de Deus e é bênção a seu semelhante. A teologia luterana é disruptiva no século 16 em propor que a vocação e o serviço “terrenos” agradavam tanto a Deus quanto a vocação e o serviço “espirituais”.
“Você quer virar ladrão?” é uma das perguntas mais típicas que um pai ou mãe fazem a seu filho ou filha que tenciona entrar para a política partidária. Mas nossa tese nesse livro é a de que justamente com mais cristãos participando da vida pública, tanto mais a honestidade e o serviço ao próximo – tão peculiares ao cristianismo e defendidos amplamente pelo próprio Jesus nos Evangelhos – irão grassar na sociedade civil e organizada. Como defendem os especialistas em Direito Religioso Jean Regina e Thiago Vieira, a laicidade brasileira é colaborativa, ou seja, igreja e Estado podem caminhar juntas, de mãos dadas, em prol do bem comum. Afinal, a liberdade religiosa é a mãe de todas as liberdades. Se alguém pode confessar no que crê, poderá também expressar qualquer outra opinião e pensamento.
Com mais cristãos participando da vida pública, tanto mais a honestidade e o serviço ao próximo irão grassar na sociedade civil e organizada
Por fim, o leitor é brindado com dois excelentes textos dos professores Franklin Ferreira – colunista da Gazeta do Povo – e Fernando Schüler, os quais provêm ótimos insumos introdutórios para o debate sobre o tema.
Neste Sábado de Aleluia, às 16 horas, estaremos em Curitiba lançando nosso livro e queremos convidar você, leitor, para estar lá conosco. Haverá um momento de bate-papo entre os autores e audiência, seguida por uma sessão de autógrafos. Servir na igreja e na vida pública são, ambos, culto a Deus. E, como diz São Paulo na sua segunda carta aos Coríntios 15,58 “no Senhor, o trabalho nunca é em vão”.
Marcel van Hattem é deputado federal (Novo-RS), bacharel em Relações Internacionais com especialização em Direito, Economia e Democracia Constitucional, e mestre em Ciência Política e em Jornalismo, Mídia e Globalização. Tiago Albrecht, bacharel e mestrando em Teologia, é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e comentarista de rádio e televisão.